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Pedrógão Grande, tragédia no coração português

Não foi o primeiro nem será o último fogaréu das matas. A tragédia de Portugal, neste momento, foi o confinamento de uma área habitada no interior das florestas em chamas. Não havia saídas, segundo os testemunhos de vítimas sobreviventes. As estradas vicinais - de baixo e de cima - foram tomadas pelas cinzas e detritos e o espectro do fogo. O inferno. Os fugitivos, em pânico, trombaram seus automóveis.

Sucederam-se as mortes, as queimaduras graves, o terror. Pedrógrão Grande, característico por suas belezas naturais, suas relíquias presentes desde a idade do bronze, revelou-se um funil labiríntico. A natureza emitiu uma resposta raivosa contra o homem. Não se a agride sem resposta.

Obviamente, foi apenas um capítulo do drama no convívio homem-natureza. Incêndios inusuais já devastaram o Alasca, a Indonésia, o Canadá, os Estados Unidos, a França, a Espanha e a Ilha da Madeira, em Portugal. Outros virão, se nada for feito. E o homem é capaz de fazer. Ou desfazer o que não deveria ter feito. Reze-se para que os incêndios florestais não confinem outras regiões escanteadas, pequenas, belas, habitadas, mas sem saída. Há momentos em que a única alternativa humana é a fuga e, desta feita, a natureza demonstrou que pode obstar a escapada.

Contudo, o problema é conhecer as causas e agir para erradicá-las. Aumento do aquecimento global acima de 2,0 graus celsius já é o primeiro fator. Geram temperaturas, em certos momentos, acima de 37%, o que é um grande sinal de alerta. Depoimentos deram conta de que, em plena noite alta, no instante da erupção do fogo, a temperatura atingia 45%. A velha e veneranda Coimbra, situada há 50 km do incêndio, sentiu o escurecimento e o sufocamento de seus habitantes. O amor em Portugal, tão lindo, por pouco não ficou incandescente, não como o amor extremo, mas como o ódio dos demônios alimentados pelos humanos.

Incêndios florestais não são necessariamente maus. Mato é devastado, não raro, para dar lugar a árvores frondosas. O grande problema é a ação humana, na busca tresloucada pelo crescimento econômico e de supostos valores tecnológicos e industrializados, sem dar a mínima para as restrições naturais. Estas sempre houve, desde que a espécie humana logrou assentar-se neste ponto do universo. Em suma, a natureza pode ser modificada e aproveitada por nossa espécie, desde que seus limites sejam respeitados. E há um ciclo perverso: o aquecimento gera a queima das florestas e os incêndios recrudescem o aquecimento.

A evolução natural nos trouxe a este ponto civilizatório e podemos e devemos evoluir. Como disse Aldous Huxley, em parceria com a natureza; não há combate e vitória sobre a natureza; há uma evolução conjunta de suas tendências e da inteligência do homo sapiens, que, ao desprezar a companheira, paga um alto preço pela separação.

Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

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