Taxas de CDBs de longo prazo superam retornos de LCIs e LCAs, mas risco do emissor aumenta, mostra levantamento
A perspectiva de que o Banco Central possa encerrar o ciclo de alta dos juros básicos – a Selic, hoje em 11,75% ao ano – em breve pressionou o retorno de títulos de renda fixa para baixo nos últimos dias. O comunicado e a ata divulgados após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, dão a entender que a taxa pode parar de subir quando chegar aos 12,75% ao ano, no encontro de maio.
Alguns papéis foram mais afetados do que outros. Considerando prazos superiores a 36 meses, as taxas máximas dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) mudaram menos, e estão mais atrativas do que as encontradas nas Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliário (LCIs) – mesmo excluindo o peso do Imposto de Renda, que é cobrado nos CDBs, mas não nas letras.
Para vencimentos inferiores, a situação era oposta: o retorno oferecido nas LCAs e LCIs tendia a ser maior do que a remuneração líquida entregue pelos CDBs.
Os dados foram levantados pelo InfoMoney com base nas informações disponíveis na plataforma da Yubb, que compila informações de várias corretoras, nesta quarta-feira (23).
CDBs – retorno bruto | |||
Prazo | Indexador | Taxa máxima | Emissor |
12 meses | Prefixado | 14,00% | PagBank |
12 meses | CDI | 115% do CDI | Banco Bari |
12 meses | IPCA | 5,75% | Banco ABC Brasil |
24 meses | Prefixado | 14,00% | Banco Master |
24 meses | CDI | 118% do CDI | Banco Bari |
24 meses | IPCA | 6,44% | Daycoval |
36 meses | Prefixado | 14,00% | Banco Master |
36 meses | CDI | 120% do CDI | Banco Bari |
36 meses | IPCA | 6,10% | Banco Master |
48 meses | Prefixado | 14,15% | Banco Master |
48 meses | CDI | 120% do CDI | Pernambucanas |
48 meses | IPCA | 6,25% | Daycoval |
60 meses | Prefixado | 14,15% | Banco Master |
60 meses | CDI | 118% do CDI | Banco Master e Caruana Financeira |
60 meses | IPCA | 6,72% | Banco Master |
Fonte: Yubb. Dados do dia 23/03/2022
De acordo com a pesquisa, a taxa máxima oferecida por um CDB prefixado com prazo de 36 meses era de 14% ao ano. Ao mesmo tempo, o juro real máximo entregue por uma LCA para o mesmo prazo era de 11,23% ao ano.
Excluindo a tributação de 15% aplicada ao CDB com esse prazo, seu rendimento líquido seria de 11,9% – ou seja, seria mais vantajoso adquirir o CDB e não a LCA. Tanto LCAs quanto LCIs são isentas de Imposto de Renda.
LCAs e LCIs – Retornos líquidos | ||||
Prazo | Indexador | Taxa máxima | Emissor | Tipo do título |
12 meses | Prefixado | 12,63% | Banco ABC Brasil | LCA |
12 meses | CDI | 98,05% | Banco ABC Brasil | LCA |
12 meses | CDI | 98% | Banco Bari | LCI |
12 meses | IPCA | 4,68% | Banco ABC Brasil | LCA |
24 meses | Prefixado | 12,56% | Banco ABC Brasil | LCA |
24 meses | CDI | 101,00% | Banco ABC Brasil | LCA |
24 meses | CDI | 100,00% | Banco Bari e Banco Inter | LCI |
24 meses | IPCA | 5,19% | Banco ABC Brasil | LCA |
36 meses | Prefixado | 11,23% | Banco BTG Pactual | LCA |
36 meses | CDI | 99% | Banco BTG Pactual | LCA |
36 meses | CDI | 102% | Banco Bari | LCI |
36 meses | IPCA | 4,90% | Banco Bari | LCI |
36 meses | IPCA | 4,32% | Banco BTG Pactual | LCA |
48 meses | Prefixado | 11,10% | Banco BTG Pactual | LCA |
48 meses | CDI | 101% | Banco Bari | LCI |
48 meses | CDI | 98,63% | Banco BTG Pactual | LCA |
48 meses | IPCA | 4,18% | Banco BTG Pactual | LCA |
48 meses | IPCA | 5% | Banco Bari | LCI |
60 meses | Prefixado | 10,99% | Banco BTG Pactual | LCA |
60 meses | CDI | 98,63% | Banco BTG Pactual | LCA |
60 meses | IPCA | 4,38% | Banco BTG Pactual | LCA |
Fonte: Yubb. Dados do dia 23/03/2022
Outro ponto também chama a atenção no levantamento: a classificação de risco de crédito dos emissores. No caso do CDB do exemplo acima, o banco emissor é o Master, enquanto no caso da LCA, a instituição que emitiu o papel é o Banco BTG Pactual.
