O passado, o presente e o futuro da IoT na segurança física
Por Martin Gren - Cofundador da Axis Communications, é
um empreendedor e o inventor da primeira câmera de rede.
Quando a Axis Communications lançou a
primeira câmera de protocolo de internet (IP) depois dos Jogos Olímpicos de
1996 em Atlanta, houve uma confusão inicial. Câmeras conectadas não eram algo
que o mercado pedia, e muitos especialistas questionaram se elas eram mesmo
necessárias.
Hoje, claro, as câmeras analógicas
tradicionais foram quase totalmente eliminadas, já que as organizações
reconheceram as vantagens incríveis que os dispositivos da IoT podem oferecer,
mas essa tecnologia parecia um risco enorme nos dias iniciais.
Dizer que as coisas mudaram desde então
é uma simplificação drástica. O crescimento da Internet das Coisas (IoT)
representa uma das maneiras em que a segurança física evoluiu. Dispositivos
conectados se tornaram o padrão, criando possibilidades novas que vão muito
além da gravação de vídeo. A melhoria e aceitação mais generalizada das câmeras
IP, ajudaram a gerar mais avanços, como análises melhoradas, maior poder de
processamento e o crescimento da tecnologia de arquitetura aberta. No 25º
aniversário do lançamento inicial das câmeras IP, vale a pena refletir sobre o
quanto o setor avançou e para onde ele deve ir a partir de agora.
Melhorias tecnológicas anunciam a
ascensão das câmeras IP
Comparar as câmeras IP de hoje com as
disponíveis em 1996 é quase risível. Embora elas tenham sido realmente
inovadoras na época, aquelas câmeras iniciais podiam gravar apenas um quadro a
cada 17 segundos — uma grande mudança em comparação com as câmeras atuais.
Mas, apesar dessa desvantagem, aqueles
na vanguarda da segurança física entenderam a inovação monumental que as câmeras
IP podiam representar. Afinal, criar uma rede de câmeras ofereceria um
monitoramento remoto mais eficaz, e se a tecnologia pudesse ser escalonada,
isso permitiria a implantação de sistemas muito maiores, unindo grupos
diferentes de câmeras. As aplicações iniciais podiam incluir campos de extração
de petróleo, faixas de pouso de aeroportos ou torres de celular remotas. Melhor
ainda, a tecnologia tinha potencial para criar um mundo de possibilidades de
análise totalmente novo.
Claro, era preciso criar chips melhores
para tornar esse potencial infinito uma realidade. Inovadoras ou não, a taxa de
quadros limitada das primeiras câmeras nunca seria eficaz o bastante para
incentivar a adoção geral em aplicações de vigilância tradicionais. Resolver
esse problema exigia um investimento significativo de recursos, mas não demorou
muito até que esses chips melhorados pudessem levar as câmeras IP de um quadro
a cada 17 segundos para 30 quadros por segundo. A taxa de quadros ruim não
podia mais ser usada como justificativa para ignorar as câmeras IP em favor das
suas primas analógicas, e os desenvolvedores puderam explorar o potencial de
análise dos dispositivos.
Talvez o salto tecnológico mais
importante tenha sido a inclusão do Linux, que tornou as câmeras IP mais práticas
do ponto de vista de um desenvolvedor. Durante os anos 90, a maior parte dos
dispositivos usava sistemas operacionais proprietários, o que dificultava o
desenvolvimento.
Mesmo dentro das empresas, sistemas
proprietários significavam que os desenvolvedores precisavam de treinamento em
uma tecnologia específica, o que custava tempo e dinheiro à empresa. O setor
teve algumas tentativas de padronização, como o sistema operacional Wind River,
mas, no fim, todas falharam. Os sistemas eram muito pequenos, com recursos
limitados, e já existia uma solução melhor: o Linux.
O Linux oferecia uma grande variedade de
benefícios, incluindo a capacidade de colaborar com outros desenvolvedores na
comunidade de código aberto. Essa era uma estrada de mão dupla. Como a maioria
das câmeras IP não tinha espaço suficiente no disco rígido para executar o
Linux, um hardware conhecido como JFFS foi desenvolvido para permitir que um
dispositivo usasse um chip de memória Flash como disco rígido. Essa tecnologia
foi apresentada à comunidade de código aberto e, embora esteja na terceira
iteração, ela ainda é muito usada até hoje.
