Varejo híbrido, produtos sustentáveis e marcas com propósito: como a tecnologia está potencializando 3 novas demandas do consumidor
Por Carlos Capps, líder das indústrias de Varejo, Consumo, Saúde e Agricultura da IBM Consulting para América Latina
Todos nós, invariavelmente,
somos consumidores em algum momento dos nossos dias. Nos últimos dois anos, em
especial, a nossa relação com o consumo mudou radicalmente e a tecnologia foi a
protagonista desta transformação, que potencializou três novos pilares para o
cliente: o varejo híbrido, a sustentabilidade e o propósito das marcas.
Neste contexto, a abordagem omnichannel
se fortaleceu. O varejo híbrido deixou de ser uma especulação ou projeção
futura das empresas para se tornar realidade e fazer parte do dia a dia de
nossas compras. Os insumos tecnológicos, acelerados pela Inteligência
Artificial (IA) e nuvem híbrida, nos aproximaram das marcas e abriram mais de
um canal, por meio do qual nos comunicamos, somos atendidos e estabelecemos o
nosso relacionamento com as empresas. A loja está em todos os lugares: nas
redes sociais, sites, plataformas, aplicativos. Ela também continua existindo
fisicamente, muitas vezes como porta de entrada para esta experiência de
consumo múltipla, e se mantém muito relevante e presente.
Uma pesquisa recente
realizada pelo IBM Institute for Business Value (IBV)
em parceria com National Retail Federation (NRF) traz insights desta nova
realidade do varejo híbrido. A maioria (72%) dos 19 mil compradores
entrevistados afirmou que a loja física ainda é o principal local de compra. A
pesquisa demonstra ainda o crescimento
da preferência pelos canais híbridos, já que 27% dos
entrevistados disseram que preferem ter mais de uma opção ofertada pela marca
que procuram quando querem comprar algum produto. A este crescimento soma-se
também a compra contextual. Nela, o público realiza sua experiência em uma
ferramenta virtual, seja por meio de um QR Code, ou seja, no metaverso.
Outro pilar da atual
tendência de consumo é a sustentabilidade,
que passa por toda a discussão de ESG que estamos vivenciando. Não é apenas o
produto ou serviço que importa. O
cliente quer saber a origem, as condições de produção e de que maneira as
marcas oferecem contrapartidas para compensar a sociedade por impactos gerados
pelo processo produtivo. Neste cenário, a prática das empresas
deve ser condizente com seu discurso de sustentabilidade. Portanto, as
mercadorias e soluções oferecidas com esta característica exigem mais de toda a
cadeia, inclusive do setor tecnológico. Mesmo com valores acima da média, os
consumidores estão dispostos a pagar
40% a mais por produtos e serviços sustentáveis.
A tecnologia se insere de
diversos modos no consumo sustentável. Uma das formas é pela auditoria de toda
a cadeia produtiva das ações de sustentabilidade praticadas pelas empresas com
o uso de blockchain. Com a rastreabilidade de todas as etapas sem interferências
nos dados, a credibilidade de marca sustentável atinge outro patamar. O cliente
que aponta o smartphone para o código do produto afim de conferir onde, quando
e como ele foi produzido terá mais segurança da veracidade das informações
apresentadas e compreenderá que parte daquele custo a mais no produto final
também se deve a esta preocupação com a transparência e com a tecnologia
envolvida.
Além do varejo híbrido e da
sustentabilidade, os consumidores procuram marcas com propósito (purpose
driven brand). Não basta oferecer múltiplos canais de compra e práticas que têm
compromisso com a sociedade, o meio ambiente e a governança corporativa. Ainda
de acordo com o estudo de IBV que citei anteriormente, 44% dos consumidores
tomam decisões de compra com base nos propósitos das marcas. Boa parte das
corporações que mais se destacam no mercado atualmente está comprometida com
propósitos que resumem a sua essência, a despeito da sua finalidade comercial.
O consumidor não só compra seus produtos e contrata seus serviços, como também
se identifica com sua visão e valores, dentro de uma perspectiva humanista.
Neste quesito, a tecnologia também desempenha papel fundamental, uma vez que
facilita, com a aplicação da IA, a compreensão da linguagem para aprimorar a
qualidade do atendimento e se aproximar do público, oferecendo, cada vez mais,
características da comunicação humana e da essência que a marca quer difundir.
Já se foi o tempo em
que apenas consumíamos sem nos atentar à diversidade de canais, aos aspectos de
sustentabilidade e aos propósitos das companhias. Hoje, tudo o que compramos
agrega valores intangíveis que, impulsionados pela tecnologia, tornam a nossa
experiência de compra mais personalizada, única e engajada. Estes três pilares
sinalizam as mudanças que já vêm sendo observadas em nosso comportamento, mas
também demonstram missões a serem intensificadas pelas empresas para aplicar
soluções tecnológicas em benefício deste processo gradual de transformação na
forma como nos relacionamos com suas marcas.
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