23º FestCurtasBH anuncia vencedores das Mostras Competitivas
Os curtas premiados foram escolhidos por júri especializado e pelo público
Coletivo Olhares (Im)possíveis - Equipe de
direção do curta "Ano 2020", vencedor do prêmio do Júri Popular.
Paulo Lacerda / FCS
O 23º
Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte – FESTCURTASBH,
realizado pela Fundação Clóvis Salgado, anunciou
nesta terça-feira, 16 de novembro, os curtas-metragens vencedores
das Mostras Competitivas
Minas, Brasil e Internacional, além do melhor filme eleito pelo Júri Popular.
Entre os dias 04 e 15 de novembro, o público pôde acompanhar exibições online
na plataforma Cine Humberto Mauro/MAIS e em sessões presenciais, na sala Cine
Humberto Mauro.
Dos 118 curtas selecionados para a 23ª
edição do evento, concorreram ao prêmio de melhor curta, na Mostra Competitiva
Internacional, 20 filmes produzidos na Alemanha, Argentina, Bélgica, China,
Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Ilha da Reunião, Irã, Japão,
México, Palestina, Reino Unido, Rússia, Senegal, Singapura, Tailândia, Turquia,
e Venezuela. 10 filmes foram selecionados para a Mostra Competitiva Minas,
representando as cidades de Belo Horizonte, Contagem, Igarapé e Ouro Preto. E
para a Mostra Competitiva Brasil, foram selecionados 20 filmes, de 11 estados –
Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná,
Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe.
Confira os vencedores do 23º Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte
O curta-metragem “Les Tissus Blancs”, de Moly Kane
(França/Senegal, 2020,
20') foi o vencedor
da Mostra Competitiva Internacional. O filme recebeu o Prêmio
de melhor curta-metragem de R$5.000,00 e o Troféu Capivara – 23º FestCurtasBH.
A comissão julgadora foi composta por Adriano Garret (crítico de cinema), Julia
Katharine (diretora, roteirista e atriz) e Kariny Martins (curadora,
pesquisadora, roteirista e produtora).
Conforme salientou o Júri Oficial,
“diante da saturação física e mental provocada por mundos adoentados, quais
imagens e sons são capazes de produzir frestas que nos apontem para além de um
estado de anestesia? Como falar sobre dor e violência sem repisá-las, mantendo
ao mesmo tempo um grau de complexidade e mistério? Nos diálogos que construíram
a decisão deste júri, essas foram algumas questões que apareceram com força e
que nos levaram a pensar, discutir, repensar e questionar o que estávamos vendo
e ouvindo. O processo nos fez retornar inúmeras vezes aos filmes e a suas
relações com o extracampo, verificando o que eles nos davam, mas também (e
talvez principalmente) o que eles não nos davam. Chegamos então a uma obra que
tem a desobediência como força motora, produzindo um circuito ambivalente que
pendula entre o corpo emancipado e o corpo subjugado, a tradição e o seu
rompimento, a palavra e o silêncio. Ao acompanharmos ao longo de um dia a
caminhada de Zuzana, este ‘eu’ indelegável, forja-se aos poucos uma comunidade
entre público e personagem, culminando em um impenetrável olhar final. Por tudo
isso, concedemos o prêmio de Melhor Filme da mostra Competitiva Internacional
do 23º FestCurtasBH ao filme “Les Tissus Blancs”, de Moly Kane”.
“Para as Gerações que Vieram Antes de
Mim”, de Filipe Bretas Lucas (Belo Horizonte,
2021, 13'), foi eleito o
melhor filme da Mostra Competitiva Minas, pelo júri composto
por Denise da Costa (antropóloga e professora), Gabriel Araújo (jornalista,
programador e crítico de cinema), Graciela Guarani (produtora cultural,
comunicadora, cineasta, curadora de cinema e formadora em audiovisual). O filme
recebeu o Prêmio de melhor curta-metragem de R$5.000,00 e o Troféu Capivara –
23º FestCurtasBH.