A tecnologia de compressão representava
um desafio semelhante, já que os modelos de compressão de dados mais conhecidos
no final dos anos 90 e começo dos anos 2000 não eram adequados para vídeo. Na
época, o armazenamento de vídeo significava armazenar quadros individuais, um a
um — um pesadelo de armazenamento. Felizmente, o formato de compressão H.264,
projetado especificamente para vídeo, se tornou muito mais comum em 2009.
No final desse ano, mais de 90% das
câmeras IP e a maior parte dos sistemas de gerenciamento de vídeo usavam o
formato de compressão H.264. É importante observar que as melhorias nos
recursos de compressão também permitiram que os fabricantes melhorassem a
resolução do vídeo. Antes do novo formato de compressão, a resolução não havia
sido alterada desde os anos 60, com a tecnologia NTSC/PAL. Hoje, a maior parte
das câmeras pode gravar em alta definição (HD).
1996: A primeira câmera IP é lançada.
2001: Lançamento da
análise em dispositivos de borda com detecção de movimentos no vídeo.
2006: Disponibilização da
primeira análise em dispositivos de borda para download.
2009: Full HD se torna a
resolução de vídeo padrão, a compressão H.264 ganha aceitação.
2015: A compressão
inteligente revoluciona o armazenamento de vídeo.
O crescimento da análise
A análise não é exatamente uma
tecnologia “nova” — os clientes precisavam de vários recursos de análise mesmo
nos primeiros dias da câmera IP —, mas é uma tecnologia que viu melhorias
drásticas. Embora possa parecer estranho para os altos padrões de hoje, a
detecção de movimento no vídeo foi uma das primeiras análises integradas das
câmeras IP.
Os clientes precisavam de uma maneira de
detectar movimento dentro de certos parâmetros para evitar o acionamento de um
alarme falso quando uma árvore balançava com o vento ou um esquilo corria pelo
local. O refinamento desse tipo de tecnologia de detecção e reconhecimento
ajudou a automatizar muitos aspectos da segurança física, acionando alertas
quando uma possível atividade suspeita era detectada e garantindo que os
usuários fossem alertados. Ao remover a falha humana da equação, as análises
transformaram a vigilância por vídeo de uma ferramenta reativa para uma
proativa.
A detecção de movimento confiável
continua sendo uma das análises mais usadas, e embora nunca seja possível
eliminar completamente os alarmes falsos, as melhorias modernas fizeram dessa
tecnologia uma maneira confiável de detectar possíveis invasores. A detecção de
objetos também está ganhando mais popularidade e é cada vez mais capaz de
classificar veículos, pessoas, animais e outros objetos.
O reconhecimento de placas de carros é
popular em muitos países (apesar de não ser tão popular nos Estados Unidos) não
só para identificar os veículos envolvidos em atividades criminosas, mas também
para usos simples como reconhecimento de veículos estacionados. É fácil um
humano perder ou não reparar em detalhes como o modelo ou a placa de um carro,
ou a cor da camiseta de alguém, mas graças à análise moderna esses dados são
catalogados e armazenados para facilitar a consulta. O advento de tecnologias
como o aprendizado profundo, que inclui melhor reconhecimento de padrões e
classificação de objetos por meio de rotulagem e categorização avançadas,
gerará ainda mais avanços na área das análises.
A ascensão das análises também ajuda a
destacar por que o setor de segurança abraçou a tecnologia de arquitetura
aberta. De maneira simples, é impossível para um fabricante ficar atualizado
com todas as aplicações que os clientes podem precisar. Usando a tecnologia de
arquitetura aberta, é possível permitir que esses clientes busquem as soluções
certas para cada caso, sem a necessidade de adequar o dispositivo especificamente
para certos casos de uso. Hospitais podem querer adicionar análise de áudio
para detectar sinais de pacientes com dor, lojas podem querer focar na contagem
de pessoas ou na detecção de roubos, estações policiais podem querer focar na
detecção de disparos — e todas essas aplicações podem usar o mesmo modelo do
dispositivo.
Também é importante observar que a
pandemia da COVID-19 criou usos novos e interessantes tanto para dispositivos
de segurança física quanto para as análises — embora algumas aplicações como
usar câmeras térmicas para medir a febre tenham sido difíceis de implementar
com um bom nível de precisão. No setor de saúde, o uso de câmeras aumentou
significativamente, e é improvável que isso mude. Os hospitais perceberam o
benefício de ter câmeras no quarto dos pacientes, com a tecnologia de vídeo e
intercomunicações permitindo que os profissionais de saúde monitorem e se
comuniquem com os pacientes mantendo um ambiente seguro.
