Filtro nas redes sociais: Pense bem antes de usá-lo com uma criança por perto
A nova febre das redes sociais é usar um filtro na imagem para assustar as crianças. Especialistas mostram que essa brincadeira pode ser perigosa.
Fabiano de Abreu/Créditos de: Divulgação / MF Press Global |
Existem duas expressões
antigas que, mais do que nunca, estão diretamente relacionadas ao tempo que
vivemos e à presença maciça de tanta gente nas redes sociais. “Brincadeira tem
limite” e “uma imagem vale mais que mil palavras”. Se depender da nova modinha
do Instagram e do Tik Tok, aí que elas se encaixam perfeitamente. E podem
causar sérios problemas, também.
A novidade da vez nas
plataformas digitais é a possibilidade de usar um filtro onde a imagem da
pessoa ganha uma “cara de cavalo”. Existem vários vídeos de usuários usando deste
artifício e, muitos deles acabam fazendo uma brincadeira, a princípio inocente,
de assustar uma criança com aquilo que está ali em tela. Para piorar, o grande
x da questão é que as pessoas gostam de filmar e expor a reação do outro ao ver
aquela foto.
Para o público
infantil, esta brincadeira não tem a menor graça. E trazer sérios problemas,
alertam o neurocientista Fabiano de Abreu e a neuropsicóloga Leninha Wagner. Ela explica que “como a
criança não tem essa percepção que os adultos têm, por não ter ainda sua
cognição desenvolvida, isso de fato pode ser um fator causador de um impacto
traumático. Nessa fase da vida, ela nutre deposita toda a sua confiança e seu
instinto de sobrevivência naquela pessoa que está ali, e ao ver que ela se
transformou em um ‘monstro’, pode causar uma péssima impressão que vá
prejudicar seu desenvolvimento”.
Leninha Wagner/Créditos
de: Divulgação / MF Press Global |
A razão disso? Leninha
explica que durante a infância a imagem chega ao cérebro da criança carregado
de afetos. “Aquilo assume um sentido e um significado para ela. Então quando é
algo que causa um impacto emocional negativo, como neste caso, pode ser
um marcador traumático. A criança passa a nutrir quase que uma síndrome do
efeito pós-traumático, pois ela passa a olhar aquela pessoa e esperar que em
algum momento ocorra aquela transformação que ela viu naquela imagem. Nós
adultos sabemos separar a vida virtual da real, mesmo que o nosso cérebro nem sempre
consiga fazer isso”. Um exemplo disso, conta a neuropsicóloga, “é quando
colocamos um óculos de realidade virtual e vemos um vídeo de uma montanha
russa. Por mais que estejamos parados no mesmo lugar, o nosso corpo vai reagir
de um modo fisiológico como se aquilo realmente estivesse acontecendo. Daí
pode-se imaginar como uma criança vai reagir àquela imagem”.
Uma explicação
biológica para isso é detalhada pelo neurocientista Fabiano de Abreu: “No
instante de alegria da criança em que ela está em interação com o genitor, ela
não só libera neurotransmissores da recompensa, como também está formatado
novas conexões sinápticas. O momento de estranheza da mudança da figura aciona
o sistema límbico como mecanismo de defesa, já que não é mais o genitor que
está ali representado”. Além disso, ele acrescenta que de imediato “quando ela
passa por um choque desses, isso vai alterar a produção desses
neurotransmissores interceptando assim no córtex pré-frontal. O resultado é
essa insegurança e medo que afeta profundamente o seu intelecto”, completa.
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