Alta de insumos e taxa de juros não deve impactar otimismo do mercado imobiliário
por Antonio Setin*
O segundo semestre já começou, mas as
perguntas sobre o que esperar do mercado imobiliário brasileiro neste novo
ciclo têm sido feitas desde o início da pandemia. Não é para menos. O setor vem
apresentando viés de recuperação, superando expectativas e batendo recordes de
vendas. Quando, no início da crise sanitária, se esperava uma queda livre, ele
decolou.
O segmento imobiliário, por definição, é
cíclico. De acordo com inúmeros dados que comprovam esse aquecimento nos
últimos meses, estamos em um ciclo vivo e saudável. Conforme indicadores da
Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), desde fevereiro
de 2020, é a primeira vez que o setor retoma a alta simultânea de vendas e
lançamentos em 12 meses.
A baixa taxa de juros cobrada nos
financiamentos habitacionais e a queda gradual da Selic favoreceram esse
cenário. Atrelado a isso, o trabalho remoto fez com que muitas pessoas
passassem a olhar para suas residências de forma mais minuciosa e a reconhecer
o imóvel como um lugar muito importante em nossas vidas. O que antes era lazer
passou a ser também um local de trabalho. As fronteiras ficaram mais borradas e
cresceu, perpendicularmente, a busca por plantas maiores.
Apesar dos bons resultados obtidos no
primeiro semestre deste ano, a alta do preço dos insumos de construção civil
tem ligado o sinal de alerta e pode frear construções e, consequentemente,
lançamentos de empreendimentos. Desde o início da pandemia, o aumento no custo
do aço, alumínio, cimento e madeira obrigou incorporadoras e construtoras a
reajustarem os preços ao consumidor. Todo o setor se viu, então, diante do
desafio de cumprir os cronogramas de entrega das obras.
Segundo a CBIC (Câmara Brasileira da
Indústria da Construção), 57,1% das companhias do setor apontaram a falta ou o
alto custo dos insumos como um problema no primeiro trimestre deste ano. Essa
preocupação tem crescido a tal ponto que a elevação no preço dos materiais deve
continuar impactando diretamente o setor no segundo semestre.
Não é segredo que o mercado espera uma
alta na Selic, impactando, assim, o financiamento de imóveis. O Banco Central
projeta que a taxa chegue a 7% até o final de 2021, obrigando o mercado
imobiliário, que estava pegando altitude, a puxar um pouco o freio de mão.
Contudo, vale lembrar que em governos anteriores o setor surfou uma forte onda
de alta nas vendas nos tempos em que a taxa foi artificialmente reduzida para
esse mesmo patamar.
Costumo dizer que, no setor imobiliário,
as mudanças são constantes e abruptas. Apesar de alguns obstáculos no caminho,
o mercado segue aquecido porque ainda há uma crescente demanda por habitação no
país. Claro que as expectativas positivas dependem da melhora da economia para
que se confirmem. Como sou um eterno otimista, acredito que o mercado continue
a ser a bola da vez entre os investimentos.
*Antonio Setin é fundador e presidente
da Setin Incorporadora
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