Tragédia na Bahia mostra que a população não é prioridade
Samuel Hanan*
A Bahia enfrenta, neste final do difícil
2021, o maior desastre climático de sua história, com inundações que atingem
109 cidades – ou seja, 26% de seus municípios –, mais de 20 mortes e cerca de
409 mil pessoas desabrigadas. Recentemente, Manaus e várias cidades do interior
do Amazonas também sofreram com tempestades, ventos fortíssimos e destruição de
instalações da distribuidora de energia local.
É uma situação de calamidade pública,
com prejuízos gigantescos e enorme sofrimento da população, que clama por água,
alimentos, colchões e medicamentos. Apesar de tamanha gravidade, não se viu
nenhum partido político ou mesmo os governadores da Bahia e do Amazonas
oferecerem suas cotas-parte do Fundo Partidário e/ou a destinação de parte do
fundo eleitoral de 2022 para o socorro da população.
Estamos falando de dois fundos que somam
R$ 5,9 bilhões, recursos que seriam extremamente importantes para ajudar na
solução das mazelas provocadas pelas fortes chuvas e também resultantes da
falta de aplicação de recursos em áreas que atendam a população e gerem
condições de vida mais dignas para os seus cidadãos.
Diante de tamanha tragédia e sofrimento,
é motivo de indignação constatar que governos e partidos políticos não se
disponham a disponibilizar R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões para minimizar a
desgraça de um povo que vive na mais absoluta miséria. Todos silenciam para
proteger o cofre de onde sairá o financiamento das campanhas no ano eleitoral de
2022.
Quais são, afinal, as prioridades de
quem governa os estados e o País ou que pretende governar a nação? O Brasil
está atrasado no enfrentamento dos cinco maiores dramas sociais nacionais: a
pobreza, a precariedade da saúde, o baixo nível da educação e habitação, além
da violência urbana. Isto tudo tem origens conhecidas: corrupção, privilégios e
impunidade.
O Brasil se tornou, a partir de 1988, um
dos grandes arrecadadores de impostos do planeta, graças ao aumento gigantesco
da carga tributária imposta à população. Os governantes, portanto, deveriam ter
maior preocupação com os cidadãos que os elegeram, os mesmos brasileiros quem
trabalha 150 dias por ano apenas para pagar impostos. Gente de carne e osso,
cheia de necessidades, que deveria perguntar todos os dias: qual o destino dos
impostos arrecadados?
A realidade mostra que o destino dessa
arrecadação gigantesca não é o povo brasileiro, relegado ao tempo, enquanto os
bilhões arrecadados estão reservados para os privilegiados (hoje nem tão poucos),
os donos do poder, sempre empenhados em manter – ou ampliar – a sua condição de
superioridade.
É a eles que cabe a responsabilidade de
garantir bem-estar a toda a nação, e não somente a um grupo de privilegiados,
que, em sua maioria, se locupletam às expensas do povo brasileiro. É ao Estado
que cabe a responsabilidade de regulamentar toda a vida e saúde social,
política e econômica do país, em parceria com empresas privadas, entidades de
classe e sindicatos, em níveis diferentes de acordo com o momento em questão.
Cabe ao Estado garantir serviços públicos e proteção à população, provendo
dignidade a todos os cidadãos brasileiros, independentemente da região onde
habitam.
Nesse sentido, cabe ao povo questionar
por que os mandatários do Fundo Partidário não tomam a iniciativa de ajudar em
momento tão crítico? Não seria essa uma forma efetiva de o pretenso candidato
dar demonstração de que possui condições efetivas de cuidar dos seus eleitores?
E, de outro ponto de vista, não seria ainda a melhor plataforma eleitoral? Algo
a ser pensado pelos futuros candidatos aos cargos públicos em disputa no pleito
de 2022. Com urgência, antes que seja tarde demais. Se a tragédia não é capaz
de sensibilizá-los, nada mais o será.
* Samuel Hanan é engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002).
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