Inclusão Digital: 34 milhões de brasileiros ainda não estão bancarizados
Por: Melisa Murialdo www.omelhortrato.com
Além da desburocratização que facilita o acesso a diversos serviços financeiros e o crescimento das fintechs que aproveitam o melhor da tecnologia, é preciso investir e promover a educação para garantir a inclusão financeira.
São inegáveis os efeitos da pandemia da Covid-19, em alguns
setores o impacto foi negativo, mas em outros afetou “positivamente”. A
pandemia trouxe diversos desafios, que em muitos casos foram aproveitados para
o desenvolver inovações e promover o crescimento pessoal e das empresas.
Esse é o caso do mercado financeiro, que apesar de se
ver afetado pelos altos índices de inadimplência atual (72,9%, segundo
os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de
agosto publicados pela CNC), do alto índice de desemprego (14,1% no segundo
trimestre deste ano) e da baixa lucratividade dos negócios, projetam um cenário
otimista.
Mesmo sem poder prognosticar as dimensões da crise, as diferentes
empresas e instituições do setor estão tomando atitudes proativas desde o
ano passado para garantir seu desenvolvimento e minimizar os efeitos. Uma
das principais ações foi a migração dos serviços e do atendimento para
os aplicativos, redes sociais e outros canais digitais. O que garante
maior disponibilidade de serviços e horários para os correntistas e gerou um
relacionamento mais rápido e menos burocrático, demonstrando maior interesse
das instituições pelo cliente.
Estimular o atendimento por meio do mobile banking e o uso dos
canais digitais para fazer pagamentos, foi uma necessidade no começo do ano de
2020. No entanto, agora é uma tendência, não só do mercado financeiro, mas
também de todos os negócios e empresas que estão implementando estas
estratégias.
Os consumidores superaram a desconfiança que
tinham dos canais digitais e começaram a usar mais esta modalidade, por
exemplo, com a simplicidade do Pix para fazer pagamentos ou o uso do QR code.
Isso, apesar dos riscos reais destas operações, que ajudaram a desenvolver o
segmento de tecnologias voltadas a garantir a segurança no mundo digital.
Confiança
no sistema: cada vez são mais os brasileiros bancarizados
De acordo com o último informe do Global Findex
Database, em 2017 69% da população mundial possuía conta em um banco,
aumento de 7 p.p. desde a versão anterior da pesquisa, em 2014. Nesse estudo
era considerado bancarizado quem possuía conta em alguma instituição
financeira, e se destaca o fato que o porcentual que brasileiros que faziam
pagamentos por meios on-line era insignificante.
O que fazia as pessoas permanecerem por fora do
sistema bancário era, principalmente, a falta de renda (57,8% dos
desbancarizados). Em segundo lugar, com 56,5%, estava o custo para formar parte
do sistema; em terceiro o fato de um familiar já estar bancarizado (50,8%). Por
último e não menos importante, a falta de confiança no sistema (25%).
Uma pesquisa nacional um pouco mais recente, feita pelo Instituto
Locomotiva, aponta que em agosto de 2019, havia 45 milhões de
brasileiros que estavam desbancarizados. Quantidade que caiu para 34
milhões em janeiro deste ano. Entre elas, 16,3 milhões não têm conta em nenhum
tipo de instituição financeira e 17,7 milhões têm conta bancária, mas usam com
pouca frequência ou não possuem acesso aos produtos.
Atualmente são em torno de 127,4 milhões de
brasileiros (67%) que possuem contas bancárias, 51% em
grandes bancos como a Caixa Econômica Federal, o Bradesco e o Banco do Brasil.
Mas 39% possuem conta em bancos digitais, o Nubank, por exemplo, aparece depois
destes grandes bancos como preferência dos entrevistados.
As vantagens dos bancos digitais respondem ao que em 2017 os
brasileiros viam como aspectos que impediam o acesso ao sistema: oferecem maior
confiança e menores custos, fato que agrada ao 66% da população que considera
que as taxas cobradas pelos bancos para ter uma conta são muito elevadas,
segundo esta pesquisa. No entanto, ainda 65% das pessoas bancarizadas são titulares de contas básicas, apenas
para receber e sacar dinheiro.
Inclusão
no sistema e a importância da educação financeira
Além das novas tecnologias e produtos, o processo de Open Banking está colaborando para que
cada vez mais pessoas se somem a contratar serviços digitais. Este sistema de
regulação aberta dá maior controle aos usuários sobre seus dados, sobre quais
produtos consumir e onde. Mas também está estimulando a diversificação de
produtos e permitindo a maior participação das novas startups do segmento. O
que possibilita a aplicação de inovações e mudanças aceleradas no mercado
financeiro.
A cada dia, nossas vidas se vinculam mais com o
mundo digital. Neste sentido, os desenvolvimentos na área de
cibersegurança, por si só, não são suficientes, é preciso da conscientização
dos usuários. Isto é fundamental para garantir o aproveitamento destas novas
tecnologias e todas as possibilidades que nos apresentam.
Os usuários dos canais digitais, especialmente do sistema
financeiro, devem estar por dentro de como funcionam os serviços que consomem e
também sobre como operam os sistemas que sua instituição disponibiliza. Afinal
de contas, um dos principais motivos de desconfiança das pessoas é o aumento
das fraudes. O desconhecimento é a principal forma que os criminosos usam
para manipular suas vítimas, que por pouca informação ou ingenuidade confiam
neles.
É preciso, tanto do investimento na inclusão
financeira como também predisposição dos clientes para procurar informação e
ficar por dentro, pelo menos dos serviços que mais utilizam. Afinal
de contas, estar incluído financeiramente não é só ter uma conta bancária, é
também aceder aos produtos e saber usar os serviços de forma vantajosa.
A inclusão financeira traz benefícios tanto para o indivíduo
como também para a sociedade. Por exemplo, ao facilitar e permitir que mais
pessoas possam fazer compras on-line, existe um movimento maior dos recursos
fomentando assim a economia, vemos isso nos registros de transações com cartões
de crédito ou débito.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões
de Crédito e Serviços (ABECS), os meios de pagamento digitais movimentaram
R$ 52,6 bilhões, provenientes do auxílio emergencial em 2020. Isto foi
possível graças ao aplicativo Caixa Tem, que permitiu a inclusão financeira de
milhares de brasileiros que estavam fora do sistema.
Também, durante a pandemia, houve um aumento de 32,2% no comércio on-line, onde o uso do cartão permitiu a movimentação de R$ 2 trilhões no ano passado, 8,2% a mais do que no ano anterior. O uso do cartão de crédito teve uma alta de transações de 2,6% e o cartão pré-pago de 107,4%.
Apesar da situação vivida e com as restrições impostas, as facilidades que as novas tecnologias trazem tanto para os negócios como para os consumidores são muitas. No entanto, é preciso conhecimento sobre as modalidades de comercialização que existem hoje em dia e das formas de segurança.
A digitalização já é inevitável, agora resta somar iniciativas que apontem a conscientização e a educação sobre os serviços financeiros, para aumentar a confiança dos consumidores e a maior adesão aos serviços.
Fontes: Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC); Global Findex Database 2017, Mambu, Banco Central do Brasil, Fintech OMT, Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), Confederação Nacional de Bens, Comércio e Turismo (CNC), Instituto Locomotiva, Agência Brasil
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