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Violência contra as mulheres: uma realidade afirmada por padrões e comportamentos

(*) Luciana da Silva Rodrigues

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A pandemia causada pela Covid-19 fez o mundo imergir em uma grande crise e continua afetando drasticamente a vida humana em diversos setores sociais. O isolamento social representa uma importante estratégia na luta contra o vírus e na redução do número de casos confirmados. Porém, para as mulheres, esse isolamento levou a uma convivência intensa com seus parceiros e evidenciou outra crise que se estende há tempos em nossa sociedade: a violência doméstica.  

Esse grave problema social tende a enfraquecer a vítima, afetando sua autoestima, a tal ponto de interferir nas relações sociais e, em alguns casos, chegando à morte. De acordo com pesquisa de junho deste ano realizada pelo Instituto Datafolha e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um aumento de 6,8% nos casos registrados de violência contra as mulheres na comparação aos dados de 2019. Outra informação relevante apresentada refere-se ao perfil dos agressores: pessoas muito próximas da vítima como pai, irmão, marido ou outras do convívio familiar. 

No Brasil, a realidade de violência contra as mulheres é alvo de debates na busca por soluções que favoreçam o diálogo, a conscientização e o enfrentamento deste grave problema. Muitas ações já foram estabelecidas, como a promulgação da Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) que objetiva punir e coibir os atos de violência, bem como fomenta a criação de órgãos voltados para proteção da mulher e orientação da população sobre os tipos de violência que normalmente acometem as vítimas. Apesar deste amparo legal acionado pelas vítimas nos casos de violência, ainda temos muitas mulheres que se sentem acuadas pela dependência financeira ou emocional do parceiro, preferindo esconder a situação de vulnerabilidade em que vivem. Esse comportamento ocorre principalmente por não se sentirem seguras e amparadas, sobretudo pela falta de eficiência e atendimento dos órgãos que deveriam assegurar sua integridade física e emocional. 

A violência contra as mulheres é inflamada por comportamentos, e eles se manifestam pela influência de conceitos construídos socialmente, ao longo do tempo, e repassados entre as gerações. A prevalência de relações interpessoais pautadas na impunidade, na injustiça, na dominação, na desigualdade de direitos e no poder dão origem a comportamentos e atitudes sexistas e misóginas que sustentam e caracterizam a falta de diálogo, de respeito e empatia entre homens e mulheres.   

Pesquisas como do Instituto Datafolha, intitulada “Uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência na pandemia no Brasil”, apontam qutodos os dias milhares de mulheres sofrem algum tipo de violência, seja ela física, moral, psicológica, sexual ou patrimonial. E os poucos casos que são divulgados nos meios de comunicação tendem a reacender a discussão sobre o assunto, chocam a população, dão visibilidade ao agressor e vitimizam ainda mais as vítimas, até se tornarem mais uma ocorrência em meio a tantas outras.  

Tendo em vista esse panorama, como mudar essa realidade? Quais ações e medidas devem ser tomadas para transformar o espaço social em um local de respeito a todos? É possível afirmar que esse mal está tão penetrado culturalmente que se torna difícil esperançar, conforme nos dizia Paulo Freire, por uma realidade diferente da atual. Mas, romper com este ciclo de violência se faz urgente e é responsabilidade de todos os grupos sociais. Precisamos desnaturalizar comportamentos ‘inofensivos’ que legitimam a construção de estereótipos. Afinal, essas construções já não se aplicam a uma sociedade que anseia dar fim a uma história longa demais de desigualdade e preconceitos direcionados às mulheres. 
 
(*) Luciana da Silva Rodrigues é mestranda em Educação e pedagoga. Atua como tutora dos cursos de pós-graduação em Educação do Centro Universitário Internacional Uninter  
 

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