Mesmo análises simples como a detecção
de objetos que cruzam linhas virtuais podem alertar se um paciente com risco de
queda sai de uma área designada, potencialmente reduzindo os acidentes e os
riscos em geral. O fato de análises como essa gerarem apenas uma nota de rodapé
hoje mostra o grande avanço da segurança física desde os primeiros dias da
câmera IP.
Olhando para o futuro da segurança
Dito isso, examinar as tendências de
hoje pode oferecer um vislumbre do que o futuro pode guardar para o setor de
segurança. Por exemplo, a resolução do vídeo certamente continuará melhorando.
Há 10 anos, a resolução padrão da
vigilância por vídeo era de 720p (1 megapixel), e 10 anos antes o padrão era a
resolução NTSC/PAL analógica de 572×488, ou 0,3 megapixels. Hoje, a resolução
padrão é de 1080p (2 megapixels), e uma aplicação da Lei de Moore indica
que, daqui a 10 anos, o padrão será 4K (8 megapixels).
Como sempre, a quantidade de
armazenamento que o vídeo de alta resolução gera é o fator limitante, e o
desenvolvimento de tecnologias de armazenamento inteligente como o Zipstream
ajudou muito nos últimos anos. Provavelmente veremos mais melhorias no armazenamento
inteligente e na compressão de vídeo que ajudarão a tornar o uso de vídeo de
maior resolução uma realidade.
A cibersegurança também será uma
preocupação crescente para fabricantes e usuários finais.
Recentemente, um dos maiores varejistas
da Suécia ficou fechado por uma semana por causa de um ataque de hackers,
e outros terão o mesmo destino se continuarem usando serviços sem proteção.
Qualquer software pode conter um bug, mas apenas desenvolvedores e fabricantes
comprometidos em identificar e corrigir essas possíveis vulnerabilidades podem
ser considerados parceiros confiáveis. Governos do mundo inteiro provavelmente
criarão novas regulamentações para a melhoria da cibersegurança, e a recente
lei de proteção à IoT da Califórnia serve de indicador do que o setor pode
esperar.
Por fim, o comportamento ético
continuará a ter cada vez mais importância. Um número crescente de empresas
começou a destacar suas políticas de ética, publicando diretrizes de como
esperam que tecnologias como o reconhecimento facial sejam usadas — e não
abusadas.
Embora haja novas regulamentações vindo,
é importante lembrar que as regulamentações chegam sempre com atraso e que as
empresas que querem ter uma reputação positiva precisarão aderir às próprias
diretrizes éticas. Cada vez mais consumidores listam considerações éticas como
uma das suas maiores preocupações — especialmente com a pandemia da COVID-19 —,
e as empresas de hoje precisarão considerar como advogar e praticar um uso
responsável dos produtos.
A mudança está sempre ali na esquina
A segurança física evoluiu muito desde a
criação da câmera IP, mas é importante lembrar que essas mudanças, embora
significativas, foram realizadas em um período de mais de duas décadas. Mudar
exige tempo, muitas vezes mais que você pensa. Ainda assim, é impossível
comparar onde o setor está hoje e onde ele estava há 25 anos sem se
impressionar. A tecnologia evoluiu, as necessidades dos usuários finais
mudaram, e nomes importantes do setor surgiram e desapareceram de acordo com
sua capacidade de se adaptar aos novos tempos.
A mudança é inevitável, mas uma
observação cuidadosa das tendências de hoje e de como elas se encaixam nas
necessidades de segurança em constante evolução pode ajudar os desenvolvedores
e fabricantes de dispositivos de hoje a se prepararem para o futuro. A pandemia
destacou o fato de que os dispositivos de segurança atuais podem fornecer mais
valor de maneiras que ninguém teria previsto há apenas alguns anos, destacando
ainda mais a importância de uma comunicação aberta, um suporte confiável ao
consumidor e um comportamento ético.
Conforme avançamos em direção ao futuro,
as organizações que continuarem a priorizar esses valores importantes estarão
entre as mais bem-sucedidas.
Conheça a história da Axis: https://bit.ly/3nlBoUQ
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