Lagartas na cultura do milho – Conhecer para manejar bem o sistema
“Lagartas na cultura do milho – Conhecer” foi o tema da palestra da pesquisadora Simone Martins Mendes, especialistas na área de entomologia, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas). Ela ministrou o tema no evento virtual “Manejo Integrado de Pragas em Soja e Milho”. A palestra foi dada no primeiro dia do evento, 6 de julho aos técnicos da Sementes Jotabasso. O segundo dia foi dia 8 de julho com outros dois pesquisadores. O moderador do evento foi o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rodrigo Arroyo Garcia.
O chefe geral da Embrapa Agropecuária
Oeste fez a abertura e agradeceu a parceria de todos os colaboradores da
Jotabasso, com a qual a Embrapa Agropecuária Oeste e Embrapa Milho e Sorgo
realizam diversos trabalhos ”O grande objetivo desse evento não é só passar
experiência, transferir conhecimento, mas fortalecer a parceria. Estamos
trabalhando de forma integrada. Um grande momento de nossas ações, de estreitar
as conversas”, pontuou.
Maria Marta Pastina, chefe adjunta de
P&D da Embrapa Milho e Sorgo disse que foi muito satisfatório para a
Embrapa Milho e Sorgo participar desse treinamento. “Agradecer a equipe da
Jotabasso que já é parceria da Milho e Sorgo e agradecer o convite da Embrapa
Agropecuária Oeste.”
Fernando Rocha, engenheiro agrônomo da Jotabasso,
viu como oportunidade importante a Embrapa ter disponibilizado o curso.
“Trabalho com a Embrapa há muitos anos.”
Lagarta-do-cartucho do milho
A pesquisadora Simone Martins Mendes
mostrou aos participantes algumas pragas do milho, mas deu enfoque à
lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Segundo Simone, a lagarta-
do milho está presente em todo lugar que se cultiva milho no País. Apesar de
ser um inseto conhecido, o manejo não tem sido feito de forma adequada. “Então,
é necessário entender mais sobre a bioecologia desse inseto.”
Ela lembra que a cultura do milho não
está sozinha no campo. Há soja, sorgo, braquiária, entre outras culturas. A Spodoptera
frugiperda é campeã em fazer a ‘ponte verde”, pois pode se alimentar de
mais de 300 espécies de plantas. Ela exemplifica a questão do sistema de
produção com um problema com a cigarrinha “que, apesar de não ser polífoga,
começou a explorar a nossa falha no campo em controlar o milho tiguera, relata
a pesquisadora.
A Spodoptera frugiperda
faz postura em camadas, colocando de 100 a 150 ovos em cada massa de ovos, que
pode ser de até três camadas sobrepostas. “É importante entender a biologia da
praga para usar as estratégias de controle, como o controle biológico a favor.
Esse inseto passa 15 dias na forma de lagarta. Depois, passa à fase de pupa no
solo por dez dias no máximo em uma camada de 5 cm do solo. Chega à fase adulta,
mariposas. Completa o ciclo de acasalamento colocando os ovos de novo”, explica
o processo.
Em sua apresentação, Simone falou que,
depois de eclodidas, cada massa de ovos dessas lagartas pode colonizar de seis
a sete plantas. Esse inseto começa a se alimentar na folha do milho raspando-a.
“A injúria que ela faz é uma mancha translúcida, e é importante estar de olho.
É necessário associar a injúria com o tamanho do inseto para saber o que pode
ser feito de controle”, indicou.
A preocupação que se deve ter é depois
dos sete dias, quando a lagarta já está alojada dentro do cartucho, e se
alimenta muito. De sete a 15 dias, o inseto tem velocidade rápida de
crescimento, já fura a folha e causa grande desfolha, nesta época, pouca coisa
será feita no controle”, afirma Simone, que complementa: “Muitas vezes, dentro
desse comportamento, somos chamados a intervir quando há pouco a se fazer.”
Nas condições de cultivo nacional, ao se
abrir o cartucho do milho, encontra-se lagarta de todos os tamanhos
(sobreposição de gerações). “É algo que a gente não quer que aconteça. Já
estamos perdendo o time do controle. O foco do controle é para a lagarta
média e para pequena.”
