Fim do Auxílio Emergencial e início do Auxílio Brasil muda perfil de beneficiários e contribui para desaquecimento da economia em 2022
Segundo levantamento da proScore, beneficiários
das políticas de transferência de renda voltam a ser majoritariamente mulheres,
com idade média de 37 anos
A criação do novo Auxílio Brasil e o
eventual fim do Auxílio Emergencial nos moldes atuais deverá alterar as
relações de consumo no Brasil e desaquecer o mercado consumidor, considerando a
queda no número de beneficiários. Hoje há pelo menos 39 milhões de pessoas
atendidas pelo Auxílio Emergencial e 14 milhões recebem o Bolsa Família. Os
grupos se misturam, eventualmente, uma vez que algumas pessoas e famílias
recebem os repasses somados, além de outros benefícios.
Mais de 22 milhões de brasileiros
deixarão de receber recursos do governo a partir deste mês, novembro de 2021,
segundo cálculos do Ministério da Economia. O Auxílio Brasil, porém, atenderá a
um grupo de 17 milhões de brasileiros até o final do ano, segundo estimativa do
governo federal. A redução na circulação de recursos no mercado é brusca, mesmo
com o reajuste de 17,84% em relação ao Bolsa Família, atingindo o valor mínimo
de R$ 217,18.
Além disso, outras mudanças devem
interferir de alguma forma, também, no perfil de consumo, devido a alteração no
sexo das pessoas que passam a receber as transferências de renda. O Auxílio
Emergencial colocou mais dinheiro nas mãos de pessoas do público masculino,
pois cerca de 44% dos atendidos são homens, em uma distribuição mais equânime
com as mulheres. No caso do Bolsa Família, agora Auxílio Brasil, elas são 90%
do grupo atendido, segundo dados da proScore, com recorte de maio a julho de
2021.
Outro grande diferencial fica por conta
do fim da obrigatoriedade de vínculo com os bancos públicos e abre espaço para
que haja migração a outras soluções bancárias. Não mudará, no entanto, de
acordo com o levantamento da proScore, o extrato de Estados com mais
beneficiários. Ou seja, embora o programa de emergência seja encerrado, o
dinheiro, mesmo em menor quantidade, continuará direcionado às mesmas regiões.
No caso do antigo Bolsa Família, 10% de todos os beneficiários estavam na
Bahia, em São Paulo, em Pernambuco, no Ceará e em Minas Gerais, no período
apurado. Já entre os cidadãos com recebiam o Auxílio Emergencial o grupo
continua o mesmo, trocando apenas Ceará pelo Rio de Janeiro.
“O que vamos observar com esses dados é
uma mudança no padrão de consumo que pode ser importante para o mercado. Não é
só o fato de os homens serem o grupo que mais perderá dinheiro com o corte de
recursos, mas também a população que recebe é mais carente e tem urgências
sociais que não impulsionam o mercado ou a economia. Ainda temos poucos dados,
mas já podemos vislumbrar um impacto direto no aquecimento da economia,
acompanhando resultados consequentes do aumento das taxas de juros e a alta
inflação. Vamos esperar para conhecer o percentual desse choque”, explicou
Mellissa Penteado, CEO proScore.
Valor mínimo
O valor mínimo de R$ 217,18 do Auxílio
Emergencial, que passa a ser Auxílio Brasil, poderá ser alterado para R$ 400
até o fim de 2022, caso seja aprovada a PEC dos Precatórios. Os recebedores
poderão, ainda, aumentar a quantia, se os núcleos familiares forem elegíveis
para outros auxílios e benefícios, a exemplo do “Inclusão Produtiva Rural”, que
pagará R$ 200 por família, caso haja agricultores na composição, e do valor de
R$ 130 por cada criança com até três anos.
Os modelos de recebimento do valor somam
outro impacto em relação ao perfil. Para ingressar no programa do Auxílio
Brasil, famílias em extrema pobreza precisam, agora, ter renda por pessoa de
até R$ 100, valor que antes era de até R$ 89. Famílias em pobreza, por outro
lado, devem estar com a renda por pessoa no intervalo entre R$ 100,01 e R$ 200
(o valor máximo anterior era de R$ 178) e o repasse do recurso somente ocorrerá
se entre os membros houver gestantes ou indivíduos até 21 anos incompletos.
As parcelas variáveis seguem o mesmo
ritmo. O valor subiu de R$ 41 para R$ 49, e o Benefício Variável Vinculado ao
Adolescente passou de R$ 48 para R$ 57. O Cadastro Único, administrado pelos
governos estaduais e municipais, continua sendo o caminho para a solicitação do
Auxílio Brasil, como ocorria com o Bolsa Família
Em 2020, o Auxílio Emergencial teve
cinco parcelas de R$ 600 e quatro parcelas de R$ 300, chegando a mais de 70
milhões de pessoas. Já em 2021, o auxílio teve parcelas de valores que variavam
entre R$ 150, R$ 250 e R$ 375, conforme a composição da família.
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