APTA desenvolve produto para substituir antibióticos na produção de bovinos de corte
Produto a base de anticorpos policlonais evita o surgimento de superbactérias e promove maior ganho de peso dos animais
Pesquisas utilizando anticorpos policlonais vêm sendo desenvolvidas no Polo Regional de Ribeirão Preto da APTA, desde 2012. Este é o primeiro produto contendo anticorpos policlonais desenvolvido no Brasil para substituir os antibióticos, usado como aditivo zootécnico com propriedades funcionais digestivas e equilibrador de flora do trato digestório, promovendo maior ganho de peso em gado de corte.
Segundo o pesquisador do Polo Regional da APTA, Geraldo Balieiro Neto, é provável que no Brasil o registro de antibióticos no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) seja alterado para medicação com uso terapêutico, necessitando de prescrição do médico veterinário e passando a ser administrados pela água ou via injetável, o que encarecerá sua utilização. “Estamos disponibilizando uma alternativa inovadora aos produtores, antevendo a demanda”, afirma o pesquisador.
O produto desenvolvido pela APTA pode ser inserido na ração e possui a mesma funcionalidade dos antibióticos, com a diferença de que os antibióticos inibem o crescimento de bactérias gram-positivas, incluindo microrganismos benéficos aos animais. “Durante a pesquisa percebemos que o efeito dos antibióticos é superior inicialmente e inferior no terço final do período de confinamento quando comparado ao produto desenvolvido pela APTA. Esse aumento do ganho de peso proporcionado pelo produto natural é um plus, mas o maior atrativo é substituir o antibiótico, que está em vias de controle pelo MAPA. Estamos nos antecipando a um problema e promovendo maior segurança alimentar”, explica Balieiro.
O pesquisador afirma que caso sejam propostos novos sistemas de regulação e monitorização do uso e venda de medicamentos antimicrobianos para animais, alterando-se os critérios que permitem o uso dos antibióticos como aditivo alimentar, a não utilização da tecnologia implicaria em perdas da ordem de 12% no ganho de peso. “Se isso ocorrer e não existir alternativa no mercado, a carne ficará mais cara na prateleira e o Brasil perderá competitividade”, afirma.
O projeto “Anticorpo Igy como aditivo alimentar natural funcional, em substituição ao uso de antibióticos em dietas para ruminantes”, desenvolvido pelo pesquisador do Polo Regional de Ribeirão Preto da APTA, Geraldo Balieiro Neto, ficou na sexta colocação na categoria “Pesquisa Científica” do Prêmio Josué de Castro 2016.
Superbactérias
Um estudo encomendado pelo governo britânico, coordenado pelo pesquisador Jim O’Neill, alerta que mais de 10 milhões de pessoas devem morrer anualmente infectadas por superbactérias até 2050. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), há consenso sobre a ameaça global de infecções resistentes a antibióticos que, em média, matam mais de 700 mil pessoas por ano, número que, de acordo com especialistas, poderá ser bastante superior e que, portanto, merece atenção urgente de líderes mundiais.
A publicação Review on Antimicrobial Resistance, entre outras ponderações, recomenda reduzir o uso desnecessário de antibióticos na agricultura e pecuária, estabelecer um Fundo de Inovação Global de US$ 2 bilhões para pesquisa em estágio inicial e promover o uso de vacinas e alternativas aos antibióticos. Nos Estados Unidos, 70% dos antibióticos são usados em animais.
“Uma das diretrizes do governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Agricultura é promover, por meio da pesquisa científica, a melhora na vida do campo e da cidade. Este trabalho oferece uma opção aos produtores de carne, por meio de um produto que evita problemas relacionados à saúde humana”, afirma Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Pesquisa
Balieiro explica que os anticorpos utilizados no produto desenvolvido pela APTA foram conseguidos por meio da imunização de galinhas poedeiras, que ao serem imunizadas produzem anticorpos encontrados na gema do ovo, os quais podem ser utilizados para inibir o crescimento de microrganismos indesejáveis de forma natural. “O que fizemos foi imunizar as galinhas, liofilizar a gema dos ovos produzidos pelas mesmas e fornecer o produto para o rebanho bovino”, explica o pesquisador.
A galinha poedeira é utilizada como uma fábrica biológica. A técnica é bem aceita pelo ponto de vista de bem-estar animal, pois as galinhas não precisam ser eutanasiadas para a produção de anticorpos na gema do ovo, diferentemente da extração de anticorpos do sangue de cobaias como ratos e coelhos.
A APTA busca empresas interessadas em utilizar a tecnologia para viabilizar a produção em escala comercial. “Várias empresas se interessaram pelo trabalho e há reais possibilidades de adoção imediata da tecnologia gerada, mas temos que assegurar que as pesquisas terão continuidade, garantindo a inovação, aprimoramento e qualidade do produto”, diz o pesquisador.
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