Uma jornada em busca do ESG
Por Francisco Perez*
Muito tem se falado sobre os crescentes
desafios ambientais e sociais que a humanidade está enfrentando. São frequentes
os alertas sobre as consequências desses desafios para a economia mundial, como
mudança climática, escassez de recursos, perda da biodiversidade, desmatamento,
pobreza, desigualdade e desrespeito aos direitos humanos.
A importância desses temas é inegável.
Ao redor do mundo, países, empresas e indivíduos participam de uma corrida
saudável em busca de uma relação entre humanidade e planeta que seja
sustentável a longo prazo. Em 2015, o relatório ‘O dever fiduciário no século
XXI’, elaborado pela iniciativa PRI (Principles for Responsible Investments –
Princípios para Investimentos Responsáveis), da ONU, corroborou entendimento de
um parecer jurídico emitido em 2005, da própria entidade, e esclareceu que “é uma
quebra do dever fiduciário não considerar geradores de valor de longo prazo,
inclusive questões ambientais, sociais e de governança (ESG) na gestão de
recursos”. Esse posicionamento tem impulsionado instituições financeiras e
gestores de recursos a embarcarem na jornada por uma sociedade mais responsável
e sustentável.
No Brasil, já podemos observar diversas
iniciativas implementadas por instituições financeiras tradicionais que vêm
repensando suas políticas e produtos para estarem alinhadas às diretrizes ESG.
Isso, sem dúvida, representa um ganho muito importante e já se reflete na
cadeia financeira. A prova disso é que a maioria das fintechs criadas
atualmente trazem, entre suas principais preocupações, dar respostas às
questões ambientais, sociais e de governança.
Um levantamento recente, realizado pela
empresa de pesquisa sobre investimentos Morningstar, mostrou que foram criados
85 produtos considerados sustentáveis no ano passado, tendo um aumento
significativo quando comparamos com 2019, que foram originados apenas seis. O
valor captado foi igualmente expressivo, totalizando R$ 2,5
bilhões.
Apesar destes números serem animados,
não podemos negar que ainda existe um longo percurso a ser percorrido para que
estas práticas sustentáveis estejam, de fato, difundidas no mercado. Além
disso, é importante considerar que a maioria de nós não age de forma
irresponsável ou insustentável voluntariamente, mas sim por falta de
alternativa, conhecimento ou ambos.
Por isso, precisamos praticar a
inclusão, sobre a qual tanto se discute nos últimos anos, e abraçar países,
empresas e indivíduos aos quais ainda não foram permitidos adquirir o
conhecimento ou alcançar o estágio de maturação necessário para adotarem as
melhores políticas e exercerem as práticas mais eficazes para que a existência
da humanidade neste planeta possa ser chamada de sustentável. Que sejam
bem-vindas todas as iniciativas nesse sentido e que sejamos tolerantes com os
diferentes estágios de entendimento e as dificuldades daqueles que se propõem a
iniciar a jornada, mas ainda não encontraram o caminho.
Aprendamos com o exemplo das iniciativas
de inovação aberta que proliferaram entre as organizações na última década e
encontraram na colaboração a fórmula para inovar, se reinventar e sobreviver.
Colaboremos também todos nós, governos, empresas e indivíduos, para que novas
formas de organização da sociedade e condução dos negócios floresçam e permitam
que encontremos mais justiça e menos desigualdade num planeta mais saudável.
Governos, criem medidas que penalizem as
práticas não sustentáveis e incentivem as mais responsáveis por parte de
empresas e indivíduos. Empresas, exerçam relações mais humanas com a sociedade,
representada por empregados, fornecedores, clientes, governos e comunidades.
Indivíduos, assumam responsabilidades nos papéis de cidadãos, consumidores,
investidores e educadores.
* Francisco
Perez, diretor de Novos Negócios do Banco Alfa
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