A volta às aulas na maior pandemia do século
Gladisson Silva da Costa (*)
Aquele normal “pré-pandemia” acabou! É difícil aceitar, mas acabou. Não sabemos quando essa pandemia irá regredir, ou se ela irá regredir, tendo em vista o avanço das novas variantes do coronavírus. Desta forma, lidando com a realidade disponível, estamos caminhando para o segundo ano da pandemia sem vislumbrar sequer onde está a luz no fim desse túnel.
Dentro desse turbilhão de mudanças, as instituições de ensino não ficaram ilesas e foram drasticamente impactadas nas suas rotinas pela pandemia. Um local de aglomeração por excelência, a escola teve que fechar as portas logo após a identificação dos primeiros casos de COVID no país e se adaptar ao ambiente virtual. Embora algumas escolas tenham lidado relativamente bem com esse “novo normal”, foi uma mudança traumática porque foi rápida e intensa.
Como mecanismo de defesa, as escolas migraram suas atividades do mundo físico para ao mundo virtual, como se estivessem apenas esperando a tempestade passar para, então, voltar à sua estrutura secular que, apesar de muito defasada, praticamente funciona sozinha (para o bem ou para o mal).
Depois de mais de 18 meses de pandemia, a situação real mostra que a tempestade não vai passar tão cedo e, quando passar, vai deixar um cenário bem diferente daquele vivido no longínquo ano letivo de 2019.
As escolas, em sua grande maioria, entretanto não se preparam para este novo momento de convivência com a pandemia. Não há um plano de reforma significativa nas instituições de ensino público do país, buscando adaptá-las a esta nova realidade. Não fizeram alteração definitiva em suas rotinas e em sua estrutura física para um possível retorno às aulas presenciais em meio à pandemia.
Basicamente, o que as escolas fizeram foi inserir na dinâmica escolar protocolos sanitários que incluem disponibilização do álcool em gel, e algumas medidas paliativas de inibição de aglomerações (quem já visitou alguma escola na vida, sabe que tais medidas são bem fantasiosas)
As edificações das escolas do nosso país foram pensadas e construídas sob uma lógica que se aproxima mais de um sistema prisional do que educativo. A ventilação e a iluminação das salas são péssimas (e agora, perigosas!), as áreas de convivência são mínimas e evitar a aglomeração de docentes e discentes é quase impossível. Além disso, é bom lembrarmos que a quantidade de alunos por sala no Brasil é absurda, sobretudo nas escolas públicas.
Diante desse quadro, a gritaria pelo retorno das aulas no pico da pandemia é cruel, insensível e irresponsável.
É necessário e urgente pensarmos em mudanças na dinâmica das escolas que possibilitem o retorno seguro das aulas presenciais em um ambiente onde a pandemia esteja minimamente controlada, uma vez que o fim dela ainda está muito distante. A escola de dois anos atrás acabou. E, quanto mais cedo digerirmos isso, melhor. Essa constatação parece óbvia, mas, parafraseando Bertolt Brecht, estes são tempos em que é necessário dizer o óbvio.
Sempre se falou da necessidade de se modificar a estrutura arcaica das escolas. A pandemia esvaziou as escolas e permitiu que mudanças importantes fossem adotadas. Nada foi feito, e agora nossas crianças e adolescentes seguirão aguardando um momento em que a educação será tratada com a importância que merece. A maior pandemia do século não foi suficiente para isso.
(*) Gladisson Silva da Costa é Especialista em Metodologia do Ensino de História e Professor dos cursos de Letras e História da área de Linguagens e Sociedade do Centro Universitário Internacional Uninter
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