"Becoming Brazilian": como trabalhar, viver e amar como um brasileiro
Por: Thomas Winter
O Brasil é a nona economia do mundo com um setor de agricultura e mineração significativo, mas, mesmo assim, você não consegue encontrar nenhum bom livro para descrever como é viver e investir neste país. O livro “Becoming Brazilian” tem como intuito preencher essa lacuna e ajudar estrangeiros, expatriados e turistas a aprender sobre o Brasil, além de seu comportamento e a cultura. Afinal, acredito que se os estrangeiros pudessem entender melhor o Brasil, seriam mais produtivos em suas atividades por aqui e teriam uma experiência ainda mais feliz.
Depois de fazer a
pesquisa para escrever este livro, também percebi que muitos brasileiros podem
aprender com ele, valorizando e conhecendo a sua própria cultura e
história.
“Becoming Brazilian” é
dividido em duas partes. A primeira abrange o comportamento brasileiro,
crenças culturais, celebrações, gastronomia e história. Já a segunda
parte do livro aborda temas mais sérios e necessários para quem pretende viver
no Brasil. Acredito que os estrangeiros precisam aprender sobre as
raízes da desigualdade social, criminalidade e violência, bem como
da impunidade da corrupção e o “jeitinho brasileiro” para se ficar no
país.
Quando uma pessoa se
muda para um novo país, é esperado que ela experimente um choque cultural.
Portanto, se um estrangeiro vai viver e trabalhar no Brasil é importante
perceber que as diferenças culturais são reais e eles precisam aceitá-las como
tal. Isso pode parecer uma afirmação óbvia, mas para alguém que nunca viveu em
um país estrangeiro, seu único quadro de referência é seu país de
origem.
É natural e normal ver
outras culturas através de um prisma de seus próprios valores culturais, mas
esse conflito inicial de costumes pode ser minimizado ao estudar sobre as
características e peculiaridades do país de destino. Caso contrário, o choque
cultural pode impactar seus humores e pontos de vista sobre a vivência em um
país estrangeiro.
Saber o básico sobre os
costumes locais pode evitar grandes problemas
Os brasileiros são
muito acolhedores com os estrangeiros e a maioria dos expatriados se adaptam
bem ao Brasil. Mas, também tenho visto viagens de negócios mal sucedidas por
falta de compreensão da cultura brasileira.
O livro possui um
capítulo sobre como os estrangeiros podem evitar “micos” que eventualmente
acontecem por incompreensão dos costumes locais. Embora às vezes essa
incompatibilidade de hábitos seja engraçada, já vi importantes
negociações comerciais serem prejudicadas porque o estrangeiro se recusou a
cumprimentar todos na sala ou não quis beber um cafézinho; ações aparentemente
inofensivas, mas que criam uma atmosfera ruim. Algumas das recomendações
presentes no livro são:
- O
sinal “OK” não está bem. Pode soar ríspido. Use o sinal de polegar
para cima para dizer que está tudo bem.
- Os
brasileiros lhe oferecerão pequenas xícaras de café em muitas circunstâncias.
Pegue o café! Recusar café pode ser indelicado.
- Evite
comer com os dedos. Os brasileiros raramente comem comida com os
dedos, e se o fazem, usam um guardanapo ou um palito para evitar tocar na
comida. Se você acha que é hora de usar os dedos para comer, olhe
como os brasileiros fazem.
- Evite
criticar o Brasil, mesmo que os brasileiros com quem você está sejam
críticos! O Brasil, como outros países, tem muitos problemas, mas os
brasileiros também estão imensamente orgulhosos de seu país. Esta é
uma situação complicada. Nunca comece uma conversa com uma crítica
sobre o Brasil e tenha cuidado em criticar o país mesmo que seus
anfitriões tragam algum tema. A conversa pode se voltar rapidamente contra
você. Em geral, tente evitar esse tema ao menos que conheça seu
anfitrião brasileiro intimamente.
Outros capítulos
abrangem a etiqueta brasileira adequada e saudações para as situações
empresariais e sociais. Além disso, “Becoming Brazilian” também explica as
expressões brasileiras como: “Para
inglês ver”, “saudades”,
“rapadura é doce, mas não é
mole não”.
