O fantasma da crise na Evergrande
Por Henrique Zimmermann, Head Nordeste da VLG Investimentos
A alta alavancagem financeira da
incorporadora Evergrande vem gerando preocupação nos mercados globais. Suas
dívidas superam os 300 bilhões de dólares com vencimentos milionários de juros
que, provavelmente, não será capaz de honrar. A quebra da empresa poderia
deixar mais de um milhão de pessoas que compraram imóveis na planta sem suas
casas, além de criar um grande problema financeiro para seus credores
(principalmente BlackRock, HSBC, Ashmore, UBS e Royal Bank of Canada). O dono
da empresa, atualmente, está entre os dez homens mais ricos da China e a
empresa usou toda essa alavancagem para diversificar seus investimentos em
outros setores como: futebol, carros elétricos, parques temáticos, seguros,
saúde etc.
Para completar o cenário de incertezas,
temos o fato de o governo chinês ter demonstrado que não está muito contente
com o excesso de alavancagem das empresas privadas. Recentemente, tomou algumas
medidas mais autoritárias para conter o crescimento de algumas 'big techs'.
Investidores pelo mundo todo estão
relembrando que em 2008 o 'moral hazard' (risco moral) de socorrer o Lehman
Brothers foi o catalisador da crise financeira nos EUA e desencadeou uma quebra
generalizada de bancos via crise das hipotecas imobiliárias.
Entretanto, o mercado bancário chinês é
quase que 100% público e, provavelmente, o governo deve estudar com muito
cuidado quais impactos teriam uma não intervenção e socorro para a empresa. A
verdade é que os mercados não gostam de incerteza e buscam precificar o risco
antecipadamente. Os mercados acionários globais tiveram queda generalizada no
dia 20 de setembro, já em sinal de aversão a riscos.
Vale lembrar que o Brasil tem uma forte
relação comercial com a China e esses cenários de incerteza e volatilidade
acentuada tendem a levar a valorização do dólar contra as moedas mundiais,
pressionando a inflação brasileira, a qual já está próxima de dois dígitos no
acumulado de 12 meses. Para ilustrar isso, dia 20.09 a bolsa brasileira fechou
caindo 2,33% a 108.843 pontos e o CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu
10,3%, para 198,75 pontos (o CDS é um derivativo serve como uma medida de
risco-país).
Nos últimos dias, diversos analistas se
posicionaram dizendo que não acreditam que o governo chinês deixará a empresa
quebrar, pois o impacto seria muito negativo para a economia local. Entretanto,
acreditam que perdas acontecerão e que devemos monitorando esse caso de perto.
Henrique Zimmermann - Sócio e Head Nordeste da VLG
Investimentos, Administrador, pós-graduado em Finanças IBMEC / Certificado como
Especialista em Investimentos ANBIMA e CFP pela Planejar.
Nenhum comentário