Um outro olhar para a psicologia
*Beatriz Breves
Ainda como estudante, pude perceber que
a construção teórica da psicologia — o estudo do comportamento humano, através
de suas diferentes escolas de pensamento, se estruturava, conforme o pensamento
científico do século XX, no paradigma cartesiano. Aprendi o ser humano modelado
como uma máquina perfeita, tendo o sistema neuronal como engrenagem
principal de onde surgiria a emoção — uma resposta química — e o sentimento
como sendo a sua reação. Visão que consagra o materialismo e a primazia da razão.
Entretanto, vislumbrando a
universalidade dos sentimentos, pois desde a pré-história o ser humano
sente com a mesma semelhança vibracional, entendi que o sentir ultrapassava os
tempos, as épocas e as culturas.
Amor, ódio, fé e os mais de quinhentos
sentimentos conhecidos são vivenciados como constantes universais humanas,
variando conforme a época e a cultura em suas expressões, mas não nos seus
conteúdos vibracionais.
Não é difícil compreender alguém de
outra época ou cultura se nos fala que sentiu desprezo, paixão, etc. e isto
porque somos capazes de sentir a vibração de cada sentimento de maneira
equivalente. Natural, há que se considerar a experiência subjetiva, ao exemplo
de se ouvir uma música. Mesmo a canção sendo a mesma, cada pessoa irá escutá-la
conforme a sua experiência de vida.
Desta forma, comecei a estudar o sentir
a partir da transdisciplinaridade. Além da psicologia, graduei-me em física,
tendo como objetivo compartilhar outro olhar de mundo. Nesta trajetória,
partindo da psicologia, psicanálise, física, biologia e artes, cheguei a um
campo novo que nomeei de Ciência do Sentir.
Meus estudos então migraram para o
paradigma vibracional, onde a natureza, inclusive, a natureza humana, se fez
compreendida como um complexo vibracional uno, inteiro e indivisível, onde o
ser humano é concebido como um complexo vibracional cuja experiência de si
mesmo é o Sentir. Sentir que se expressa através dos sentimentos — carinho,
mágoa, etc.; das sensações — frio, calor, etc.; e dos pensamentos, que
neste paradigma se apresenta como uma expressão do sentir, ou seja, aquela
vibração que foi processada em pensamentos e que confirma que se acessamos ao
que pensamos é porque podemos sentir os pensamentos.
Assim, mente e corpo são uno,
representam imagens de um complexo que, em um universo hoje compreendido em dez
dimensões de espaço e uma de tempo, tem a sua totalidade una reduzida pelo
sistema perceptivo humano em três dimensões de espaço, o que resulta na
capacidade simbólica e na ilusão de divisão e materialidade.
Compreendidos por este olhar, os
sentimentos são elevados ao lugar de atores principais nas cenas de nossas
vidas, direcionando, dessa forma, a psicologia para o paradigma vibracional.
Não é difícil comprovar que o sentir,
sendo uma complexidade, compõe o nosso Eu. Se estamos felizes torna-se
mais fácil lidar com a vida, mesmo e apesar das dificuldades. Mas se estamos
insatisfeitos torna-se mais difícil lidar com a vida, mesmo e apesar das
facilidades.
A questão é que vivemos em uma cultura
que desdenha os sentimentos, aponta como fraqueza demonstrar o que sente: o
homem que é homem não chora e sentir vergonha nem se fala. Fez-se um mito de
que o ser humano superior teria domínio integral de seus sentimentos,
apresentando-se frio e calculista. E, nesse contexto, aprendemos a reprimir ou
a tentar domar os sentimentos, quando de fato a riqueza e a evolução humana
está na experiência dos sentimentos e em suas transformações.
Segundo a ciência do Sentir, os
sentimentos são como diamantes que precisam ser lapidados para assim gerar
riquezas internas, possibilitando as pessoas adquirirem recursos para gerenciar
as suas relações, assim como a própria vida.
Neste paradigma emerge o Eu Sensível,
aquele recorte do Eu que, conseguindo experienciar o sensível conscientemente,
viabiliza o sabor do Eu, ou seja, o sentimento de Eu que cada pessoa possui de
si mesma.
* Beatriz Breves é psicóloga,
psicanalista, bacharel e licenciada em Física. É presidente, membro efetivo e
fundador da Sociedade da Ciência do Sentir (SoCiS) e autora de 8 livros sobre o
tema, entre os quais o lançamento Entre
o mistério e a ignorância – o desvendar da psiquê humana.
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