Indústria alimentícia. Esconder-se no desespero?
É a conduta adotada pelas autoridades brasileiras no terremoto de alto grau que abalou nossa indústria de alimentação. Os jornais mais importantes do País - não há como negar - deram o mínimo espaço possível às consequências da operação da polícia federal "carne fraca". É que suas consequências são lancinantes, para nossa exportação de produtos alimentícios. Talvez não se tenha tanta preocupação em relação às carnes que consumimos. Afinal, o brasileiro é um companheiro biológico do sofrimento. Mas a economia tem de voltar aos trilhos e, nesse campo, nem trilhos já há.
Não discordamos de preservar o País num de seus momentos mais críticos. O problema é que mentiras têm pernas curtas, e a União Europeia, cujos habitantes ficaram neurotizados após o episódio da "vaca louca", não nos dará tréguas e a verdade ofuscante virá à tona. Pode-se supor a próxima ocorrência de todos os tipos de cautelas a serem adotadas por nossos compradores e consumidores do exterior. Quer-se investigar a fundo, sem essa conversa fiada de "foro privilegiado" e outras perfumarias jurídicas. Quer-se inspeções periciais jamais vistas em nosso País.
Os frigoríficos serão devassados de cabo a rabo. Não adianta falar em soberania, em confinar as investigações às autoridades brasileiras, em quebra de soberania, porquanto a soberania é efetivamente quebrada, quando nossos maiores adquirentes de certos produtos acenaram com suspensão imediata. Fazer tudo sob mínimo eco, a exemplo da reunião ministerial deste domingo com os embaixadores, e o ínfimo destaque dado ao tema por nossos órgãos de comunicação, nos salvará? Já está visto que não, com a suspensão de importações desencadeada nesta manhã de segunda-feira, obviamente previsível. Esse jogo será longo e aumentará nossos batimentos cardíacos.
Começará da verificação das condições reais de funcionamento das grandes unidades produtoras, nos pontos apontados, cujas mazelas compuseram o escândalo mais tonitruante, dadas as supostas idoneidades das marcas envolvidas. Em cotejo estarão as declarações oficiais de poderosos grupos econômicos, que poderão ser prestigiadas ou não. Caso não o sejam, é dizer, se constatado que o problema é maior e mais intenso, é possível que se abra o caminho de sua decomposição e de suas substituições no plano industrial brasileiro por outros grandes conglomerados mundiais, visto que a qualidade dos alimentos é problema de toda a humanidade e não apenas dos brasileiros.
À parte isso, uma investigação de proporções formidáveis, rigorosamente analítica, nas pequenas e médias empresas que atuam no setor, às centenas ou aos milhares. Aí a coisa pega de modo dantesco. Temos seguras informações das péssimas condições de higiene e segurança alimentar sob as quais se processa a industrialização alimentícia nesses nichos econômicos menores. Sem exagero, constatações repugnantes serão em grande número.
É um quadro nada alentador, mas que se formou ao longo de nossa história industrial, portanto há mais de meio século. E, muito provavelmente, não teremos forças para o enfrentamento do problema. Não podemos ser xenófobos e não abrir nosso parque industrial de alimentação a essa reciclagem drástica e fatal aos Países e organismos internacionais, como a ONU. Não há porque temermos a perda do mercado, a longo prazo, considerada a extensão do território e nossa capacidade quase única de sustentação do agro-negócio.
Não se trata de alarmismo e tampouco de politicagem. Claro que pescadores de águas turvas, sem nenhum compromisso com o País, ficam contentes com o estouro da bomba sob o governo Temer. Mas não há outra direção senão fazer o jogo da verdade.
Das trevas nascem a luz, da admissão e superação dos problemas atuais do mundo, a recuperação do planeta, que chegou a um ponto tal, nos mais diversos segmentos da atividade humana, que devemos buscar o renascimento contemporâneo, uma nova etapa de nossa ética e de nossa história.
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados, com uma ampla visão sobre política, economia, cenário sindical e assuntos internacionais.
Não discordamos de preservar o País num de seus momentos mais críticos. O problema é que mentiras têm pernas curtas, e a União Europeia, cujos habitantes ficaram neurotizados após o episódio da "vaca louca", não nos dará tréguas e a verdade ofuscante virá à tona. Pode-se supor a próxima ocorrência de todos os tipos de cautelas a serem adotadas por nossos compradores e consumidores do exterior. Quer-se investigar a fundo, sem essa conversa fiada de "foro privilegiado" e outras perfumarias jurídicas. Quer-se inspeções periciais jamais vistas em nosso País.
Os frigoríficos serão devassados de cabo a rabo. Não adianta falar em soberania, em confinar as investigações às autoridades brasileiras, em quebra de soberania, porquanto a soberania é efetivamente quebrada, quando nossos maiores adquirentes de certos produtos acenaram com suspensão imediata. Fazer tudo sob mínimo eco, a exemplo da reunião ministerial deste domingo com os embaixadores, e o ínfimo destaque dado ao tema por nossos órgãos de comunicação, nos salvará? Já está visto que não, com a suspensão de importações desencadeada nesta manhã de segunda-feira, obviamente previsível. Esse jogo será longo e aumentará nossos batimentos cardíacos.
Começará da verificação das condições reais de funcionamento das grandes unidades produtoras, nos pontos apontados, cujas mazelas compuseram o escândalo mais tonitruante, dadas as supostas idoneidades das marcas envolvidas. Em cotejo estarão as declarações oficiais de poderosos grupos econômicos, que poderão ser prestigiadas ou não. Caso não o sejam, é dizer, se constatado que o problema é maior e mais intenso, é possível que se abra o caminho de sua decomposição e de suas substituições no plano industrial brasileiro por outros grandes conglomerados mundiais, visto que a qualidade dos alimentos é problema de toda a humanidade e não apenas dos brasileiros.
À parte isso, uma investigação de proporções formidáveis, rigorosamente analítica, nas pequenas e médias empresas que atuam no setor, às centenas ou aos milhares. Aí a coisa pega de modo dantesco. Temos seguras informações das péssimas condições de higiene e segurança alimentar sob as quais se processa a industrialização alimentícia nesses nichos econômicos menores. Sem exagero, constatações repugnantes serão em grande número.
É um quadro nada alentador, mas que se formou ao longo de nossa história industrial, portanto há mais de meio século. E, muito provavelmente, não teremos forças para o enfrentamento do problema. Não podemos ser xenófobos e não abrir nosso parque industrial de alimentação a essa reciclagem drástica e fatal aos Países e organismos internacionais, como a ONU. Não há porque temermos a perda do mercado, a longo prazo, considerada a extensão do território e nossa capacidade quase única de sustentação do agro-negócio.
Não se trata de alarmismo e tampouco de politicagem. Claro que pescadores de águas turvas, sem nenhum compromisso com o País, ficam contentes com o estouro da bomba sob o governo Temer. Mas não há outra direção senão fazer o jogo da verdade.
Das trevas nascem a luz, da admissão e superação dos problemas atuais do mundo, a recuperação do planeta, que chegou a um ponto tal, nos mais diversos segmentos da atividade humana, que devemos buscar o renascimento contemporâneo, uma nova etapa de nossa ética e de nossa história.
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados, com uma ampla visão sobre política, economia, cenário sindical e assuntos internacionais.
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