A conta do metano não deve ser paga apenas pelo produtor rural
Por
Sergio Schuler
Há poucos
dias na COP26, em Glasgow na Escócia, o Brasil assinou um acordo que prevê a
redução da emissão de metano em 30% até 2030. No mundo, 44% das emissões desse
gás são oriundas da agropecuária, 37% de processos de geração de energia e 19%
do descarte de resíduos¹. Para 2021, previsões indicam que o agronegócio deverá
representar 30% do PIB nacional². Parte dessa participação do setor no PIB
brasileiro é fruto da exportação da carne de gado.
Entendendo a
relevância da proteína na economia do país e, por consequência, o tamanho do
rebanho bovino em território nacional, fica claro que o principal caminho para
cumprir o acordado é atuar diretamente na pecuária, mais especificamente na
fermentação entérica, ou, no popular, no arroto do boi.
Dados do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações mostram que o processo digestivo
do gado é responsável por 19% das emissões nacionais³. No entanto, pesquisas e
práticas já demonstram que a pecuária pode sim reduzir essas emissões e
contribuir de maneira robusta para o alcance das metas e, consequentemente,
para a diminuição do aquecimento global.
Algumas
medidas que podem auxiliar o produtor a reduzir ou balancear as emissões já
estão sendo amplamente disseminadas. Alguns bons exemplos são as práticas para
a recuperação de pastagens degradadas; sistemas integrados de produção como
lavoura-pecuária, pecuária-floresta ou lavoura-pecuária-floresta; uso de
bioinsumos; manejo dos resíduos da produção animal; redução da idade de abate;
aumento da produtividade, entre outros.
No entanto,
não basta botar a culpa no produtor e não haver ações para possibilitar que ele
tenha acesso a mecanismos para a melhoria da eficiência do sistema de produção
e para a intervenção na fermentação do boi. Os técnicos de campo precisam ser
conscientizados e capacitados nessas novas tecnologias para que saibam levam
informação consistente aos produtores rurais.
Posteriormente,
é imprescindível que haja incentivos financeiros e políticas públicas que
contemplem a questão. Além disso, é essencial incentivar e financiar a
pesquisa, porque é a ciência que nos mostra o caminho para resultados cada vez
mais efetivos. Há urgência na tomada de novas medidas, mas a redução das
emissões e o cumprimento desse acordo demanda uma ação conjunta e não apenas cobrança
em cima do campo, mas em todos os setores como dos resíduos, de energia, da
indústria etc.
Sergio Schuler ocupa a presidência da Mesa Brasileira da Pecuária
Sustentável (GTPS) e é vice-presidente de Negócios de Nutrição e Saúde Animal
para Ruminantes na DSM.
¹WRI 2018,
emissões globais de metano 8,06Gt em CO2eq. Disponível em: https://bit.ly/3koI5D0
²PIB do
Agronegócio Brasileiro – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada –
Esalq/USP. Disponível em: https://bit.ly/3kkZ1u7
³Sistema de Registro Nacional de Emissões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações Sistema de Registro Nacional de Emissões. 4º Inventário Nacional, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3C9kZ9S
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