Segundo os membros do Júri, “no filme, o
tempo parece seguir circularmente adiante, mas tendo sempre em vista o atrás, o
que passou e os que vieram antes. Por essas razões, caras para vislumbrarmos
possibilidades contemporâneas e futuras não só das obras audiovisuais, mas das
próprias manifestações políticas que conformam ideias de coletividade, elegemos
o curta de Filipe para o prêmio da Competitiva Minas. O mesmo concentra em si
temas caros presentes em muitos dos filmes trazidos ao festival. E ainda nos
lembra, com a generosa partilha dessa intimidade, a força de se abrir para o
público. Tendo o tempo, um dos deuses mais bonitos, regido essa mostra,
encerramos mais um ciclo onde a festa começa a ser uma possibilidade...”.
A melhor
produção da Mostra Competitiva Brasil foi “Você Já Tentou Olhar nos Meus
Olhos?”, de Tiago Felipe (Paraná, 2020, 04'). O filme recebeu o
Prêmio de melhor curta-metragem de R$5.000,00 e o Troféu Capivara – 23º
FestCurtasBH. O Júri foi formado por Claire LaSolle (curadora, programadora e
crítica de cinema), Emmanuel Lefrant (diretor e produtor cultural), Mariana
Queen Nwabasili (jornalista, pesquisadora e crítica de cinema).
De acordo com o Júri Oficial, “a
cinematografia e a locução compõem uma linguagem audiovisual que remete à
objetivação dos corpos que pode ocorrer em determinadas relações sexuais, neste
caso destacando quando isso pode acontecer em relações homossexuais entre
homens negros, que historicamente têm seus corpos hipersexualizados. Os
fragmentos de palavras ditas em voz mecânica servem para esquematizar a
repetição dessas trocas. Essa estratégia verbal, semelhante a um enredo, é
acoplada a magníficas fotografias em preto e branco para representar uma
fragmentação exagerada e repetida dos corpos, e em que corpo e mente aparecem
divididos. As fotos remetem também a ambientes de voyeurismo e sexo gay, como
saunas e banheiros. Por meio de uma sugestiva e sensível construção
cinematográfica que se contrapõe a qualquer exibicionismo, o filme propõe uma
representação de uma ‘relação líquida’. A duração do filme, uma velocidade
relâmpago, é como um sexo rápido de quatro minutos. O que é, no entanto,
desejado é um contato mais profundo, um simples contato visual, além do desejo
físico. Articulando bem e com muito tato forma e conteúdo, o filme propõe uma
forma inventiva e poética de questionar o desejo e a objetivação do outro em
relações sexuais”.
O filme "Yãy Tu Nũnãhã Payexop:
Encontro de Pajés", de Sueli Maxakali (Minas Gerais, 2021, 26') também foi
destacado, recebeu menção honrosa e receberá o Troféu Capivara – 23º FestCurtasBH. Para os
Membros do Júri, “com uma temporalidade específica, o filme é um importante
registro das formas culturais de resistência e sobrevivência indígenas à
pandemia de Covid-19 no Brasil, que já matou mais de 600 mil pessoas e afetou
camadas raciais e sociais da população brasileira de formas distintas.”
O público escolheu “Ano 2020”, de Coletivo Olhares
(Im)Possíveis (Ouro Preto, 2021, 16') como seu curta-metragem favorito da 23ª
edição do FestCurtasBH através da votação do Júri Popular. O
filme foi agraciado com Troféu Capivara – 23º FestCurtasBH e premiação de
R$3.000,00.
A potência do cinema em curta-metragem
O 23º Festival Internacional de Curtas
de Belo Horizonte, promoveu, ao longo de 12 dias, uma programação extensa,
diversificada e gratuita, com exibição de filmes em sessões presenciais e
virtuais, além de atividades formativas (debates, rodas de conversa,
masterclass, oficina) e exposição na Galeria Mari’Stella Tristão. O evento teve
alcance de público de mais de 22 mil pessoas, que aproveitaram a oportunidade
de acompanhar a programação pela internet, para conferir, de qualquer parte do
país e do mundo, as potencialidades estéticas e narrativas do cinema em
curta-metragem contemporâneo.