O título também explica
um pouco mais sobre o termo “Brazilian Time”, comum nas comunidades expatriadas
e que se refere à forma como os brasileiros lidam com o tempo de forma
relativa, dependendo do que você está fazendo e onde você está no
Brasil. Lidar com o tempo brasileiro é uma das coisas mais desafiadoras
para os expatriados.
Abaixo, deixo algumas
outras dicas e orientações presentes no livro:
Regras gerais sobre
como navegar no “Brazilian time”:
- Seja
pontual para todas as funções de negócios. Você está lá para trabalhar e
você transmitirá uma boa impressão se chegar na hora - mesmo que seus
anfitriões não.
- Reconheça
que ainda existem razões legítimas para atrasos no Brasil. Tráfego, tempo,
e outros atrasos também são motivos válidos.
- Na
maioria das vezes, ainda é socialmente aceitável e razoável estar 30
minutos atrasado.
- Não
leve para o lado pessoal se os brasileiros se atrasarem, é um hábito e
culturalmente aceitável. Não é sobre você.
- Nunca
agende reuniões consecutivas. Agende intervalos de 30 minutos entre
as reuniões. Uma pausa entre as reuniões ajuda você a evitar se atrasar
durante o dia.
Ensinando costumes em
um país de dimensão continental
Como o Brasil é um país
muito extenso, diverso e complexo para generalizar, um capítulo se dedica a
explorar cada região através de sua história, cultura e comida. O livro
evita estereótipos brasileiros de cada região, informando ao leitor de cada
área única para que ele se decida.
Já a segunda parte do
título analisa questões comuns a todos os brasileiros. Desigualdade
social, crime, corrupção e a complicada legislação que torna a vida e os
negócios no Brasil tão difíceis.
“Becoming Brazilian”
explora esses temas ao mesmo tempo em que dá conselhos de bom senso. Por
exemplo, em um capítulo sobre criminalidade e violência explora as origens do
PCC, do Comando Vermelho e das milícias, ao mesmo tempo em que fornece dicas
úteis para a segurança pessoal.
Um dos meus capítulos
favoritos é sobre “Jeitinho brasileito e Malandragem”. Eu defendo que o
jeitinho é um costume brasileiro maravilhoso para ajudar uns aos outros com os
problemas cotidianos:
“Pense em olhar para duas paredes em sua
casa. Em uma parede você tem sua vida real, e na outra parede você tem
toda a regulamentação de regras, e convenção social que existem em um estado
grande e ineficaz. No meio onde o muro da vida real cruza o muro das
regras, no canto está o"Jeitinho Brasileiro". É o
lugar onde a realidade se encontra com as regras."
Finalmente, grande
parte do livro é dedicada à história brasileira e à política colonial
portuguesa, que deixou um legado de tantos problemas que o Brasil enfrenta até
hoje. O Brasil é o único país do hemisfério ocidental a se unir sob uma
monarquia e os principais problemas atuais estão enraizados nessa história
única. Exploro muito sobre brasileiros que resistiram às políticas
coloniais portuguesas, monarquia e a escravidão. É uma simplificação
excessiva dizer que tudo de bom sobre o Brasil é o brasileiro e culpar os
problemas do Brasil aos portugueses, mas também há um grão de verdade
nisso.
“Becoming Brazilian” é
um livro que muito se parece com o povo brasileiro: otimista, divertido e
dinâmico. Os problemas do Brasil, às vezes, parecem insuperáveis, mas
olhando com cuidado e atenção para a história que o país carrega, espero
contribuir para que os estrangeiros possam ver o quanto o Brasil
progrediu.
Sobre Thomas
Augustin Winter
Thomas Winter vive no
Brasil há mais de 20 anos. A maior parte de sua carreira profissional foi
com empresas multinacionais de comércio agroindustrial que atuam na América
Latina. Ele tem três filhas brasileiras/americanas. Possui MBA em Gestão Internacional
pela Thunderbird School of International Management e bacharel em Economia pela
Colorado College. Atuou no conselho de administração da Escola
Internacional de Curitiba e da Escola South Kent. Ele tem faixa marrom no
Jiu-Jitsu brasileiro. Atualmente, mora em São Paulo, onde trabalha como
consultor e auxilia organizações com formação de equipes e eventos
interculturais.
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