Últimas

Aberturas de capital voltam a animar o mercado nos EUA


Por Telis Demos e Matt Jarzemsky | The Wall Street Journal

As empresas dos Estados Unidos estão a caminho de captar o maior montante com ofertas iniciais de ações desde o período que antecedeu a crise financeira, graças à mesma sede de risco entre investidores que tem levado as bolsas para novos recordes.

Só este ano, 64 empresas captaram US$ 16,8 bilhões com aberturas de capital nos EUA, em comparação com US$ 13,1 bilhões no mesmo período de 2012, segundo a provedora de dados Dealogic. Só na semana passada, foram 11 ofertas iniciais de ações nas bolsas americanas, o que fez dela a semana com mais aberturas de capital desde dezembro de 2007.

Um mercado de aberturas de capital robusto é considerado benéfico para a economia, pois permite que empresas obtenham recursos que podem ser usados para reduzir dívidas ou investir nos negócios. Quem vende ações, como as firmas de private equity ou de capital de risco, pode devolver dinheiro aos investidores, como fundos de pensão, e também investir em novas empresas.

Por trás da recuperação deste ano há um arrefecimento nas oscilações abruptas que foram uma característica predominante no mercado acionário desde a crise financeira, segundo investidores, empresas e executivos de bancos. Em vez disso, as ações vêm subindo de maneira gradual, porém constante. E agora que os mercados alcançam novos picos recorde, os investidores estão tentando a sorte em ações de empresas que acabam de abrir o capital, ainda não testadas.

"Creio que estamos vendo uma fase muito boa e estável", disse Jim O'Donnell, diretor de investimentos da Forward Management, de San Francisco, na Califórnia, que administra US$ 6,8 bilhões em ativos e vem comprando ações de fundos imobiliários e firmas de tecnologia estreantes no mercado.

Uma volta da volatilidade nas bolsas poderia fechar rapidamente as portas para as aberturas de capital, assim como uma crise ou um evento inesperado. Em 2011, um rebaixamento da classificação de crédito dos EUA e a crise financeira europeia fecharam o mercado de ofertas iniciais de ações por algum tempo, e durante um período no ano passado a fracassada estreia nas bolsas da Facebook Inc. teve um efeito semelhante. Uma parcela significativa dos recentes ganhos nas bolsas se deve ao fato de que no atual ambiente de juro baixo, muitos investidores veem poucas alternativas além das ações.

"Ainda não chegamos ao ponto [como no passado], em que qualquer pessoa podia preencher um formulário e lançar uma oferta inicial de ações", diz Richard Truesdell, um dos diretores do grupo de mercados globais de capital do escritório de advocacia Davis Polk & Wardwell LLP.

De modo geral, as aberturas de capital, considerando diversos segmentos, tiveram bom desempenho, especialmente os negócios de maior vulto. As ações das 25 empresas que fizeram as maiores aberturas de capital deste ano subiram em média 22%, segundo a Dealogic, em comparação com um ganho de 15% para as 500 empresas do índice Standard & Poor's desde o início do ano. A ação da fabricante de materiais de construção Boise Cascade Co., por exemplo, subiu 43% desde a estreia no início do ano, e a da Zoetis Inc., fabricante de remédios e vacinas para animais, 28%.

Em abril, a operadora de parques temáticos SeaWorld Entertainment Inc. e sua proprietária, a Blackstone Group LP, arrecadaram US$ 807 milhões em uma oferta inicial em que a ação ficou no ponto mais alto da faixa de preços projetada. Foram vendidas mais ações do que previa o plano original. Mesmo assim, o papel saltou 24% no primeiro dia de negociação e agora está 30% acima do preço de estreia.

Para alguns investidores e empresas, essa maré alta pode ser o início de um círculo virtuoso: à medida que mais ofertas encontram compradores interessados, o sucesso estimula outras empresas a abrir o capital.

"Sucesso gera sucesso", diz Joe Reece, diretor global de mercados de capital do Credit Suisse Group AG. "Muitas ações estreantes tiveram um preço adequado e foram muito negociadas depois do pregão, dando aos investidores uma oportunidade de ganhar dinheiro." Isso, por sua vez, "lhes permite assumir um pouco mais de riscos no futuro", acrescenta.

Muitos dos bons negócios deste ano vieram de empresas que prometem altos dividendos em relação ao seu faturamento e ao preço da sua ação. É uma proposta atraente em um ambiente de juro baixo.

O rendimento médio das ações do índice S&P 500 é de 2%, de acordo com a FactSet, em comparação com 1,9% para os títulos de dívida de dez anos do Tesouro americano.

Consultores de empresas dizem que não esperam um retorno ao frenético mercado de aberturas de capital do fim dos anos 90, quando houve, em certos anos, mais de 400 empresas saindo às bolsas. Mesmo assim, 2013 tem se mostrado um dos anos mais estáveis desde a crise financeira. "Este é o mercado mais movimentado dos últimos dez anos", diz Hank Erbe, um dos diretores da Fidelity Capital Markets.

A maior diferença deste ano, segundo participantes do mercado, é que os investidores estão voltando a aplicar mais dinheiro nas bolsas. Os fundos de ações de longo prazo baseados nos EUA captaram cerca de US$ 73 bilhões em dinheiro novo até o fim de abril, o maior ingresso nesse período do ano desde 2007, segundo dados do Investment Company Institute.

Se um investidor tivesse comprado ações em todas as ofertas iniciais que captaram mais de US$ 25 milhões em 2013, teria ganho 15% até agora, segundo a Dealogic. E obteria igual resultado de 15% se tivesse comprado só ações do índice Russell 3000, que inclui empresas com valor de mercado alto e baixo, desde o início do ano.

No entanto, alguns veem motivos de preocupação.

Muitos investidores se decepcionaram no passado quando as ações de várias empresas estreantes nas bolsas caíram quando estas não cumpriram as expectativas de crescimento. Além disso, muitas firmas já se queixaram de que a vida como empresa de capital aberto se revelou mais difícil e mais onerosa do que esperavam, devido ao fraco movimento nas bolsas e às exigências regulatórias.

Ao fixar preços iniciais mais altos, as empresas também podem limitar os potenciais ganhos que investidores de aberturas de capital podem colher quando a ação começa a ser negociada. "Estamos vendo menos oportunidades para os investidores em aberturas de capital obterem grandes retornos ajustados ao risco", diz James Krapfel, analista da Morningstar IPO Inc.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Nenhum comentário