Para Bruno Hilário, programador do Cine
Humberto Mauro e Coordenador Geral do Festival Internacional de Curtas de Belo
Horizonte, “a vigésima terceira edição do FestCurtasBH demonstrou a relevância
desse evento no calendário cinematográfico brasileiro, criando pontes de
diálogo entre a produção mineira, brasileira e internacional, fomentando a
formação e o pensamento crítico. Foi extremamente importante verificar a
robustez dessa produção, que mesmo diante do enfrentamento à pandemia, que
tanto afetou a praxis cinematográfica, se demonstrou inventiva, criativa e
combativa. O retorno ao presencial também foi um destaque significativo porque
o FestCurtasBH devolveu a experiência cinema para o curta-metragem que possui
tão pouca janela de exibição no país. Realizar este evento de abragência internacional
potencializa as políticas públicas para o setor e aponta caminhos para a
manutenção da produção ao passo que traz visibilizade também às demandas de
diversos coletivos de artistas”.
Em 2022, o FestCurtasBH retoma com a
itinerância, a partir da liberação e retomada das atividades culturais no
interior do estado. Ainda no primeiro semestre de 2022, o Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte fará uma extensão de parte de sua
programação do festival em três regionais da capital mineira.
Sobre o FestCurtasBH
O 23º FestCurtasBH – Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte, aconteceu entre os dias 4 e 14 de
novembro de 2021. Na edição deste ano, para a qual foram recebidas 2.795
inscrições de 26 estados brasileiros e outros 111 países, o Festival exibiu uma
centena de filmes, entre mostras competitivas, paralelas e especial,
distribuídas ao longo de 28 programas. O Festival aconteceu através do
cineHumbertoMauro/MAIS, plataforma on-line exclusiva desenvolvida para abrigar
a programação do Cine Humberto Mauro, com acesso gratuito ao público e contou
com exibição de filmes, mostras temáticas, performances, master class e
debates, além da oficina de crítica Corpo Crítico, que chega a sua 4ª edição
consecutiva. O público teve, ainda, acesso à parte das sessões fílmicas de
maneira presencial, no Cine Humberto Mauro, respeitando as medidas sanitárias
em vigor, como obrigatoriedade do uso de máscaras e restrição da capacidade da
sala. O FestCurtasBH deu acesso a uma programação diversificada que apresentou,
no caso das mostras competitivas, produções recentes nacionais e
internacionais, bem como uma mostra de caráter competitivo dedicada
exclusivamente à produção mineira. Numa seleção que propôs formas singulares de
articular debates em torno dos filmes contemporâneos, as mostras paralelas
abordaram e friccionaram temáticas que incidem fortemente no presente: a
construção e/ou retomada de imagens, com suas necessárias implicações estéticas
e políticas e as representações de dimensões do trabalho no mundo
contemporâneo.
O FestCurtasBH apresentou também a
mostra especial Cosmopoéticas do (In)visível, formada por 5 programas e
dedicada ao pensamento do filósofo de origem francesa e centrafricana Dénètem
Touam Bona. A mostra se inspirou especialmente nas noções de cosmopoética e
marronagem tal como desenvolvidas pelo autor, propondo-se a pensar uma poética
da fuga e experiências furtivas de resistência através do audiovisual. A
marronagem, pensada "menos como uma forma de conquista do que de subtração
ao poder", um "processo contínuo de liberação", aponta para
experiências que atravessam tempos e espaços, sejam afrodiaspóricas, – como os
quilombos, quer históricos ou atuais, e em suas várias expressões: silvícola,
urbana, artística – , ameríndias, de refugiados e em várias outras formas de
"sabedorias astuciosas" que atuam em modo menor. A convite do
Festival, três curadoras e curadores criaram cada qual um programa, propondo um
diálogo entre sua própria pesquisa curatorial e a obra de Touam Bona. A esses
três programas, somam-se mais dois elaborados pela equipe de programação do
Festival.
O FestCurtasBH, a exemplo das edições
anteriores, promove a valorização da produção curta-metragista em seus diversos
contextos e abordagens, contribuindo para pensar a contemporaneidade junto ao
público em constante processo de formação e transformação, e evidenciar um
cinema engajado estética e politicamente nas diversas lutas históricas. Durante
os dez dias de evento, o público teve acesso a um conjunto representativo da atual
produção cinematográfica nacional e internacional, a filmes reunidos em torno
de temáticas de marcada relevância e, ainda, a obras que promovem uma conversa
fílmica fecunda e original com o pensamento de Dénètem Touam Bona, que tanto
nos interpela e instiga podendo conferir como produções em curta-metragem têm
expressado de forma inquieta e inventiva os processos históricos, urgentes e
emergentes.