De acordo com a agência de classificação de risco Fitch Ratings, o rating de escala nacional de longo prazo do banco Master era BBB-. Por outro lado, o rating dado pela mesma agência para o Banco BTG Pactual era AA, que é melhor do que a primeira opção.
A situação se repetia para prazos mais longos. Hoje pela manhã, a taxa máxima paga por um CDB pós-fixado, com vencimento em 48 meses, era de 120% do CDI. Nesse caso, a instituição emissora era a Pernambucanas Financeira, que não possui avaliação de risco de crédito feita por agências.
Ao mesmo tempo, era possível encontrar LCAs do BTG Pactual, de mesmo prazo, e que ofereciam 98,63% do CDI. Nesse caso, o retorno oferecido pelo CDB era mais atraente, mas a instituição emissora apresentava maior risco de crédito.
Nota-se também que boa parte das emissões mais alongadas eram feitas por instituições, como Pernambucanas Financeira, Caruana Financeira, Banco Bari e Daycoval. A exceção entre os bancos mais bem classificados era apenas o Banco Daycoval, que possui rating AA, segundo a Fitch Ratings, em termos de classificação nacional de longo prazo.
Já nas emissões de LCAs e LCIs, a maior parte das ofertas vinha de instituições com melhor rating, como era o caso de ABC Brasil e BTG Pactual, sendo que o primeiro possui rating AAA em escala nacional, segundo a Fitch Ratings.
Recomendação é de pós-fixados e prazos curtos
Em meio a uma série de ofertas e de prazos, o investidor pode se questionar qual é a melhor opção. Na hora de escolher o tipo de indexador, Pedro Correa, head de alocação e produtos e sócio da HCI Invest, diz que o investidor deve fazer um mix entre prefixados e pós-fixados atrelados ao CDI, sendo que a segunda deve ser a parcela mais relevante da carteira.
O sócio explica que, embora o BC tenha indicado que pode encerrar o ciclo de alta da Selic em maio, o mercado está precificando novas elevações até meados de junho e um recuo na Selic em 2023. De acordo com o último Relatório Focus, a expectativa é que os juros caiam para 9% no fim do ano que vem.
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Logo, títulos pós-fixados poderiam se beneficiar nesse cenário de juros mais elevados por um tempo maior. Em contrapartida, a expectativa de queda dos juros no ano que vem também pode favorecer opções prefixadas.
“Considerando a alocação da posição prefixada, o ideal seria que os prefixados respondessem por 20% da carteira e os 80% restantes deveriam ser de pós-fixados”, afirma.
O motivo, segundo Correa, é que os prefixados podem ficar com o retorno defasado, caso a Selic avance muito mais. “Fazer market timing [acertar a hora do mercado] é bem difícil. Então, ter 100% da alocação em prefixados não é uma boa porque o investidor pode perder dinheiro”, avalia o alocador.
Mas há quem prefira ser mais conservador e manter a posição apenas em CDBs pós-fixados. Marilia Fontes, sócia da Nord Research, defende que ainda é difícil prever o fim do ciclo de alta da Selic para se posicionar em prefixados, por exemplo.
