Juridiquês: você não precisa disso
Advogada Gabriella Ibrahim*
Por muitos anos, o Direito,
assim como o universo jurídico, foi pensado apenas para os advogados e
profissionais que possuem conhecimento na área. Nunca foi uma área acessível
para os clientes e cidadãos que não possuem formação jurídica.
A relação entre advogados e
clientes sempre foi uma relação desequilibrada, em que o profissional do
Direito era o único possuidor do conhecimento jurídico, enquanto o cliente
ficava apenas de expectador.
Dessa forma, ao mesmo tempo que
a nossa Constituição prega o princípio do acesso à justiça, a cultura jurídica
afasta essa mesma justiça dos leigos, ou seja, de qualquer cidadão que não
possua formação jurídica.
A maior dificuldade do meio
jurídico sempre foi o seu distanciamento da realidade, o seu formalismo
exagerado e a linguagem rebuscada, o famoso juridiquês. Quem nunca se sentou à
mesa com mais de um advogado e pareceu estar ouvindo outro idioma? Ou pegou um
contrato para ler e teve certeza de que aquele documento foi feito para
prejudicar? Por exemplo, há pessoas que possuem medo de alugar o apartamento ou
a casa, pois não conseguem compreender o texto do contrato de locação.
O juridiquês só gera receio e
dúvidas. Mas há boas notícias. Um novo conceito jurídico tem ganhado força no
mercado: o Legal Design. É uma técnica que utiliza ferramentas e elementos de
Design, unidos ao Design Thinking para tornar documentos jurídicos mais
acessíveis e compreensíveis para o destinatário final daquele documento.
A proposta é colocar o
destinatário final do documento jurídico como foco de toda estratégia de
elaboração. Em âmbito contratual, podemos citar o exemplo de um contrato, que,
em regra, no dia a dia, é lido por pessoas comuns, que não são da área jurídica,
e que pode ser redigido utilizando uma linguagem simplificada e objetiva,
usando elementos de design (gráficos, tabelas, fluxogramas).
A ideia é trazer mais clareza.
A pessoa precisa entender o papel que está assinando desde a primeira
linha. O objetivo do Legal Design é tornar documentos jurídicos mais
acessíveis, compreensíveis e estratégicos, fazendo com que sejam mais
eficientes e que melhorem a experiência dos usuários finais. Portanto, que
possamos deixar de lado o juridiquês para sermos cada vez mais claros e
transparentes. Consumidores, clientes, magistrados e todos aqueles que têm
contato com o documento agradecem.
(*) Advogada contratualista, especialista em Legal Design, criadora da Formação Completa em Legal Design e Visual Law - Metodologia LDFD, pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho e pós-graduanda na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
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