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Um dos caminhos para combater as perdas técnicas na distribuição de energia elétrica

Roberto Karam

Roberto Karam

As elevadas perdas registradas pelas distribuidoras de energia elétrica, tanto técnicas como comerciais, que causam prejuízos de bilhões de reais para as empresas e prejudicam consumidores com falta de energia, permanecem um problema de difícil solução. O alarmante cenário de desperdício de energia elétrica provoca debates e busca por soluções, constituindo um desafio para as empresas do setor.

Diversos estudos e pesquisas já comprovaram que o País joga fora uma enorme quantidade de energia elétrica que poderia ser aproveitada para o seu desenvolvimento. Segundo dados do estudo “O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21: Oportunidades e Desafios”, de autoria da Iniciativa sobre Alternativas de Política para o Setor Elétrico no Brasil, lançado em 2012, um quinto da energia produzida no País é desperdiçada durante a transmissão até os centros de consumo, o que gera aumento de até 5% na tarifa média paga pelo consumidor.

Nesse estudo, como em muitos outros, os autores já demonstraram a necessidade de medidas que devem ser adotadas pelo governo para priorizar o aumento da eficiência energética e a redução de desperdícios, essenciais para a inovação tecnológica e a competitividade industrial.

Tanto as perdas comerciais, onde se encaixam os furtos, as fraudes e os problemas de medição e faturamento, como as perdas técnicas, aquelas relacionadas ao processo de distribuição de energia elétrica, onde parte da energia é dissipada com o calor, são inevitáveis. Não podem ser totalmente zeradas, mas podem ser minimizadas, e para isso, as concessionárias apostam em ações de combate ao furto de energia e de modernização tecnológica das redes.

No entanto, de nada adiantarão investimentos em novas tecnologias, como a construção de uma rede inteligente (Smart Grid), por exemplo, com softwares de controle avançados e medidores inteligentes, para gerenciamento da geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, se não forem utilizados componentes 100% confiáveis em todas as etapas do processo.

Um dos problemas que mais influenciam nas perdas técnicas é justamente o fato das empresas adotarem políticas que se utilizam da máxima de que “tudo pelo menor custo de aquisição” consiste em uma vantagem.

Se fizermos uma analogia entre uma rede elétrica de distribuição de energia e uma corrente, os conectores são o elo mais fraco desta corrente. Na implantação de uma rede de distribuição, eles são componentes cujo valor não chega a 3% do custo total da rede. No entanto, apesar do baixo valor, os conectores têm vital importância para a qualidade do fornecimento de energia elétrica, pois, se apresentam falhas, o principal objetivo da rede, que é fornecer energia elétrica aos consumidores, fica comprometido.

A aplicação de conectores na construção ou implantação de uma rede de distribuição de energia elétrica é inevitável e essencial. Em uma rede de distribuição de energia nua, a função dos conectores é reconstituir a capacidade de condução de corrente elétrica (energia) dos condutores (cabos). Em uma rede de distribuição isolada, os conectores têm, além disso, a função de reconstituir a isolação dos condutores conectados.

Com base na vital importância dos conectores para o fornecimento satisfatório de energia elétrica, seria lógico que as empresas de distribuição de energia elétrica priorizassem a qualidade, a confiabilidade e a vida útil destes componentes no momento da aquisição dos mesmos.

No entanto, o que observamos é que, em diversos casos, empresas de distribuição de energia elétrica realizam muitas destas compras colocando em primeiro plano o custo de aquisição, deixando em segundo plano a qualidade do componente. E como sabemos, o barato, às vezes, sai muito caro.

Conectores de relativo custo mais baixo, geralmente inadequados, ineficientes e inseguros, que apresentam falhas e, consequentemente, problemas no fornecimento de energia, causam inúmeros transtornos e prejuízos às distribuidoras e ao consumidor.

Façamos uma reflexão: o meio físico de transporte de energia são os condutores metálicos. Nesta distribuição de energia são necessárias interligações, derivações e terminações executadas pelos conectores. Logo, se a politica e filosofia de aquisição destes componentes, os conectores, permanecerem a de “tudo pelo menor custo de aquisição”, os investimentos efetuados não serão válidos e nunca teremos uma rede de distribuição de energia elétrica que permita avanços tecnológicos como o Smart Grid e seja realmente eficiente.

Além disso, um outro fator que possivelmente influencia na qualidade dos serviços de distribuição de energia prestados no Brasil são os limites de tolerância para a duração das interrupções, ainda muito altos no País. Segundo André Pepitone da Nóbrega, diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), na Europa a duração das interrupções de energia tolerada é de 300 minutos ao ano. Nos Estados Unidos, são 500 minutos. No Brasil, o número apurado pelas empresas é de absurdas 16 horas.

Portanto, precisamos nos aproximar dos padrões mundiais de interrupção e aumentar a exigência em relação aos limites tolerados, o que, por conseqüência, exigiria das empresas distribuidoras de energia maior empenho na qualidade dos seus serviços, incluindo para isso o investimento em tecnologia e componentes de qualidade.

*Roberto Karam é engenheiro, empresário e diretor comercial da KRJ

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