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Busca ativa com participação de alunos contribui para volta às aulas com redução total da evasão escolar provocada pela pandemia em colégio do Sergipe

Diretor garante permanência dos estudantes com adesão da escola ao Ensino Médio Integral, utilizando estratégias pedagógicas avançadas do modelo

Os professores têm sido um dos principais motores para a retomada da educação em meio à pandemia, reduzindo a evasão escolar ampliada com o isolamento social e o ensino remoto e impulsionando o retorno às aulas presenciais ou on-line, após o período de recesso. No Brasil, práticas como a Busca Ativa, estimulada inclusive pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), têm sido adotadas com mais frequência para aproximar a escola dos estudantes e garantir as salas de aula completas. Empenhados, os docentes conduzem missões diárias, visitando pessoalmente os alunos e as respectivas famílias, recuperando pontualmente o interesse de cada um pelo retorno aos estudos. Elaboram estratégias criativas e inovadoras, convocando até as próprias classes, em verdadeiros mutirões, para que possam colaborar no trabalho de recuperação dos colegas. Esse é o caso da escola pública de Ensino Médio Integral Edélzio Vieira de Melo, localizada em Santa Rosa de Lima, no estado de Sergipe.

Um dos protagonistas dessa história, Almir Pinto, atual diretor da instituição, encarou o desafio de tentar compreender as razões que levaram os estudantes a se afastarem do processo educacional formal e acrescentou a novidade ao modelo de Busca Ativa. Hoje, o gestor conta com a participação das turmas nas visitas aos alunos que deixaram de ir à escola. O método ajudou a reduzir a zero a taxa de evasão escolar, que já superava os 43%, antes dessa e de outras ações que vieram na sequência. De porta em porta, os grupos conseguiram devolver os alunos desistentes à rotina escolar presencial ou virtual, inclusive com a entrega de aparelhos portáteis doados para o acompanhamento das aulas síncronas e assíncronas.

A ideia do incremento não surgiu à toa. Almir conversou com os pais dos estudantes e também ouviu a comunidade para entender qual solução seria mais efetiva. A convocação das crianças e adolescentes para as saídas foi calculada. O que ele não imaginava era que isso provocaria uma grande revolução educacional naquela comunidade.

Ensino Médio Integral

Com os alunos nas salas, o diretor viu a necessidade de implementar outros projetos que garantissem não somente a volta desses alunos, mas também sua permanência na escola. Decidiu adotar, por exemplo, a modalidade de Ensino Médio Integral, uma metodologia pedagógica multidisciplinar que se baseia em pilares como o acolhimento, aprendizado na prática, tutoria e protagonismo juvenil para desenvolver o currículo escolar no período.

"Quando eu solicitei a colocação da escola no Programa de Ensino Médio Integral, os colegas da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (SEDUC) me questionaram se eu tinha certeza, porque a escola só tinha 4 salas de aula, não tinha quadra, não tinha laboratório, não tinha vestiário… Como eu daria conta de uma escola em tempo integral que não tinha estrutura nenhuma? Todos eles reprovaram e disseram que não conseguiríamos. Mas com muita determinação, reuni o conselho e levei todos os documentos preenchidos. No fim, não puderam negar a proposta", contou Almir.

A administração liderada pelo diretor conseguiu uma reforma no valor de R$ 2 milhões e 400 mil para construir uma quadra e ampliar para cinco salas de aula, com estrutura mais adequada para receber e auxiliar os estudantes em suas jornadas.

Projeto de Vida

Um dos motivos do abandono escolar que acontecia no Edélzio eram as alunas que engravidavam e que não tinham com quem deixar as crianças. Com a ajuda e iniciativa de uma professora, Almir implementou o projeto “Bebê a Bordo”, que recepcionava e desenvolvia espaços para que as adolescentes grávidas, que deixavam a escola, voltassem a estudar e pudessem trazer seus filhos.

O diretor também investiu nos projetos de vida dos estudantes. "A disciplina Projeto de Vida é algo que faz parte do programa de Ensino Médio Integral, mas a parte de promover o Protagonismo é onde o gestor fica responsável. Comecei então a convidar e incentivar os alunos a criarem seus clubes. Alguns criaram grupos de música, de dança, de jogos, entre outros. Criamos também o Clube de Protagonistas, em que reunimos quinzenalmente os presidentes dos Clubes para planejar ações voltadas à escola e ao engajamento de todos.", explicou Almir.

Entre as diversas histórias emocionantes que o diretor Almir coleciona desde sua chegada à escola Edélzio, duas se destacam. A primeira é do aluno Danilo, que depois de ser expulso de sua última escola, foi acolhido e orientado por Almir, que o incentivou a estudar Direito. Diante da sua insegurança com os estudos, o diretor acabou se oferecendo para cursar a Universidade ao lado dele. "Fomos colegas de classe e hoje ele tem 22 anos. É advogado, com OAB, e também assessor jurídico do município de Santa Rosa de Lima. Um dos nossos maiores orgulhos.”, disse o diretor.

Almir ainda compartilhou a história de um outro aluno, que tinha o sonho de ser “matador” - devido à sua difícil realidade fora da escola. “Um dia ele foi até a escola e pediu transferência do período noturno para o Integral, pois queria investir no seu sonho e ser salvo de uma vida sem futuro”, relembra. O aluno passou a ser protagonista de um novo Projeto de Vida, o de barbeiro. “Dei uma máquina de barbear a ele e ele transformou sua vida. Viajou para São Paulo, fez cursos, aprendeu novas técnicas e se profissionalizou. Hoje ele voltou para casa e é uma outra pessoa!”, contou o diretor emocionado.

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