Em busca da rotina perdida
Por Livia Brandão, terapeuta ocupacional e coordenadora do Hospital Dia da Holiste Psiquiatria
Vacina no braço, hora
de comemorar, certo? Por mais que a equação pareça resolvida, a simples menção
de retornar a rotina presencial dos espaços cheios, com abraços e apertos de
mão, enche de dúvidas muitas pessoas. Como escapar da ansiedade, do estresse
pós-traumático e do medo que nos impregnou nesse período pandêmico? Será que
somos capazes de reaprender a viver em um mundo em que o contato não é uma
ameaça?
Para entender este
fenômeno precisamos voltar atrás, para 2020: o ano começou cheio de
expectativas para muita gente, avanços tecnológicos anunciados, o fervor das
festas de carnaval e, de repente, algo se quebrou. Entramos em um momento de
completa incerteza, isolamento completo e medo de uma doença letal e totalmente
desconhecida.
A Covid-19 chegou ao
mundo de modo abrupto e avassalador. Muitos dizem que “o mundo parou”, e nós
também paramos pontualmente a realização de nossas rotinas. Escolas, trabalhos,
relações, tudo passou a ser intermediado por uma tela. Nos adaptamos,
ressignificamos nossas relações presenciais; a pandemia exigiu mudanças bruscas
num curto espaço de tempo e, com isso, perdemos hábitos que levamos uma vida
para construir.
Aos poucos, as coisas
parecem retornar à normalidade. Mas, como restabelecemos o que foi perdido? O
ano de 2022 iniciou e, mais uma vez, estamos cheios de expectativas, planos,
projetos e desejos. Gradativamente, nos aproximamos de uma suposta normalidade
e somos impulsionados a retomarmos nossa rotina. Mas, se essa é uma tarefa
difícil para qualquer indivíduo, imagine a dificuldade daqueles que sofrem com
algum transtorno mental?
Estabelecer práticas
diárias é fundamental na reestruturação do cotidiano, e para pessoas com um
diagnóstico de transtorno mental pode ser necessário um acompanhamento
profissional. Todo mundo fala que já é a hora de “voltar ao normal”, mas
esquecem de um pequeno detalhe: essa não é uma tarefa fácil! Não digo isso para
desencorajar, ao contrário, é importante ter dimensão da desafio para que
possamos tomar uma decisão essencial: buscar auxílio profissional.
Se estiver difícil, peça ajuda. É possível reaprender a rotina e recuperar a vida social com conforto, segurança e equilíbrio. Mas, este é um processo diferente para cada pessoa e muitas precisam de apoio para reconquistar a autonomia perdida na pandemia. Tudo aquilo que o distanciamento nos fez esquecer teremos que reaprender juntos, um pouco a cada dia, mas sempre caminhando para frente.
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