O crescimento da indústria e a erradicação da fome
João Carlos Marchesan*
A fome sempre
foi um problema grave no Brasil, mas com a Covid-19, a situação piorou
muito. Depois de recuar significativamente até meados da década
passada, a fome voltou a crescer no Brasil e a chamada insegurança
alimentar disparou nos dois últimos anos. São quase 117 milhões de pessoas
nessa situação, sem acesso pleno e permanente a alimentos. Além deles, há ainda
19,1 milhões de brasileiros que efetivamente passam fome, em um quadro de
insegurança alimentar grave. Antes da pandemia, havia 57 milhões de
pessoas vivendo em insegurança alimentar no país, sem acesso pleno e permanente
a alimentos. Os dados fazem parte do Inquérito Nacional sobre Insegurança
Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede
Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).
Estabelecer uma relação
direta entre o aumento da insegurança alimentar e o aumento dos índices de
desemprego não é uma tarefa das mais difíceis. Assim como estabelecer uma
relação direta entre o aumento do desemprego e as dificuldades dos empresários
em se manterem competitivos em um cenário de incertezas e insegurança jurídica
também não é difícil.
Em outras palavras,
devemos salientar a premente necessidade de sensibilizar os poderes da
República bem como a sociedade brasileira sobre os instrumentos efetivos para
alcançar e manter um crescimento sustentado, tão almejado pela nação que ainda
está se recuperando de uma das piores crises da sua história e não pode
conviver com esses níveis de pobreza.
Reiteramos a urgência
que o país crie as condições para a ampliação do investimento produtivo
e, simultaneamente, reduza, senão elimine, as ineficiências sistêmicas
para ampliar sua produção de bens e serviços, complexos e sofisticados,
pré-condição necessária para voltar a crescer e para poder ampliar nossa
inserção na economia mundial, bem como ampliar a oferta de empregos de
qualidade, no sentido de contribuir com a diminuição do desemprego,
restaurando, pelo menos em parte, a dignidade das famílias brasileiras.
A pobreza é algo não só
doloroso do ponto de vista social como um impeditivo brutal para o crescimento.
O emprego digno cria condições sociais mais adequadas e gera crescimento, na
medida em que fortalece o mercado interno.
Tanto isso é uma
verdade que Martin Luther King agiu fortemente nesse sentido. Historicamente
sabemos que ele dedicou seus últimos anos ao combate à pobreza, que via como o
próximo desafio a ser enfrentado pela América, porque sabia ser essa uma luta
necessária. Não existe país que possa crescer e se desenvolver sem empregos de
qualidade.
Nesse sentido, sabemos
que a indústria desempenha um papel fundamental, na medida em que tem um
papel estratégico na dinamização de todo o setor produtivo brasileiro, como
ofertante e demandante de tecnologias e como a principal geradora de inovação
para os demais segmentos da economia. Por essa razão, tem um papel
fundamental na geração de empregos de qualidade e no trabalho de reversão dos
ambientes institucional e de negócios brasileiros, que reduzem a
eficiência de nossa economia por serem desfavoráveis ao empreendedorismo e à
produção.
De outro lado, a
política macro brasileira, há mais de três décadas, e salvo pequenos
intervalos, tem se mantido hostil ao investimento produtivo. Será necessário a
implementação de um conjunto de instrumentos e políticas públicas tendo como o
objetivo estimular e direcionar novos investimentos produtivos, ou seja, serão
necessárias medidas indutoras ao setor privado na busca de novas oportunidades
e na expansão de fronteiras tecnológicas. Seu sucesso pressupõe a existência de
um ambiente macroeconômico favorável ao investimento produtivo.
Estas políticas
precisam ter objetivos permanentes. Sabemos que o aumento da produtividade
depende dessas políticas e representam crescimento do País, face à
estabilização da população economicamente ativa, através da criação e
manutenção de empregos de qualidade.
Reforçar a participação
da indústria de transformação no PIB e dos serviços sofisticados por ela
demandados é essencial para aumentar a produtividade do Brasil; para tanto é
indispensável ampliar fortemente os investimentos em infraestrutura e na
indústria, para conseguirmos gerar crescimento e diminuir a pobreza no país;
*João Carlos Marchesan é administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ
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