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Empresa de impacto social é denunciada por fraude em projeto que recebeu recursos da FAPESP

Guten Educação e Tecnologia é acusada de ludibriar clientes ao fazer tradução de textos via Google Tradutor mascarando o uso de ferramentas impróprias para a língua portuguesa

As empresas de impacto social tem tido grande atenção da mídia nos últimos tempos. Aplaudidas por abraçarem causas nobres, elas vem revolucionando muitos mercados. Mas, infelizmente, algumas acabam se valendo dessa condição como peça de marketing enquanto ludibriam consumidores.

A Guten Educação e Tecnologia, uma empresa especializada em leitura que declara ter como missão transformar estudantes em leitores proficientes e engajados, foi interpelada por seu próprio CTO - Chief Technical Officer, que alega o uso não declarado do Google Tradutor dentro do software criado para classificação de textos em português, o Lexile® brasileiro.

Rogério Alan Cruz, que é fundador do eJournal e foi selecionado como uma das Top 10 "Mais Interessantes, Criativas e de Sucesso" de todas tech startups de 2015 apresentadas no TechCrunch Crunchies Awards (considerado o Oscar da Inovação Tecnológica), foi chamado em 2014 para ser sócio e desenvolver todas tecnologias da companhia que estavam apenas no papel.

Cruz recentemente foi apontado como supervisor/fiscal do projeto da Guten desenvolvido na USP em um programa financiado pela FAPESP. Ao finalizar sua investigação interna rejeitou receber participação na empresa como bonificação pelos serviços prestados, alegando “reserva ética”. O fato é que o premiado profissional recusa-se a se tornar sócio da Guten já que na sua opinião o mercado desconhece que “os textos são traduzidos para o inglês, pelo Google, e só após métricas de avaliação são aplicadas, mas para a língua inglesa (não a portuguesa) o que evidentemente produz distorções incompatíveis com os resultados anunciados”.

Após uma análise criteriosa no código fonte, o CTO descobriu que a plataforma não é adequada para o idioma nativo do estudante brasileiro. “A Guten apenas maquiou o sistema, apresentando um software que camufla o uso da ferramenta do Google. O Google Trandutor aplicado na avaliação dos textos resulta no que se chama de ‘Frankestein linguístico’”, afirma.

Além de recusar a bonificação sob a forma de participação societária por conta da utilização da ferramenta de tradução, o CTO também justifica a recusa no fato da empresa haver recebido centenas de milhares de reais de verba pública da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, sem produzir contrapartida alguma há mais de dois anos.

O uso de recursos da FAPESP agrava ainda mais a situação, pois não há informação sobre o que se fez com os valores destinados ao projeto que nunca foi concluído. Por essas divergências de cunho ético, Cruz buscou apoio legal para interpelar a empresa. Na opinião do advogado Nacir Sales, “ninguém está obrigado a se tornar sócio de uma empresa tendo uma divergência ética com o que a empresa fez ou deixou de fazer. Para o meu cliente, que está abrindo negócios com investidores americanos no Vale do Silício e foi premiado internacionalmente, este bônus é um ônus”.

Nacir Sales, que patrocina a interpelação, explica que “a questão encerra um duplo problema: usar a ferramenta do Google, e não comunicar o uso aos parceiros, investidores e seus usuários. Textos traduzidos convertem-se em verdadeiras aberrações. Como você avaliaria um texto da Clarice Lispector traduzido para o inglês pelo Google? Avaliaria como uma obra prima?”, questiona. A interpelação foi apresentada à Justiça nesta quarta feira, dia 16.

Sobre Nacir Sales: http://www.nacirsales.com/ (11) 4688-2617

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