Desafio do TikTok envolvendo medicamento que pode ser prejudicial à saúde vira febre
O desafio Roacutan pode trazer sérios problemas à saúde de crianças e adolescentes. Neurocientista cita os perigos que muitos pais e responsáveis nem sabem que os filhos estão correndo com essa “brincadeira” das redes sociais.
Uma nova
modinha nas redes sociais acendeu o sinal de alerta para os pais e responsáveis
de crianças e adolescentes. A “brincadeira” no TikTok consiste em postar o
“antes e depois” do nariz depois que a pessoa toma um remédio chamado Roacutan.
Mas, na verdade, a medicação é indicada para tratamento de acne e seu uso
indiscriminado pode trazer sérios problemas para os jovens, devido aos efeitos
colaterais.
Outro agravante é a
quantidade de postagens na rede social sobre o assunto. Somadas, as hashtags
'roacutancheck' e 'roacutanchallenge' já chegam a 29 milhões de visualizações.
Segundo a proposta do desafio, a ideia é que os usuários apresentem uns para os
outros os supostos efeitos dessa medicação no tamanho e formato do nariz. Só que, como explica o PhD,
neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu, o remédio possui dentre
seus componentes a isotretinoína, que “é uma
substância que diminui as glândulas sebáceas, mas é preciso lembrar que ela faz
efeito apenas naquelas pessoas que estão com um quadro de acne severa”. Além
disso, ele lembra que a medicação pode causar outros danos para a saúde. “Para
se ter ideia, a venda de Roacutan é proibida para mulheres em idade fértil,
pois nesses casos o bebê tem até 30% de chances de nascer com problemas
graves”, ressalta.
Do ponto de vista relacionado à saúde
mental, Fabiano explica que “ao serem instigados a realizar os desafios
propostos na plataforma, o organismo dos jovens libera a dopamina, que é um
neurotransmissor responsável pelo sentimento de recompensa. O grande problema é
que ele é viciante e dá uma sensação de bem-estar, e assim a pessoa fica cada
vez mais com desejo de se ‘alimentar’ deste desejo. E quanto ela mais conquista
os desafios propostos, mais ela consegue este objetivo de se ‘nutrir’ da
dopamina”, detalha.
Enquanto isso, a pandemia obrigou muitas
crianças e adolescentes a passarem mais tempo em casa, longe da escola e do
contato presencial com os amigos, o que agravou este problema, observa o
neurocientista. “Ao ficar mais tempo em casa para acessar as redes sociais, o
jovem acaba ficando mais ansioso. E quanto mais ele ficar assim, mais vai ficar
dependente da dopamina, pois ela vai trazer um ‘alívio’ para aquela situação. O
problema é que com isso se abre um ciclo sem fim, pois cada vez mais a pessoa
fica refém daquela sensação aqui descrita”, acrescenta. Até que chega a um
ponto em que a saúde mental fica prejudicada, lamenta o neurocientista: “Quando
se ultrapassa o limite a pessoa passa a ter uma disfunção no sistema límbico,
que é onde se regula a emoção no cérebro. A pessoa perde a racionalidade,
porque o córtex pré-frontal, que fica nessa região do lobo frontal, passa a não
funcionar corretamente”.
Mas, por que cada vez mais jovens
aceitam fazer desafios como estes? Para Fabiano, "isso tudo é uma
necessidade de querer ser visto e lembrado. É uma espécie de narcisismo, tanto
que isso aumenta esse desejo de ser aceito e acaba se tornando uma espécie de
competição, pois o jovem passa a querer cada vez mais ser aceito pelos outros.
Existe uma ideia já culturalmente enraizada de que quem tem seguidores nas
redes sociais é quem é mais bem sucedido, o que é algo totalmente equivocado.
Por isso eu posso afirmar que a rede social é um dos maiores males, se não o
maior, da atualidade, e poderá se converter ainda em uma série de problemas
futuros”, completa.
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