O sucesso do cruzamento em gado de corte passa pela seleção
Gilberto R.O. Menezes e Roberto A.A. Torres Junior, pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS)
Para se chegar a orientações que possam ser repassadas com segurança ao criador é necessário, no mínimo, que seja feita uma análise que contemple sistema de produção a ser adotado, disponibilidade/acesso a insumos (fertilizantes, suplementos alimentares, genética, etc), mercado, qualificação da mão-de-obra disponível, ou seja, uma análise holística de toda a cadeia de produção. Todavia, infelizmente, é comum que a decisão pelo uso do cruzamento seja tomada com base em análises superficiais e sem embasamento técnico o que, frequentemente, leva ao insucesso, à ineficiência e, principalmente, a uma visão negativa sobre cruzamento.
Fato é que a adoção de cruzamento para produção de alimentos, seja na área vegetal ou animal, é antiga e tem sido usada intensamente em todo o mundo, destacando-se as cadeias da soja, do frango, do suíno e mesmo a do boi, com destaque para os Estados Unidos da América – maiores produtores mundiais de carne bovina. E em relação à cadeia da carne bovina brasileira? Seria interessante sua adoção? Seria viável?
Há aspectos que criam um contexto favorável à adoção do cruzamento tais como: a grande diversidade de condições de produção do Brasil, a intensificação dos sistemas de produção com crescente demanda por eficiência, o crescimento da demanda por qualidade com a consolidação de programas de bonificação por qualidade de carcaça e carne, dentre outros.
Por outro lado, outros fatores concorrem para dificultar sua adoção: gestão deficiente da maioria das propriedades rurais com falta de planejamento estratégico para elementos básicos do sistema de produção como alimentação e sanidade dos rebanhos, escassez de mão-de-obra qualificada, tímida remuneração por qualidade (boi vale o que pesa) com pouca agregação de valor no produto e cadeia produtiva desunida com baixa integração de seus elos salvo raras exceções.
Enfim, a decisão em usar cruzamento para produção de carne bovina no Brasil não é fácil, porém, nos últimos anos seu uso tem experimentado significativo crescimento, o que reforça a importância da constante discussão e estudo do tema com envolvimento de todos os atores do processo: fornecedores de insumos, produtores, frigoríficos, varejistas, consumidores e, principalmente, de corpo técnico qualificado para auxiliar os demais em uma tomada de decisão acertada.
Independentemente dos motivos que levarem à sua adoção, um ponto decisivo para o sucesso do cruzamento é o uso de indivíduos da melhor qualidade genética possível de cada uma das raças envolvidas no cruzamento.
É inegável que a heterose proporciona ganhos importantes, no entanto, não faz milagre. A literatura especializada mostra ganhos na ordem de 5 a 30%, dependendo da característica e da distância genética entre as raças utilizadas. Características ligadas à adaptação e reprodução tendem a apresentar os maiores acréscimos, enquanto aquelas ligadas ao desempenho e carcaça os menores. Quanto à distância genética, maiores ganhos são obtidos quando se utiliza raças geneticamente mais diferentes, ou seja, por exemplo, espera-se maior efeito da heterose quando se cruza raças zebuínas com taurinas do que quando zebuínas ou taurinas são cruzadas entre si.
Mas a heterose não é tudo. Quando se fala em desempenho total do animal cruzado, temos que considerar além da heterose, o efeito aditivo tanto das raças utilizadas quanto dos indivíduos dentro de cada raça. A heterose mede a superioridade em relação à média dos pais e se uma das raças tiver desempenho muito baixo, a heterose pode não ser suficiente para que o animal cruzado seja superior ao animal da raça pura mais produtiva.
O mesmo ocorre para o valor genético dos indivíduos utilizados. Se forem utilizados no cruzamento animais de baixo valor genético, isto irá impactar o resultado final dos cruzados, podendo até chegar a ser mais produtivo que o animal puro que era originalmente produzido, mas certamente comprometendo a eficiência do sistema de cruzamento e o resultado econômico da atividade.
Assim sendo, a forma de obter o máximo benefício do cruzamento é conduzi-lo com animais de qualidade genética superior, o que depende de um processo de seleção conduzido com seriedade, seja pelo criador ou por seu fornecedor de touros. Por este motivo, o criador que falha em considerar a avaliação genética para os caracteres produtivos na seleção de reprodutores usados no seu rebanho ou naqueles fornecidos ao mercado, contribui para o menor desempenho dos animais cruzados dos seus clientes, para um menor interesse na sua raça e um menor retorno financeiro e produtivo de seus clientes.
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