O que o filme "Don't Look Up" nos ensina sobre privacidade
Por Francisco Gomes Júnior
Nos últimos dias um filme lançado pela
Netflix tem dado o que falar. “Don’t Look Up” ou “Não olhe para cima” é um dos
assuntos mais comentado em todas as mídias sociais. Com um elenco repleto de
estrelas como Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate
Blanchett e Jonah Hill, o filme conta ainda com a participação da cantora
Ariana Grande.
O filme causa controvérsia pois vê-se
nele um retrato de nossa realidade. Sem dar spoilers, a história apresenta um
mundo polarizado, uma imprensa de ética questionável, políticos sem escrúpulos
e negacionistas de verdades científicas. O filme apresenta aspectos jurídicos
relevantes de nossos dias, a começar por um mundo onde todos são monitorados,
vigiados por celulares, redes e celulares desenvolvidos para esse fim.
Na trama, uma gigante de tecnologia
controla o mundo digital, diminuindo a capacidade opinativa crítica de seus
usuários e o CEO da empresa é considerado um guru tecnológico, um visionário do
futuro. É uma mistura de Steve Jobs, Zuckemberg e Elon Musk. O que se
retrata é como as big techs capturam milhões de nossos dados sem que percebamos
quando navegamos pelas redes sociais, aplicativos de conversação ou programas
para fins específicos como treinos ou dietas. Elas possuem nossos dados
pessoais, inclusive os sensíveis, sabem o que você curte, o que comenta, o que
compra, enfim, sabem mais de você que você mesmo.
Leonardo Di Caprio interpreta o
cientista que, juntamente como sua assistente Jennifer Lawrence quer comunicar
ao mundo uma importante descoberta. Com o desenvolvimento da trama, as
dificuldades para efetivar a comunicação vai crescendo, culminando com a parte
final do filme, bastante tensa. O filme traz uma reflexão para nós brasileiros,
se todos os nossos dados estão disponíveis nas mídias sociais, se sabemos
inclusive que são vendidos na dark web e se os sistemas públicos e privados são
com frequência alvo de invasões, será que a LGPD (Lei Geral de Proteção dos
Dados) será suficiente para conter os abusos? Ou será que, como na película, as
big techs irão capturar inclusive os poderes públicos?
De fato, no filme nenhum de nós de forma
individual tem muita autonomia na gestão de seus dados pessoais. E somos
estimulados a consumir novos aplicativos que as gigantes da tecnologia nos
disponibiliza, sempre com novos avanços tecnológicos e novas funcionalidades.
Se é inevitável em um mundo cada vez mais digital esse domínio crescente pelas
mídias sociais e pelas empresas que as administram, como evitar um futuro catastrófico,
sem nenhuma privacidade ou escolha sobre quais dados concordamos em
disponibilizar?
Se muitos dizem que o filme é um retrato
e até uma visão de nosso futuro, devemos torcer para que o final de nosso mundo
não seja o mesmo da trama. E estamos em um momento chave, pois invasões de
hackers estão ocorrendo e expondo dados de usuários, inclusive retirando
aplicativos públicos por muitos dias do ar. Se a ANPD (Autoridade Nacional de
Proteção de Dados) demonstrar que sancionará com equidade empresas públicas e
privadas e atuar para que tenhamos uma cultura de cibersegurança, iremos
evoluir, aguardemos.
Se você ainda não assistiu “Não olhe
para cima”, assista e participe do debate que vem tomando nossas mídias nos
últimos dias. E reflita sobre a importância de ser cada vez mais cuidadoso com
seus dados pessoais.
Francisco Gomes Júnior - Advogado Especialista em Direito Digital e Crimes Cibernéticos. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Instagram: fgjr
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