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Escolas infantis da periferia de São Paulo adotam aplicativo de celular para interagir com pais de alunos

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada em abril deste ano, apontou para a existência de 168 milhões de smartphones no Brasil, 9% a mais do que um ano antes. De acordo com o mesmo estudo, a expectativa é de que, nos próximos dois anos, o País tenha 236 milhões desses aparelhos nas mãos dos consumidores, 40% a mais do que no momento atual. Essa ampla difusão dos smartphones está criando o cenário ideal para a expansão de serviços por meio de aplicativos, inclusive para populações consideradas de baixa renda. A prova de que isso é verdade é a adoção do aplicativo Schoolastic pelo Instituto Criança Cidadã (ICC), uma rede de escolas infantis mantida pela Prefeitura e empresas como CESP e Sabesp, com unidades na periferia de São Paulo e Guarulhos:

“Num primeiro momento achamos que a adoção do aplicativo seria limitada, mas percebemos que é mais comum uma família da periferia não ter um e-mail do que um smartphone. Há casos de famílias que precisaram criar um e-mail para poder receber a senha de acesso ao aplicativo”, explica Joel Stucchi, presidente do ICC, criado em 1999 pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) e hoje também mantido por meio de convênios com a Prefeitura de São Paulo e o apoio de empresas como a Sabesp.

Segundo Stucchi, o aplicativo Schoolastic permite uma ampla gama de serviços que os pais dos alunos sequer imaginavam como informação diária sobre as atividades dos filhos na escola, desempenho escolar, programação de medicação, aviso de retirada dos filhos fora do horário e, mais importante, análise permanente das tendências comportamentais e preferências dos alunos, que pode levar a orientação sobre vocação profissional.

“A comunidade abraçou o uso do aplicativo e a adoção cresceu em função mesmo da comunicação entre os pais, na escola e nos bairros. Muitos pais exibem orgulhosos as informações dos filhos que eles recebem no celular e com isso estimulam outros a se informar sobre como acessar o sistema. Além disso, a possibilidade de conhecer melhor as tendências comportamentais e até vocacionais dos filhos levou muitos a adotarem o aplicativo”, explica Ana Cristina Vicente Costa, Diretora Educacional do ICC.

A facilidade de acesso e uso do aplicativo tem sido um importante fator de sucesso. Segundo Priscilla Gonçalves, Coordenadora Pedagógica do ICC, embora a direção da escola acreditasse que poderiam existir problemas à adoção do aplicativo, muitos pais baixaram o Schoolastic em seus celulares na hora mesmo da apresentação do projeto:

“Percebemos que já há uma cultura consolidada sobre como usar aplicativos de celular e a adoção do Schoolastic tem sido rápida. Até mesmo entre os educadores, a coleta e publicação diária de informações sobre os alunos por meio do uso de tablets em sala de aula não apresentou problemas, uma vez que os jovens usam esse tipo de tecnologia em seu dia a dia”, explica Priscilla.

Joyce Iacovantuono e Mariane Montanheiro, educadoras do ICC, participam do teste piloto de implementação do Schoolastic e coletam informações por meio de tablets, que são repassadas em tempo real aos pais de alunos. Elas registram o dia a dia das crianças, usando para isso um sistema pré-formatado, que facilita o registro de dados como alimentação, comportamento e tendências vocacionais. Além disso, conseguem manter um diálogo constante com os pais, por meio de um sistema de comunicação similar ao WhatsApp:

“A grande revolução que o aplicativo está sinalizando é o fato de que estamos conseguindo trazer os pais para o dia a dia da educação dos filhos, o que antes era impossível com as agendas de papel. O aplicativo aguçou nosso olhar em relação às crianças, evidenciando onde elas vão bem e onde elas precisam de maior apoio. Além disso, permite colocar os pais diretamente no processo educativo dos filhos, pois eles passam a acompanhar o dia a dia das crianças de um modo lúdico e criativo”, assinala Joyce.

Para Mariane, a solução ajuda a melhorar o desempenho escolar das crianças, uma vez que permite que pais e professores atuem em conjunto para apoiar os alunos naquelas deficiências mais agudas:

“A tecnologia é importante e quando ajuda a melhorar resultados, ela se torna imbatível”, conclui Mariane.

De acordo com Luiz Orlandini, CEO da YouMobi, empresa que criou o Schoolastic, o fato de que a tecnologia está sendo incorporada sem transtornos por uma comunidade considerada carente é um indício de que as pessoas estão preparadas para usar esse tipo de solução em atividades mais complexas, ou seja, não apenas trocar mensagens, mas também usar o celular para se envolver diretamente com o processo de educação e formação dos filhos:

“Implementamos o Schoolastic com sucesso tanto em escolas particulares, voltadas para pessoas com alto poder aquisitivo, como em comunidades consideradas carentes, que poderiam ter dificuldades para comprar um smartphone ou até mesmo saber como usá-lo. Esses problemas não existem: o mercado de comunicação móvel está cada vez mais maduro para soluções mais complexas”, assinala Orlandini.

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