Empresária de Agudos, em São Paulo, conta como o Grupo Boticário a levou à vender suas lojas forçadamente
Franqueada relata que era obrigada a fazer compra de produtos mesmo tendo estoque em loja e que a franqueadora impôs ao seu negócio o sistema de venda direta
De acordo com Silvia, o problema, assim como nas outras franquias, começou com a implantação do sistema de vendas direta, em setembro de 2011. Segundo a empresária, haviam muitas dificuldades mediante a obrigatoriedade na revenda para terceiros, mas, o fator principal que a levou à falência foi o estabelecimento de metas que não correspondiam a realidade.
“Foram muitos momentos difíceis e a verdade é que eu não entendia o que estava acontecendo, pois quanto mais eu vendia mais me endividava. Além de nós franqueados termos sido obrigados a vender produtos de nosso estoque para terceiros, tínhamos também que comprar produtos mesmo que houvesse estoque nas lojas”, explica Silvia.
Diante do cenário, em 2013, a empresária precisou começar a fazer empréstimos. Já em janeiro de 2014 foi a forçada a fazer uma compra com um valor imposto pela franqueadora, sob ameaça de ter suas lojas fechadas. Por isso, com muito estoque e pouco lucro, Silvia acabou fazendo mais empréstimos em bancos para honrar suas dívidas. Ela reforça ainda a dificuldade natural que tinha fazer seu negócio sobreviver em uma cidade pequena.
Com uma dívida de 70 mil reais com o Grupo Boticário, fora os empréstimos feitos, a empresária teve que abrir mão das duas franquias e do escritório de revenda que possuía no começo de 2015. “Me senti muito mal naquela época. Eles me proibiram de contar porque estava vendendo minhas lojas. Eu não conseguia mais colocar minhas contas em dia porque o sistema que foi imposto a nós franqueados não me permitia”, conta a ex-franqueada de Agudos (SP).
Silvia alega que os franqueados tinham que pagar pelos brindes que eram dados nas lojas, arcavam com custos de propagandas e ainda serviam de personagem para entrevistas sobre franquias – tudo estabelecido pela franqueadora. Para a empresária foi como se de repente tudo tivesse mudado e se transformado numa situação de total abuso de poder depois da mudança de diretoria de Grupo Boticário, a qual aconteceu em 2008.
A ex-franqueada conta que recebeu pela venda das duas lojas um valor inferior ao que elas valiam e que a franqueadora foi quem definiu o preço. Além disso, Silvia alega que ainda teve o prejuízo de arcar com as despesas trabalhistas por conta das demissões dos seus nove funcionários.
Entenda o caso:
Após a mudança da diretoria do Grupo Boticário, que foi assumida por Artur Grynbaum em 2008, muitas diretrizes foram mudadas. Uma delas foi a implantação do sistema de vendas direta, que devido ao formato, tem gerado muitos prejuízos aos franqueados.
Esse novo sistema acabou por achatar as franquias a nível nacional, já que as revendedoras passaram a comprar os produtos dos franqueados com pelo menos 15% de desconto. No entanto, o franqueado não sabia qual era seu lucro real.
Além disso, os franqueados foram “convidados” (imposto) a implantar Centrais de Distribuição de Venda Direta, custos com os quais tiveram que arcar. Outra determinação do Grupo foi a compra de quantidades muito elevadas de mercadorias pelos franqueados, que passaram a ter dificuldades para escoar seus estoques, ficando com muita mercadoria parada.
Esse novo modelo de gestão tem gerado uma grande crise no sistema do O Boticário e causando a quebra de muitos empresários em todo o Brasil. Em São Paulo, a franqueada Izabel Litieri está passando pelas mesmas dificuldades relatadas por franqueados de Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraíba.
A história que esses empresários contam é a mesma: dificuldades financeiras causadas por erros de gestão. A empresária de São Paulo afirma que após a chegada desse sistema suas lojas passaram a ter dificuldades incalculáveis e que o Grupo Boticário passou a impor diversos obstáculos para os franqueados no tocante a pagamento das mercadorias.
Outro caso semelhante foi com o franqueado da cidade de Resende, na região do Vale do Paraíba Fluminense (RJ), após questionar algumas diretrizes comerciais da empresa ele recebeu uma notificação do grupo que lhe dava 30 dias para encerrar as atividades das franquias. O empresário entrou na justiça e a 1 ª Vara Cível de Resende concedeu a liminar em favor do franqueado informando que o grupo tinha o dever de cooperar com o empresário.
Em Pernambuco, o franqueado da região de Serra Talhada, também cedeu suas lojas ao Boticário. O empresário João Duque de Souza, possuía diversas unidades no interior do Estado.
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