Por que os nossos dados pessoais são tão valiosos para as empresas?
Juliana Callado Gonçales*
A tecnologia permite o processamento de milhares de informações em poucos segundos e diminui a distância física, o tempo e o espaço, além de ter dado origem à sociedade da informação ao elevá-la à condição de elemento central não só da economia, mas da organização e interação social como um todo.
Cada vez mais, a
qualidade das informações é considerada como um fator determinante na geração
de riquezas. Gradativamente, as empresas se conscientizam de que converter a
informação em conhecimento garante melhores resultados.
A informação vira
conhecimento para o setor empresarial a partir da análise dos dados pessoais
dos consumidores. Conhecendo melhor os gostos, hábitos e tendências do
consumidor, é possível entregar serviços e produtos com maior receptividade no
mercado.
Convertida em
conhecimento, a informação pode ser considerada como um ativo estratégico da
atividade empresarial. Esta é a razão de a análise dos dados pessoais dos
cidadãos ter ganho papel de destaque na publicidade e marketing das empresas. O
consumidor deixou de ocupar uma posição meramente receptiva e passou a ter uma
participação ativa na produção do bem de consumo, ainda que a sua total revelia
ou consciência.
Todos os usuários da
internet, ao acessarem sites, alimentarem as suas redes sociais, compartilharem
a sua geolocalização e realizarem compras online, acabam construindo uma
biografia digital pois, pela análise do seu histórico de navegação, é possível
traçar o perfil bem assertivo dos seus gostos, tendências, interesses e
hábitos. Essa nossa biografia é utilizada por diversas empresas para que
cheguem até nós a publicidade dos produtos e serviços mais relacionados com os
nossos interesses.
Se de um lado esta
prática aumenta o êxito das vendas e reduz os custos com ações publicitárias
por direcionar os produtos e serviços de forma mais assertiva aos potenciais
consumidores, por outro lado, ela expõe cada vez mais o consumidor, muitas
vezes anulando a sua privacidade e até o seu direito de escolha.
Na internet prevalece o
acesso livre e gratuito às redes sociais, softwares, e-mails e sites e o lucro
destes negócios gira em torno da análise e venda dos nossos dados pessoais para
a publicidade direcionada.
Ou seja, a
contraprestação para o acesso à maioria das páginas virtuais é o fornecimento dos
nossos dados pessoais. A grande questão é a seguinte: nos negócios
tradicionais, trocamos uma determinada quantia em dinheiro por um produto ou
serviço e, portanto, sabemos exatamente o preço daquele bem. O mesmo não ocorre
com o fornecimento dos nossos dados pessoais em razão das inúmeras
possibilidades de uso que podem ser feitas com um dado pessoal por tempo
indeterminado.
Até as nossas emoções
estão sendo utilizadas como estratégia de publicidade para aumentar as vendas
dos produtos e serviços. A Microsoft, Apple e o Google têm investido no
patenteamento da tecnologia de direcionamento de anúncios com base nas emoções
e projeções capazes de captar nossas expressões faciais diante da tela.
Ou seja, somos
submetidos a uma constante vigilância e, muitas vezes, sem que haja qualquer
informação ou transparência de como os nossos dados pessoais são utilizados.
Este é apenas um dos
cenários que impulsionaram a publicação da Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais (Lei nº 13.709/2018) e que validam a importância do tema. Não se nega
os benefícios da publicidade direcionada e até mesmo da análise dos nossos
dados pessoais. Porém, é necessário encontrar um equilíbrio entre este
benefício e o direito à privacidade e liberdade dos titulares de dados
pessoais.
Por isso, a importância
das políticas de privacidade que estão sendo desenvolvidas pelas empresas: para
que os consumidores consigam mensurar o real preço do produto ou serviço que
estão adquirindo por meio do fornecimento dos dados pessoais, entendam como os
seus dados pessoais são utilizados, com quem são compartilhados e os riscos
envolvidos.
Muitos aplicativos e
sites já estão adequados à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e permitem
ao titular restringir a coleta dos dados pessoais e preservar mais a sua
privacidade.
*Juliana Callado Gonçales é sócia do Silveira Advogados e especialista em Direito Tributário e em Proteção de Dados (www.silveiralaw.com.br)
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