Então, se há inseto de todo tamanho no
cartucho, que método utilizar para controlar? A pesquisadora indica que se
realize o controle das pequenas e médias lagartas. “Qualquer ação para tirar a
lagarta grande de dentro do cartucho é mais difícil. Até sete dias, ele não
está totalmente alojado. Usar o volume de calda recomentado na bula e com
tecnologia de aplicação adequada pode resolver o problema”, disse.
Outro fato que tem acontecido no campo é
a lagarta-do-cartucho com hábito de lagarta rosca. Simone explica que “ela
roleta a planta, eliminando toda a planta. Isso pode ocorrer devido ao manejo
da cultura anterior, ou da desseca mal feita. Infestação alta de
lagarta-do-cartucho. Essa pode ser considerada a pior injúria, porque ela tira
uma planta produtiva totalmente da lavoura”.
Ela também falou sobre a ocorrência da
lagarta no milho solteiro e no milho consorciado. “No consórcio encontra-se
muito mais cartucho por área, com maior disponibilidade de abrigo para o
inseto. Na brachiaria ruziziensis, a lagarta pode sobreviver até
mais que em milho, considerando hospedeiro principal do inseto. Simone e outros
pesquisadores testaram outras 14 plantas no sistema, do gênero Panicum e
braquiárias. A lagarta se desenvolveu mais na braquiária ruziziensis, contudo
na cultivar Massai, o inseto não completa o ciclo, por exemplo.
“Dentre as 14 plantas estudadas para ver
a adaptação do inseto, algumas favoreceram mais a sobrevivência; em outras, a
biomassa maior; em outras o período de desenvolvimento mais curto. A B.
ruziziensis, marandu e paiaguás são plantas que têm que se preocupar com
infestação, fazer um manejo melhor, utilizar bionseticidas, controle biológico,
inseticidas. A Spodoptera frugiperda não é praga de braquiária, mas pode
criar um problema no manejo da praga na lavoura de milho, dessa forma devemos
fazer um manejo diferenciado”, ressaltou Simone.
Outro cuidado que ela chamou a atenção
foi para as plantas daninhas, como capim pé de galinha, que também pode ser
hospedeiro da praga. Outra questão importante é observar as plantas hospedeiras
dentro da paisagem agrícola como um todo.
Manejo Integrado de Pragas
(MIP)
MIP: manejo cultural, manejo
comportamental, tecnologia Bt, controle químico, resistência da planta, extrato
de plantas. De forma integrada, buscando maior sustentabilidade. Segundo
Simone, para isso, é preciso conhecer bem o sistema de produção, fazer
armadilha de feromônio e vistoriar o campo. A folha raspada e folha
inicialmente furada está no ponto de controle (20% de plantas atacadas até V8).
Nesse caso, o custo do manejo e custo da produção também deve ser levado em
consideração.
Uma das formas de controle é a
Tecnologia Bt. Entre os benefícios é que é uma tecnologia fácil de usar,
eficiência de controle, logística, possibilidade de associação no MIP. Porém,
apresenta alguns problemas como preço, concentração de mercado e evolução da
resistência da praga à tecnologia.
Segundo Simone, em breve haverá uma nova
ferramenta para o manejo da praga baseada no uso de feromônio aplicado em área
total. “Haverá disrupção do acasalamento, com consequente redução da postura
das mariposas, o que pode contribuir muito para redução da praga no sistema de
produção, facilitando seu manejo.
Existe um problema além da lagarta: o
percevejo e a cigarrinha. ”A atenção deve ser dada ao milho tiguera, hospedeiro
da cigarrinha no campo e fonte para os patógenos causadores do
enfezamento. “Por isso o manejo de pragas deve ser pensado como um todo
nos sistemas de produção
Quanto ao controle químico da Spodoptera,
existem no mercado de 200 produtos para controle dessa lagarta. Nesse
sentido, dentre todas as opções, além da efetividade , eficácia e custo,
vale à pena focar no uso de inseticidas seletivos aos inimigos naturais e com
menor impacto ambiental.
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