O 23º FestCurtasBH é
realizado pelo Governo de
Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais,
pela Fundação Clóvis Salgado;
e correalizado pela APPA -
Arte e Cultura. Possui patrocínio master da Cemig, Anglogold Ashanti
e da Unimed-BH / Instituto Unimed-BH[1], por meio das Leis
Federal e Estadual de Incentivo à Cultura; da Codemge - Companhia de
Desenvolvimento de Minas Gerais, patrocínio ouro; da MGS - Minas Gerais
Administração e Serviços, patrocínio bronze, viabilizado com recursos da
Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte; e com o apoio cultural
da Embaixada da
França e Aliança
Francesa.
¹
O patrocínio da Unimed-BH / Instituto Unimed-BH é viabilizado pelo incentivo de
mais de cinco mil médicos cooperados e colaboradores.
A Fundação Clóvis Salgado é integrante
do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de
Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as
mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade
com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao
Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico,
com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda,
além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades
propostas.
CURTAS VENCEDORES DO 23º FESTCURTASBH
Melhor curta da Mostra Competitiva Internacional
“Les Tissus Blancs”, de Moly Kane
(França/Senegal, 2020, 20')
Sinopse: Les Tissus Blanc elabora um breve, mas
complexo, circuito social que tem na protagonista Aissa (Awa Ba) a catalisadora
de tensões acerca do tabu central à narrativa e parte ainda vigente do Senegal
contemporâneo. Um filme que, acima de tudo, se envereda no valoroso interesse
de transformar em cinema uma questão, no mínimo, muito complexa.
Melhor curta da Mostra Competitiva Minas
“Para as Gerações que Vieram Antes de
Mim”, de Filipe Bretas Lucas (Belo Horizonte, 2021, 13').
Sinopse: Com um título-dedicatória, Para as
gerações que vieram antes de mim é construído pela narrativa fragmentada da
história de uma família a partir de arquivos pessoais em vídeos e fotografias
que são enquadradas cuidadosamente. Lacunas convivem com as lembranças e
apontam para a complexidade do racismo estrutural que atravessa as relações
pessoais.
Melhor curta da Mostra Competitiva
Brasil
“Você Já Tentou Olhar nos Meus Olhos?”,
de Tiago Felipe (Paraná, 2020, 04')
Sinopse: Um corpo negro tira a roupa na frente do
espelho.
Mostra Competitiva Brasil - Menção
Honrosa
"Yãy Tu Nũnãhã Payexop: Encontro de
Pajés", de Sueli Maxakali (Minas Gerais, 2021, 26')
Sinopse: vermelho, amarelo, vermelho, vermelho,
amarelo, preto.
cantam, fortalecem, afugentam.
Melhor curta - Votação do Júri Popular
“Ano 2020”, de Coletivo Olhares
(Im)Possíveis (Ouro Preto, 2021, 16')
Sinopse: Diante de um ano tão difícil, fazer um
filme se torna um espaço de invenção. Jovens que moram na periferia de Ouro
Preto mobilizam um mosaico de miradas e de gestos. Com força de polifonia, um
grupo diz sobre o desafio de aprender em casa e sobre maneiras de se cuidar.
Com gesto múltiplo, um coletivo expressa o processo mesmo de construção grupal
por meio das imagens, pela relação que se pode formar a partir de filmar e de
montar, enquanto se caminha e se faz numa cena.
SERVIÇO
23º FESTCURTASBH - Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte
Data: 4 a 14 de novembro de 2021
Local: Cine Humberto Mauro - Palácio das
Artes - Av. Afonso Pena, 1537 - Centro, Belo Horizonte / MG
e pela plataforma Cine Humberto Mauro/MAIS - www.cinehumbertomauromais.com/
Informações: www.fcs.mg.gov.br, www.festcurtasbh.com.br
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