Menos privacidade em prol do coletivo
Ferramentas como monitoramento de tráfego e câmeras de vigilância controlam seu ir e vir, mas também contribuem para o dia a dia
Podemos questionar até que ponto o direito à privacidade individual interfere na garantia de proteção dos cidadãos e sua evolução, por conta de uma vigilância exercida por agentes muitas vezes desconhecidos. Vemos a mesma falta de privacidade ser fundamental e, por vezes, até benéfica em muitos aspectos nas sociedades democráticas nos dias de hoje.
Seja na segurança pública ou privada, como acompanhar o dia de crianças em casa ou transações bancárias, na gestão de serviços como monitoramento de tráfego e ferramentas de comunicação, essa falta de privacidade oferece inúmeros benefícios relevantes de maneira individual e coletiva.
Na prática, qualquer um pode bisbilhotar a vida alheia. No entanto, os profissionais e as corporações dependem do tráfego de informações individuais e conjuntas para a divulgação e propagação de suas ações. Estar fora de redes sociais como Facebook e LinkedIn, por exemplo, significa abrir mão de inúmeras oportunidades de negócios e trabalho.
Mesmo assim, o Facebook perdeu mais de três milhões de usuários adolescentes – de 13 a 17 anos – entre 2011 e 2013, segundo pesquisa divulgada por uma empresa de consultoria em estratégia de tecnologia nos Estados Unidos, principalmente devido à vigilância por parte de familiares. Outro estudo feito pela University College of London (UCL) no final de 2013 mostrou que, na Europa, os jovens de 16 a 18 anos estavam migrando para outros aplicativos de troca de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, por se sentirem menos expostos e mais direcionados.
Para Ronaldo Ramos, fundador do CEOLab, as vantagens de ferramentas como o Facebook são inúmeras, e a facilidade de uso é muito grande. “O que seus usuários precisam é estar atentos às características, para tirar o devido proveito da exposição e ter cuidado com a parametrização de uma privacidade adequada. Além disso, diante da perda de contas, é provável que o Facebook melhore ainda mais a abordagem para a segurança da rede”, afirma.
Outro exemplo do uso das informações em benefício do coletivo é a cidade de Boston que fechou parceria com o app Waze, do Google, para coletar dados inseridos pelos usuários e utilizá-los no planejamento do tráfego para diminuir os engarrafamentos. São ações pontuais, como modificar o tempo de mudança dos sinais de trânsito em horários de muito movimento.
Os dados fornecidos pelo aplicativo já foram usados em um projeto por meio do qual os usuários podiam sinalizar onde havia carros parados em fila dupla, e o departamento de trânsito enviava agentes para advertir sobre a infração. O impacto na fluidez do trânsito foi enorme, o que deve dar origem a outras iniciativas semelhantes.
No mundo corporativo, equipes virtuais precisam se organizar para ter produtividade. Quando uma pessoa é inserida numa empresa, recebe diversos acessos para os sistemas e recursos necessários. Se por um lado se ganha em mobilidade e flexibilidade de horários, por outro é necessário administrar cada vez mais senhas corporativas e pessoais. Por isso, o mercado tecnológico vem mudando conceitos.
Um dos novos métodos adotados é a tecnologia de biometria, que permite acesso às informações por meio de sua digital, reconhecimento facial ou de íris. Isso gera uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, elimina a necessidade de memorização de senhas complexas. “De qualquer forma, abrimos conscientemente mão da privacidade em troca da conquista de novas possibilidades e conforto”, alerta Ronaldo.
Fortalecer as relações humanas é fundamental para tornar as equipes virtuais mais produtivas nas empresas, os cidadãos mais participativos na sociedade e os indivíduos conscientes ao administrar sua vida pessoal. “Esse é o desafio da era tecnológica, em que a opinião tem espaço, mas a privacidade tornou-se um conceito dúbio, que também precisa ser constantemente vigiado”, afirma.
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