Projeto que mapeia a biodiversidade nas casas de SP receberá investimento de R$ 570 mil
Com uma proposta interdisciplinar de ecologia urbana, o biólogo Raul Costa Pereira é um dos selecionados da 4ª Chamada Pública do Instituto Serrapilheira
O ecólogo Raul Costa Pereira Diogo Zacarias |
São Paulo, agosto de
2021
– Quantas espécies de animais e microrganismos podem viver em uma residência
localizada em uma grande metrópole como São Paulo (SP)? Como nossas ações e
hábitos individuais influenciam esse ecossistema de espécies urbanas? Para
responder a essas perguntas e entender toda a complexidade de seres que habitam
as casas da capital paulista, o ecólogo Raul Costa Pereira, pesquisador da
Unicamp, foi um dos selecionados pela 4ª
chamada pública de apoio à ciência do Instituto Serrapilheira,
primeira instituição privada, sem fins lucrativos, de fomento à ciência no
Brasil.
Durante três anos ele
receberá um financiamento da instituição de R$ 570 mil para investigar a enorme
heterogeneidade de organismos do mosaico doméstico paulistano influenciado pela
ação humana. A partir da uma técnica conhecida como DNA ambiental, o
pesquisador vai colher amostragens, como poeira, para identificar seres que
ficam invisíveis ou escondidos aos nossos olhos.
“Outra ferramenta que
vamos usar são os isótopos estáveis, que nos permitem analisar as fontes de
alimentação dos animais, incluindo aranhas, formigas e seres ainda menores. Com
isso, reconstruiremos cadeias alimentares inimagináveis a olho nu”, explica
Pereira. Segundo o ecólogo, essas análises têm o objetivo de mensurar as
diferenças na biodiversidade dos mais variados perfis de residências. “Vamos
entender ponto a ponto o que muda na composição de uma casa com jardins em
comparação com ambientes domésticos sem plantas e mais pavimentados”,
esclarece.
De acordo com o
cientista, as informações que o estudo pretende obter ainda podem ter impactos
na economia e na saúde, ao identificar pragas que podem causar danos às
construções ou espécies responsáveis por doenças como alergias e infecções.
Influência da pandemia
Pereira começou a
formular o projeto intitulado “Ecos da diversidade social e desigualdade na
biodiversidade” ao ficar mais tempo em casa por causa da pandemia de covid-19.
Foi quando passou a observar as interações que acontecem dentro dos
ecossistemas residenciais.
Além de servir como um
estalo inicial, o coronavírus foi o motivador para outro eixo do estudo. “Vamos
pesquisar locais como a Unicamp, onde por quase sessenta anos sempre existiu
uma circulação intensa de pessoas. Com essa interrupção abrupta na pandemia,
vimos que algumas espécies como as formigas, que necessariamente dependiam de
açúcares de restos de comida para se alimentar, mudaram a sua dieta a partir de
outros recursos diferentes dos trazidos pelas pessoas que frequentavam o
local”, revela o pesquisador.
Projetos ousados
É justamente essa
originalidade que chamou a atenção no projeto do ecólogo, um dos 12
selecionados em meio a 505 inscritos na 4º chamada pública de apoio à ciência
do Instituto Serrapilheira, que destinará um recurso total de R$ 6,6 milhões
para os pesquisadores escolhidos e suas equipes. O objetivo da organização é
financiar cientistas que desenvolvam projetos de pesquisa fundamental inéditos
e ousados, mesmo que envolvam estratégias de risco. Para receber apoio, é
necessário que a pesquisa traga uma contribuição nova, não sendo uma repetição
de iniciativas anteriores, além de passar por um processo de seleção que inclui
entrevistas com revisores internacionais.
Segundo Cristina
Caldas, diretora de ciência do Instituto Serrapilheira, o edital visou
selecionar um portfólio diverso de projetos que combinam excelência científica
com diferentes graus de risco. “Formar cientistas custa caro e leva tempo.
Precisamos garantir que os talentos já formados, cuja excelência ficou evidente
na seleção, tenham acesso contínuo a recursos”, afirma Caldas. “Acreditamos que
apoiar jovens pesquisadores no início de suas carreiras, com recursos de longo
prazo e flexíveis, quando estão montando suas equipes e laboratórios, é um
modelo que merece ser amplificado por outras organizações.”
Sobre o Instituto
Serrapilheira
O Instituto
Serrapilheira é primeira instituição privada, sem fins lucrativos, de fomento à
ciência no Brasil. Criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar
sua visibilidade, além de fomentar uma cultura de ciência no país, a
instituição atua com dois focos principais: ciência e divulgação científica. No
âmbito da ciência, o Serrapilheira, além de identificar e apoiar pesquisas de
excelência de jovens cientistas, promove treinamentos e eventos de integração.
Quanto à divulgação científica, o instituto identifica e dá suporte a projetos
profissionais de jornalismo e mídia. Desde sua criação, o Serrapilheira já apoiou
127 projetos de pesquisa e 55 projetos de divulgação científica, nos quais
foram investidos mais de R$ 40 milhões oriundos de um fundo patrimonial de R$
350 milhões.
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