O número de usuários do transporte público está em 60% dos níveis anteriores à pandemia
MOBILIDADE URBANA: MEIOS DE LOCOMOÇÃO DEPOIS DA PANDEMIA
As cidades, assim como os organismos vivos, estão em constante movimento e transformação. Desde alguns anos atrás, principalmente nos grandes centros urbanos, a locomoção é um tema importante nas agendas públicas. Encontrar a melhor forma de gestão do trânsito, planejar e investir para promover melhorias na mobilidade urbana é sempre um desafio.
Muito se estimulou a utilização de veículos mais amigáveis com
o meio ambiente, há uma grande inversão nas últimas décadas para promover o
uso de bicicletas e de carros elétricos que ao reduzir a poluição sonora e
a emissão de gás de efeito estufa trazem benefícios ao meio ambiente, se
comparados com os tradicionais veículos movidos por combustíveis fósseis.
Também se estava promovendo muito o uso de meios de transporte
coletivos, como ônibus e trens, e o uso compartilhado dos meios. Estímulos
que tiveram muita adesão por parte dos usuários, principalmente com o
surgimento dos aplicativos como Uber, 99 e outros. Com isto, não só se
colabora com o meio ambiente, também promove menor congestionamento do trânsito
nas grandes cidades.
Mas, com a chegada da Covid-19 algumas dessas
iniciativas ficaram paralisadas. Muitos dos entusiastas com a
ideia de compartilhar os meios de transportes tiveram que repensar a ideia
diante da possibilidade de contágio da doença; as pessoas que podem evitar as
aglomerações e o uso de transportes públicos, evitam.
Meios de transportes preferidos antes da pandemia
Antes da pandemia, o transporte público (ônibus,
lotação, BRT, metrô, trem e VLT) era utilizado por 40% dos pesquisados pela CoE
BRT+,
este centro fez uma pesquisa coletando dados nas principais cidades de alguns
países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México e
Peru).
Segundo a pesquisa, o automóvel particular era a segunda
maior opção e em menor medida outros meios de transporte, como a bicicleta
ou os carros por aplicativos.
Para exemplificar, em 2019 a pesquisa “Viver em São
Paulo: Mobilidade Urbana” indicava que:
·
47% dos paulistas usavam o transporte
coletivo,
·
seguido por 20% que preferia usar o veículo
próprio e
·
12% que preferia o metrô, 5% usava aplicativos de
transporte e
·
apenas 2% a bicicleta.
A pouca adesão à bicicleta na cidade era justificado devido à
falta de segurança, de sinalização e de ciclovias que facilitassem a circulação
entre as diferentes zonas da cidade. Itens que devem ser considerados para o
planejamento da mobilidade urbana no futuro.
Em relação a quem usava seu carro próprio para se locomover, 8
de cada 10 motoristas indicavam que, diante de melhorias e mudanças no sistema
público de transporte, trocariam o carro pelo ônibus ou o trem sem problemas.
Como mudaram as preferências pelos meios de transporte com a pandemia?
Além de grande parte das atividades presenciais terem sido
substituídas pelo Home Office para propiciar o distanciamento e cumprir com
as medidas sanitárias tomadas, muitos motivados pelo medo ao contágio do
vírus e preocupados com a higiene do transporte público, optaram pelo uso do
carro próprio ou aplicativos e evitando o uso dos meios coletivos, como ônibus
ou trem.
Entre março e outubro do ano passado, 50% das pessoas que
precisavam se locomover para ir a seus trabalhos ou estudar passaram a
dispensar dessa necessidade e ficar em casa, segundo a pesquisa
feita pela CoE BRT+.
Essa redução na necessidade de locomoção impactou
principalmente o sistema de transporte público, visto
que ônibus, BRT, lotação, metrô, trem e VLT são os meios que maiores quedas
registram, até os primeiros meses do ano apenas 15% estavam utilizando
estes meios. São Paulo é a cidade que registrou a maior queda,
de 59% de usuários desses meios antes da pandemia passou para apenas 8%.
De acordo com o Anuário do Ônibus e da Mobilidade Urbana 2021
da Confederação
Nacional do Transporte (CNT) comparando 2020 com o ano 2019, 2,94
bilhões de passageiros pararam de usar ônibus. Destacamos que os dados surgem
de apenas 17 cidades e áreas metropolitanas no país.
Na mesma pesquisa da CoE BRT+ também foi verificada uma queda
na frequência de uso, em todas as cidades que participaram supera 50%, mas o
destaque também foi para São Paulo, onde a redução da frequência ficou acima de
80%.
Enquanto muitos deixavam de usar o transporte
público porque não precisavam sair de casa, outros preferiram usar a bicicleta
e quem possuía, o carro próprio. Também se manteve e em algumas
cidades aumentou o uso de aplicativos de transporte, considerados mais seguros
devido à higiene e por não estar tão exposto ao contágio durante a viagem.
Além das preferências dos usuários: impacto econômico no sistema de
transporte público
Não é pela pandemia que o sistema de transporte público tem
problemas. Desde 1995 a queda na demanda deste serviço vem aumentando, de
acordo com a NTU, entre esse ano e 2019 a demanda tinha caído 45%. Se
somarmos os efeitos da pandemia a situação econômica para as empresas fica
bastante complicada.
Como consequência da situação, 18 empresas e 3 consórcios
decretaram falência desde abril de 2020 até fevereiro deste ano, segundo a FGV CERI. Lembrando que a rede de transporte públicos
é financiada pelas passagens que os cidadãos pagam. Exceto nos casos de
Brasília e São Paulo, que são cidades que contam com o apoio do estado.
Entre os meses de abril e outubro do ano passado,
o transporte coletivo registrou uma queda da metade dos passageiros em
comparação com 2019. Apesar da recuperação, atualmente o número
de usuários do transporte público está em 60% dos níveis anteriores à pandemia,
essa queda tão grande na demanda gerou uma perda de mais de R$16 bilhões às empresas,
contabilizando desde março de 2020 até o passado mês de julho, segundo
informações da Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
O impacto das medidas tomadas durante a pandemia não fica por
aí, as montadoras e indústrias relacionadas à fabricação de veículos de
diferentes tipos têm sofrido paralisações e complicações para se financiar e
enfrentar os custos e ao final, tudo isso impacta negativamente no bolso dos
funcionários.
Ainda estamos vendo os impactos gerados pela pandemia, não há nada fixo, mas todos estamos tentando encontrar um novo ponto de equilíbrio. No que se refere aos meios de transporte, é possível identificar a tendência no aumento do uso das bicicletas e também o uso dos carros por aplicativos em detrimento do transporte público. Somente a partir do entendimento dos novos hábitos e padrões que se estão gerando será possível planejar a mobilidade urbana de forma eficaz.
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