A mentira como inimiga da vida financeira saudável
*João Victorino
Uma pesquisa
divulgada pela American Psychological Association concluiu que as pessoas
tendem a mentir para parecerem honestas. O ser humano tem uma altíssima
capacidade para criar mentiras, aumentar histórias e exagerar a descrição de
acontecimentos passados. A dissimulação e outras estratagemas, em muitos casos,
nos servem quase como uma realidade alternativa à nossa. Sempre melhor que a
real, claro.
O psicanalista Donald Winnicott, por
outro lado, desenvolveu o conceito de falso-self
em 1960. Trata-se da criação de uma vida, ou perfil próprio,
alternativo ao real e com o objetivo de nos defender das exigências e das
ameaças ao ambiente externo que, muitas vezes, são agressivas para nós. Nos
dias de hoje, as mídias sociais são o reinado do falso-self. Pouco do que se vê no Facebook,
Instagram e outras redes é a realidade. Pouco do que se mostra ali transparece
a verdade, concorda?
Os danos causados por essa “fuga” podem
ser vários. Para a vida financeira das pessoas essa atitude pode trazer
prejuízos muito grandes. Desde não querer ver o saldo da fatura do cartão, até
não saber qual o valor total da dívida - para aqueles muito endividados - ou
então não querer prestar atenção nas taxas de juros e nos custos de um
empréstimo. Todas essas são formas alternativas de mentiras e de evitar a
realidade.
Para que nossa vida financeira floresça
e entre em equilíbrio, precisamos de verdades completas. A informação completa
- e sempre atualizada - do que possuímos, do que devemos, de quanto temos de
investimentos são pressupostos para termos uma vida equilibrada
financeiramente. Mesmo os que já possuem investimentos e sobras de recursos não
podem se dar ao luxo de negligenciar essas informações. Quais são as taxas e os
custos dos seus investimentos? Você sabe?
A verdade causa a mentalidade de
fartura, nos ensina a psicanalista Anna Lembcke. Nos traz a garantia de que as
promessas serão cumpridas e que o mundo pode ser melhor amanhã do que é hoje. A
verdade nos aproxima de um mundo organizado, previsível e seguro.
Quando estamos em dificuldades, o melhor
que desejamos do mundo são alternativas de saída para os problemas e que estas
sejam seguras. Preenchendo nossos atos de honestidade, estaremos fortalecidos
por uma tranquilidade que no ambiente das falsificações e mentiras é impossível
existir. A verdade simplesmente é!
Meu pai dizia que, após uma mentira,
precisamos criar uma lista interminável de outras mentiras para justificar cada
uma delas, que vão piorando ao longo do tempo. Na verdade, basta afirmar o que
é. No ambiente de mentira, o mundo acontece ao contrário e não dá a
possibilidade de sentir que você sinta segurança e estabilidade. Recomendar que
você tenha honestidade não me parece meu papel aqui, mas reforçar o alerta para
o risco da atitude oposta em sua vida financeira, sim, deve ser o papel dos
educadores financeiros.
João Victorino é administrador de empresas e especialista em finanças pessoais. Formado em Administração de Empresas e com MBA pela FIA-USP
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