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Pesquisa internacional aponta déficit global de habilidades em inglês na alta administração das empresas

Levantamento conduzido por Cambridge English e pela QS Intelligence no Brasil e em mais 37 países mediu a relação do idioma com o mercado de trabalho e originou um website em que é possível realizar comparativos entre diferentes nações

Um em cada cinco gestores da liderança dos negócios globais ainda não possui os conhecimentos de língua inglesa necessários para atender a expectativa das empresas. A conclusão faz parte da pesquisa “Inglês no Trabalho”, conduzida por Cambridge English Language Assessment, departamento da Universidade de Cambridge responsável por avaliações de proficiência da língua inglesa e formação de professores, e pela QS Intelligence Unit, que atua com coleta de dados do mercado empregador e de educação. Ao todo foram ouvidas mais de 5 mil empresas de 38 países não falantes do idioma, incluindo o Brasil, e de 20 setores diversos da economia.

Os empregadores acreditam que um em cada cinco (22%) colaboradores de posições executivas não tem o nível de proficiência necessário para o seu papel. Esse índice varia globalmente e principalmente entre algumas das economias globais com maior potencial de crescimento. Por exemplo, na Índia, nove em cada dez (91%) profissionais deste escalão possuem as habilidades em inglês para realizar suas tarefas de forma eficaz, em comparação com apenas seis em cada dez (61%) na China.

A situação se repete em países europeus também. Na França, Bélgica e Suíça, ter fortes conhecimentos de inglês é crucial, com pelo menos 95% dos gestores de topo que têm o nível necessário – o que é comparável com países nativos de língua inglesa como o Canadá (95%) e Austrália (97%). Na Espanha, no entanto, quase um quarto dos líderes (23%) não têm essas mesmas competências.

A pesquisa reflete ainda uma contradição e um alerta para as pessoas. Apesar de mais de 95% dos empregadores de países não nativos em inglês terem declarado que o idioma é importante e representa a língua dos negócios, apenas uma em cada vinte empresas, o que corresponde a 4% das entrevistadas, planeja investir na melhoria das habilidades de inglês das suas equipes. Por outro lado, metade delas oferecem um melhor pacote de benefícios e uma progressão mais rápida para aqueles que possuem bons conhecimentos de língua inglesa. Isso pode significar que, segundo a visão empresarial, o profissional já deve chegar ao mercado de trabalho habilitado na língua e não aguardar um possível investimento por parte da gestão.

Brasil

Já no Brasil, onde aproximadamente 300 empresas responderam o levantamento, os principais destaques foram:

· 62% acredita que o inglês é uma habilidade importante para os negócios;

· 78% dos gestores da alta liderança têm as habilidades em inglês necessárias para ter sucesso em seus trabalhos;

· 5% das empresas estão planejando contribuir na melhoria das habilidades em inglês do alto escalão. O número é ainda mais baixo nas áreas funcionais de Recursos Humanos (4%) e Produção (4%);

· 57,5% das empresas oferecem melhores benefícios para aqueles com bons conhecimentos de língua inglesa. Entre eles está a possibilidade de cargos mais altos, item em que o Brasil fica a frente da média global: 15% dos empregadores adotam essa prática, em comparação com 8% da média global.

Ainda ao analisar os resultados do Brasil, setores da economia como produção, marketing e serviços ao cliente são os que mais apresentam diferenças percentuais quando se compara a quantidade de funcionários que dominam as habilidades em inglês necessárias para ter sucesso em seu papel com a média global. O país fica aproximadamente quatro pontos abaixo do restante das nações pesquisadas nos três segmentos. Já a área de recursos humanos fica 2 pontos acima.

A situação é ainda mais desfavorável quando compara-se a situação do Brasil e da Índia e da África do Sul, países que integram o BRICS. No país africano, 93% dos executivos possuem o inglês desenvolvido, assim como 91% no país asiático. Com isso, as duas nações possuem altos índices de funcionários que dominam as competências do idioma em todas as áreas da economia, ultrapassando as médias globais. O contrário acontece quando se analisa os números locais comparados com Rússia e China, também membros do grupo de cooperação. Nesse caso, o Brasil possui uma melhor performance.