“Os últimos dados vieram muito pressionados. Em vez de tentar prever quando será o fim o ciclo, eu prefiro manter a maior parte da alocação em pós-fixados atrelados à Selic ou ao CDI”, diz Marília.
Na visão da alocadora, há uma probabilidade maior de que o Banco Central tenha que subir os juros, já que a autoridade monetária está sendo consistentemente surpreendida com a inflação.
Além de preferir opções pós-fixadas, ela diz que está de olho apenas em papéis de prazo bastante curto, de até um ano. Segundo a especialista, o cenário atual é de muita instabilidade com a guerra, as eleições e o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
Nesse ambiente, diz Marília, o ideal é estar com uma posição mais líquida na carteira para realizar movimentos mais rápidos, se tudo piorar – ou se surgirem oportunidades.
Curva de juros está incerta
Helena Veronese, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, também prefere estar posicionada em títulos de prazo mais curto, diante da forte volatilidade.
Na avaliação da economista, há muitos fatores que devem impactar a curva de juros nos próximos dias. Ela conta que após a reunião do Copom, os juros recuaram e houve pouca mudança desde a ata divulgada ontem (22), mas que a semana será de agenda forte, em termos de indicadores vindos do Brasil e dos Estados Unidos.
Helena cita que o Banco Central deixou algumas lacunas em aberto na última ata, como o cenário alternativo para o petróleo, e que a autoridade monetária pode esclarecer melhor alguns pontos no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será apresentado nesta quinta-feira (24).
Da mesma forma, a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), na sexta-feira (25), também pode mudar a visão do Banco Central sobre a política monetária.
Outro fator que está em jogo é o aperto monetário nos Estados Unidos. Em declarações recentes, Jerome Powell, presidente do Fed, disse que a autoridade monetária está pronta para altas mais agressivas.
Segundo Helena, se o Federal Reserve (Fed), banco central americano, caminhar de fato para acelerar o aperto monetário, isso poderia ser um estímulo maior para que o Banco Central brasileiro não tivesse que subir os juros para além de 12,75% ao ano.
“Do lado externo, se o Fed aumentar o passo, é tudo o que o BC precisa para não ter de elevar tanto a Selic. O BC teria um espaço maior para encerrar o ciclo. Agora, do lado interno, ele teria que esperar ainda pelos dados locais para ver se é possível mesmo terminar”, afirma a economista.
Riscos
Além de olhar para o indexador e para as taxas que estão sendo pagas, antes de alocar em títulos de dívida bancária o investidor precisa conhecer bem o emissor do papel.
No levantamento feito pelo InfoMoney com os dados disponíveis na Yubb, é possível perceber que as taxas mais atrativas oferecidas para prazos acima de 12 meses eram de emissores com maior risco de crédito, como é o caso do Banco Master.
Marília, da Nord Research, lembra que o banco possui uma boa parte da carteira atrelada a dívidas judiciais ou precatórios, o que tende a aumentar o risco da operação. Não é à toa, diz Marília, que as taxas chegam a 14,15% ao ano para vencimentos mais alongados.
Da mesma forma, ela chama atenção para o Banco Bari, que registrou prejuízo em seu último balanço divulgado em setembro. Logo, em sua visão, as taxas mais elevadas oferecidas pelo banco não valem o risco que o investidor toma ao financiar a dívida de uma instituição que não obteve lucro.
A especialista da Nord lembra que os CDBs possuem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central na instituição. Mesmo assim, é preciso atenção.
Na avaliação da alocadora, o ideal é priorizar instituições com melhor classificação de risco de crédito e verificar quais que estão com a operação mais redonda.
Ao ser questionada sobre o fato de que há mais opções de LCIs e LCAs oferecendo retornos mais atrativos do que CDBs e com emissores com melhor classificação de risco de crédito, Marília é enfática: “Prefiro a LCA ou LCI. Prefiro isso a bancos de segunda linha, que estão oferecendo juros mais interessantes, mas que se olharmos, a diferença de taxas é pequena”.
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