É preciso praticar a diversidade da porta para dentro
Há alguns anos, se você me pedisse para fazer uma projeção das maiores campanhas publicitárias que estariam em circulação no século XXI, certamente, eu apostaria nas que destacam produtos extremamente inovadores, como veículos voando ou com autonomia para andar sozinhos. No entanto, a inovação tem dividido a atenção com outro tema que há muito tempo já deveria estar inserido em nossas vidas: a diversidade. Você vai dizer que a comunicação reflete o comportamento da sociedade. Então, seja você um acelerador dessa mudança.
Felizmente, tenho visto o esforço
genuíno de muitas marcas para praticar a inclusão da porta para dentro. Sei de
empresas e empresários que investem fortemente na inclusão de forma anônima,
por acreditar que se trata de um dever e não ferramenta de promoção. Todos são
sinais claros de evolução, mas ainda há espaço para melhorarmos mais.
Tenho pensado muito nesse tema. Até
mesmo porque ele permeia muitas reuniões de briefing das quais participo. E
queria aproveitar esse espaço para convidar você a refletir alguns pontos que
tenho observado:
Quem pratica e divulga acaba
incentivando!
Respeito quem promove, financia ou
incentiva a inclusão de maneira anônima. Mas a empresa que divulga as boas
ações que pratica, de certa forma, inspira os funcionários, os consumidores e a
sociedade a perceber o assunto como relevante e, quem sabe, se engajar no tema.
Digo isso como cidadão e não como um profissional da área de comunicação.
Valorizar a diversidade é um caminho para
a inovação!
Ter diversidade dentro da empresa é uma
oportunidade singular de ter uma visão ampla do mundo, das necessidades das
pessoas e de soluções para diversos problemas e desafios. É um caminho tanto
para ser mais assertivo com o público-alvo quanto para conquistar novos
clientes. No final do dia, isso tudo tende a se reverter em melhor performance
da equipe e do negócio diante da concorrência e, consequentemente, resulta em
mais lucratividade - que, apesar de não ser o foco principal da ação, é algo
importante.
Isolada, a estética da inclusão é uma
ilusão!
Para propagar uma crença ou um princípio
para o público externo, é muito importante que o discurso seja praticado da
porta para dentro. É mais genuíno direcionar o discurso para comunidades diversas
quando você tem representantes desse grupo no seu time interno. E não para por
aí. Se, por exemplo, você deseja promover a inclusão de um cadeirante no seu
grupo, é importante que ele consiga transitar por todos os espaços da sua
empresa e não apenas por áreas específicas adaptadas para ele. Reconheço que a
estética externa já é um primeiro passo para iniciar a discussão da diversidade
na companhia. Mas, passada essa primeira fase, é muito importante acelerar o
passo para que o discurso vire prática no dia a dia da organização, algo que,
no longo prazo, contribui, inclusive, para a atração e retenção de talentos.
O checklist da inclusão está com os dias
contados!
É comum a construção de campanhas com
base em fotos extraídas de banco de imagens. Felizmente, hoje, nesses arquivos
já não é difícil encontrar retratos que traduzem a diversidade em diferentes
situações cotidianas. A composição das imagens, porém, precisam ser feitas com
bom senso. Do contrário, corre-se o risco de passar a impressão de que havia a
necessidade de gabaritar um checklist. Ideal mesmo, é poder entrar em uma
organização fotografando ou filmando a diversidade enquanto ela acontece, em
tempo real.
Os estereótipos podem minar uma ação!
Um risco de não ter diversidade dentro
da companhia e cair na armadilha de criar produtos, serviços, discursos ou
campanhas com base em estereótipos. Então, no lugar de abrir o canal de
comunicação com um grupo, sem querer, você acaba por ofender essas pessoas.
O ideal é ter representatividade para
construir a base conceitual do que deseja comunicar. Na sequência, contar com a
diversidade para criar ou co-criar e dar forma a tudo isso é fundamental.
Assim, teremos algo verdadeiro: diversidade genuína somada aos valores e ao tom
de voz da marca. Para dar os primeiros passos seguros e pertinentes, há
boas empresas de consultoria para o assunto.
Este é um tema urgente e precisa de
discussões produtivas e - principalmente - de ações genuinamente interessadas
na igualdade. Lembre-se: a diversidade inclui você.
*Por Rui Piranda, sócio-diretor da agência ForAll
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