Dentre os países pesquisados na América Latina, o Brasil empata com a Argentina na posição mais baixa em relação ao total de gestores que dominam o inglês. México, Chile, Colômbia, Venezuela e Peru, nessa ordem, são os melhores colocados, inclusive com índices maiores do que o mundial.

Em relação aos níveis de inglês requeridos para tarefas do dia-a-dia, como escrever emails, elaborar apresentações, participar de reuniões e ler relatórios, o País também possui uma demanda inferior do que a média global. A maior parte das empresas exige um nível de intermediário para avançado, enquanto no mundo há uma tendência de buscar profissionais que se encaixam entre avançado e proficiente.

“Há muito tempo a importância do inglês no mercado de trabalho é bastante clara. Mas, pela primeira vez, vemos o real cenário disso não apenas no mundo como também no Brasil. Conhecer essa situação nos permite olhar com mais atenção a necessidade de mão de obra qualificada do ponto de vista dos conhecimentos de inglês e também nos convida a refletir em torno das oportunidades que o País, as empresas e os cidadãos podem ter ao desenvolver essa lacuna”, afirma Piri Szabo, diretora regional de Cambridge English Language Assessment no Brasil.

Habilidades mais valorizadas

Quando a questão são as habilidades mais importantes, o resultado também diverge entre os países. Os empregadores dizem que é importante ter proficiência nas quatro competências linguísticas (leitura, escrita, fala e escuta). No entanto, a habilidade de linguagem mais requisitada globalmente é a leitura (eleita por 11 indústrias), seguida da expressão oral (em nove indústrias). Especificamente no Brasil, esse cenário se inverte: a fala é mais valorizada por 43,5% dos entrevistados, seguida pela leitura, com 35%. Isso se repete em outros países da América Latina como Colômbia e México por exemplo.

Com os resultados da pesquisa, Cambridge English desenvolveu um website que permite o download do relatório completo e também a realização de comparativos entre países e indústrias. É possível, por exemplo, comparar qual o nível de inglês que os empregadores necessitam para tarefas no trabalho, como escrever e-mails, ler os resultados ou participar de reuniões, em dois países distintos ou ainda qual segmento da economia pretende investir mais no oferecimento de capacitação aos colaboradores. Para isso, basta acessar http://www.cambridgeenglish.org/br/why-cambridge-english/english-at-work/.

Recrutamento

Ainda de acordo com a pesquisa “Inglês no Trabalho”, nos países onde o idioma não é a língua materna, cerca de 7% das tarefas de negócios exige um nível de proficiência completa em inglês, 49% nível avançado, 33% nível intermediário e 8% nível básico.

Finanças e Direito estão entre os setores de atividades com os requisitos mais elevados e Transporte e Distribuição entre os menos elevados. Entretanto, em todos eles há uma lacuna entre as competências necessárias e as encontradas nos candidatos. As maiores delas estão em posições que lidam com processos internos, como RH, Contabilidade e Produção, por exemplo. As menores são relacionadas a trabalhos externos, como Marketing e Vendas.

Durante os processos de recrutamento no mundo, para checar se o conhecimento atende a necessidade da vaga, 98,5% das empresas possuem ao menos um método de avaliação, sendo o mais comum deles conduzir a entrevista em inglês. Por outro lado, mais de um quarto dos empregadores já adota o uso de testes de proficiência elaborados por instituições externas e isentas. No Brasil, a entrevista também é a principal ferramenta para 19% das empresas entrevistadas, seguida de testes criados internamente (13%) e externamente (13%).

“A eficiência é cada vez mais um indicador de sucesso perseguido pelas empresas em todo o mundo e ela se aplica também no processo de seleção e de promoção, uma vez que uma escolha equivocada representa perda de competitividade e novos investimentos de tempo e dinheiro para outra contratação. A entrevista é um método bastante subjetivo de avaliação, uma vez que depende de uma série de aspectos, como contexto e conhecimento do entrevistador para emissão de um julgamento a respeito do domínio do outro. Com isso, as equipes de recrutamento começam a despertar para métodos que usam a objetividade e parâmetros internacionais para medir os conhecimentos de inglês que uma vaga necessita e que o candidato apresenta. Eles minimizam o erro e permitem que as companhias tenham um maior controle e respaldo, ao usar o conhecimento de todo um time de pesquisadores que se dedicam ao processo de mensuração em todo o mundo”, completa Piri.

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