Turnover: por que os colaboradores não param na empresa?
Andreza Shibata*
Encontrar e reter talentos. Essa é a
grande missão do RH em uma empresa. Buscar a pessoa certa para uma posição e
proporcionar uma cultura e clima corporativos que a motive a permanecer na
empresa é uma arte.
Junto à minha equipe, sou responsável
por trazer muitos profissionais para a empresa, selecionando as habilidades, a
formação, a experiência e os interesses necessários para funções que eu mesma
nunca exerci, mas cujos desafios conheço bem.
Como profissional de RH, uma das minhas
maiores alegrias é assinar a contratação de um novo colaborador. Mas, ao longo dos
últimos anos, o que se vê é um movimento muito forte no sentido contrário. Em
um mundo que muda constantemente, com novas startups e carreiras promissoras -
seja como contratado ou empreendedor -, manter os talentos dentro das
organizações é cada vez mais difícil.
Talvez isso seja reflexo da nova geração
que está entrando no mercado de trabalho. Uma geração acostumada com o
instantâneo e o descartável e um pouco ansiosa pelo desenvolvimento de sua
carreira. Claro que não podemos generalizar, mas alguns profissionais mais
jovens pensam em alcançar altos cargos rapidamente e se entediam com as rotinas
diárias. Vi pessoas em quem a empresa investiu muito mudarem para ser “só mais
um” em outra empresa. A ansiedade do agora acabou, nesses casos, protelando um
crescimento que seria certo dentro de poucos meses.
Não se trata de uma tendência apenas no
setor de tecnologia, mas de um mercado de trabalho que já não vê muitos casos
de carreiras com muitos anos na mesma empresa, como as gerações passadas. E é
natural que o perfil das pessoas mude ao longo dos anos. Hoje, os profissionais
não querem apenas pagar suas contas no final do mês. Querem reconhecimento. É
papel dos líderes e gestores manter a equipe inspirada, entender as
necessidades de cada membro, ajudar no desenvolvimento de carreira, valorizar
as qualidades e contribuir, por meio do feedback,
para melhorar alguns gaps
importantes para cada função.
O turnover
- rotatividade dos funcionários de uma empresa - tornou-se o pesadelo de muitos
recrutadores. Evitá-lo é uma missão com muitas facetas, mas tudo começa pelo
alinhamento de propósitos. O propósito da organização deve fazer parte ou ter
alguma relação com o propósito do candidato. Sem esse elemento, é fácil se
encantar com as muitas outras oportunidades do mercado.
Do ponto de vista de quem fica, a troca
de colaboradores também é um problema. A rotatividade mexe com a autoestima de
quem permanece na empresa e investiu tempo treinando o novo colaborador. Quando
esse colaborador passa a ser "produtivo" e finalmente pode aliviar o
tempo de seu tutor e produzir entregas valiosas, ele sai da empresa e tudo
precisa recomeçar com um novo profissional.
A resposta para o problema requer
esforço. Os gestores de RH e também os líderes de cada equipe precisam acompanhar
de perto o time, valorizando, ouvindo as demandas e removendo os obstáculos,
colaborando para a carreira e desenvolvimento, sendo firmes nas melhorias e
entregas, dando exemplo e - indispensável - reconhecendo emocional e
financeiramente, sempre que possível.
Desenvolver ações de engajamento também
é um recurso válido para empresas que querem reduzir o turnover. Plataformas que
permitem registrar os feedbacks, por exemplo, são boas ferramentas para isso.
Em algumas delas é possível agendar e registrar reuniões individuais - as
chamadas 1:1 -, criar planos de desenvolvimento individual, registrar e
acompanhar objetivos pessoais e da empresa. Além disso, celebrar as conquistas
e momentos individuais faz a diferença.
Por fim, a famosa “dor de dono” é uma
importante aliada, mas só pode existir em um ambiente de trabalho leve, com
respeito às pessoas e suas ideias, com poder de decisão, de questionar, de
gerar mudanças, de ser especialista no assunto. Não se pede demissão da
“própria empresa”, mas, para que isso funcione, só o discurso não basta. É
preciso demonstrar que todos são um pouco donos da empresa por meio de ações
concretas.
*Andreza Shibata é head de Recursos Humanos da DealerSites, startup de Curitiba e uma das 10 startups brasileiras selecionadas para o programa de aceleração Google For Startups Brasil.
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