Nova regra de antecipação de recebíveis pode mudar de uma vez por todas a vida do micro e pequeno empreendedor brasileiro
*Por Felipe Valença, CEO da Acqio
Em junho deste ano entrou em vigor o
novo sistema de registro de cartões, promovido pelo Banco Central do Brasil
(BC). A nova norma visa elevar a liquidez dos lojistas e permitir que o
adiantamento de recebíveis seja feito com qualquer instituição financeira e com
fornecedores, fomentando o surgimento de novos modelos de negócio que venham a
beneficiar principalmente o pequeno varejo.
Até maio, a única opção do lojista para
antecipar estes pagamentos era negociar com a instituição financeira
fornecedora de sua maquininha de cartão ou com as adquirentes de cartão. Porém,
com a nova regra, esse montante pode ser direcionado para uma registradora de
recebíveis, nova instituição no mercado de adquirência.
Dessa forma, as transações feitas por
cartões no Brasil são catalogadas e, com a autorização dos lojistas, essas
informações podem ser cedidas para instituições interessadas em ofertar
crédito, como as fintechs, outras financeiras como securitizadoras, por
exemplo, e até empresas não-financeiras como indústrias, que fornecem para o
lojista. Na minha opinião, além de oferecer mais controle aos administradores,
a vantagem é que eles também podem optar pela melhor taxa para antecipar
pagamentos, independentemente de qual maquininha processou a venda, podendo
gerar uma queda de até 30% nas taxas de juros cobradas pelo adiantamento.
O cenário atual é de adaptação e ajustes
entre os players: na primeira semana, a Central de Recebíveis (Cerc) informou
que esperavam receber de 1 milhão a 2 milhões de consultas e na realidade foram
250 milhões. Por esse motivo, no primeiro mês desde a nova regra, essa troca de
informações sofreu diversos atrasos. Segundo as três empresas que estão
autorizadas pelo BC até o momento a fazer o registro de recebíveis de cartão –
Cerc, Câmara Interbancária (CIP) e TAG Tecnologia – a lentidão deveu-se,
principalmente, ao envio tardio de dados de contratos antigos, o que acabou
sobrecarregando o sistema.
Apesar disso, as expectativas em relação
à nova normativa de registro de recebíveis são bastante positivas. Muito devido
à compreensão de que a nova regulação tem real capacidade para reduzir a
diferença entre o custo do dinheiro para o banco e o que é cobrado dos
clientes.
Como um profissional com anos de
experiência no setor financeiro, é visível que este mês foi um aprendizado para
todos os envolvidos. Entretanto, podemos observar também melhorias já
implantadas e outras que estão em desenvolvimento. Minha expectativa é que nos
próximos meses, as soluções para os desafios que surgiram sejam implementadas.
É importante lembrarmos, também, que
essa nova regulação tende a gerar cada vez mais impactos positivos, já que,
neste primeiro momento, somente os setores regulados pelo BC estão atuando no
novo ambiente, mas as empresas de fomento comercial também poderão,
posteriormente, entrar no ecossistema.
Para complementar essa pequena lista de
expectativas positivas, observo que a nova norma de registro de recebíveis, por
estimular a competitividade, pode contribuir também para que os comerciantes
brasileiros descubram e comprovem as vantagens de modelos alternativos, como o
cooperativismo financeiro, além da liberdade de acessar os seus recebíveis e
negociá-los com o mercado da forma que bem entender.
*Felipe Valença possui mais de 20 anos
de experiência no mercado financeiro. Com passagens por Unibanco, Banco Safra e
Goldman Sachs, hoje é CEO da Acqio, fintech brasileira que atua como adquirente
e desenvolve soluções de pagamento para o varejo
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