Março Roxo: empatia é tão importante para a pessoa com epilepsia quanto tratamento, diz ABE
Campanha 2022 tem o objetivo de mostrar que a
falta de informação e o preconceito têm grande impacto na qualidade de vida das
pessoas com epilepsia e podem ser tão graves quanto a dificuldade de acesso aos
remédios
Depois de travar uma verdadeira luta nos
últimos anos chamando a atenção para a necessidade de políticas públicas
direcionadas para o suporte e atendimento digno de quem tem epilepsia, doença
que atinge 50 milhões de pessoas no mundo (OMS), A ABE volta o poder de alcance
da campanha Março Roxo
2022 para pedir algo que deveria ser condição básica na vida em
sociedade: empatia. A ideia é mostrar que as consequências da falta de
compreensão com o outro impacta a pessoa com epilepsia de forma tão negativa e
grave quanto a dificuldade de acesso ao tratamento.
As experiências da Associação no ano
passado provam que vivemos um paradoxo. Em plena era da informação, as fake news imperam, ajudando
a perpetuar uma visão errônea da doença. No auge da exposição, o cancelamento é
virtual e a defesa de direitos não encontra eco na vida real. “Apesar da
maioria das pessoas com epilepsia ter condições de levar uma vida sem
restrições, elas ainda sofrem com a maneira como a sociedade trata a doença,
quase sempre com descaso. Isso têm efeitos muito sérios, principalmente no
início do tratamento, quando o medo do desconhecido é tão grande quanto as
dúvidas”, diz Maria Alice Susemihl, presidente da ABE.
Para se ter uma ideia, só no ano passado
a ABE precisou emitir diversos comunicados oficiais ou notas de repúdio às
demonstrações estereotipadas exibidas em programas de TV ou vídeos na internet
e o retorno de seus seguidores nas redes mostra como isso afeta diretamente a
autoestima, contribui para o bullying,
o isolamento e, o que é ainda mais grave, para a adoção de procedimentos
incorretos tanto no que diz respeito ao acolhimento, quanto para o socorro em
casos de crise. “Não é engraçado, não é uma situação de humor. Pelo contrário,
é triste ver que alguns canais de mídia ainda fazem chacota com o assunto,
enquanto poderiam usar um espaço valioso para promover consciência e informação
sobre esta e outras doenças”, completa.
Consequências da falta da empatia para a
pessoa com epilepsia
Desesperança: receber o diagnóstico de qualquer
doença crônica não é algo fácil. O quadro fica ainda mais complicado quando se
trata de um assunto que não é debatido em larga escala. A falta de conhecimento
dificulta o entendimento e o “se colocar no lugar do outro”, o que pode gerar
uma sensação de solidão e perspectivas negativas em quem tem a doença.
Autoestima prejudicada: este é um dos principais problemas em
qualquer fase. Apesar dos tratamentos disponíveis e da possibilidade de
desempenho normal de atividades do dia a dia, a forma negativa como a sociedade
ainda trata a doença leva o paciente a se questionar ou a evitar situações.
Perpetuação dos estigmas: associação à doença mental, assumir
que a pessoa com epilepsia é incapaz, achar que a doença é contagiosa são
apenas alguns. O não conhecimento da doença ajuda a levar adiante questões já
debatidas e desacreditadas pela ciência.
Dificuldade em lutar por direitos: a discriminação e estigma sofrido
pelas pessoas com epilepsia faz com que a maioria delas não revele que tem a
doença, dificultando dessa forma a luta por direitos. Considerando que a
epilepsia pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente de aspectos
físicos, classe social ou religião, deveria ser de interesse de toda a
sociedade. Um número maior de pessoas junto as pessoas com epilepsia e seus
familiares faria maior peso na busca por atendimento digno em todas as esferas.
Março Roxo 2022
Como forma de divulgar a importância dos
cuidados e da empatia como um dos pilares para o bem-estar das pessoas com
epilepsia, a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) reforçará a campanha
#SOSEpilepsia durante o Março Roxo, mês de conscientização sobre a doença.
Iniciada em dezembro de 2021, a
iniciativa tem como objetivo dar voz a quem precisa e destacar o direito ao
tratamento preconizado no Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para
Epilepsia. A luta é constante, mas, neste mês, ganha um impulso ainda maior, já
que no dia 26, é o Dia Mundial de Conscientização sobre Epilepsia, também
conhecido como Purple Day ou Dia Roxo, data em que as pessoas com epilepsia do
mundo inteiro se unem para mostrar que elas não estão sozinhas. A cor roxa foi
escolhida pois é a cor da lavanda, flor associada ao sentimento de solidão e
isolamento que as pessoas com epilepsia sentem.
“Infelizmente, a epilepsia recebe muito
menos atenção do Governo e da sociedade em comparação com outras doenças e
precisamos urgentemente de um plano de atendimento no Brasil”, afirma, Maria
Alice Susemihl, a presidente da ABE.
Entre as ações que serão realizadas, o ciberativismo #SOSEpilepsia continuará
acontecendo nas redes sociais com o objetivo de ajudar quem depende do poder
público. Para participar, basta tirar uma foto com a hashtag #SOSEpilepsia e marcar
as autoridades como governadores e secretários de saúde do município em que
reside. Nas páginas da ABE também será possível encontrar um abaixo-assinado
onde as pessoas podem fazer a denúncia de forma anônima (link para o
abaixo-assinado: https://cutt.ly/tYO6Xyk).
Além disso, a associação promoverá a
ação Mitos X Verdades
nos metrôs de São Paulo, em que os passageiros, ao se locomoverem pelas
estações, e obterão informações sobre a patologia. Para ter acesso aos
conteúdos, basta passar pelas estações Grajaú, São Paulo Morumbi, Osasco e
Largo Treze.
“A saúde é garantida como cláusula
pétrea, conforme o artigo 6° da Constituição Federal de 1988, ou seja, é um
direito Constitucional, indispensável à cidadania e ao Estado Brasileiro. Sendo
assim, o poder público tem o dever de zelar pela saúde através do acesso às
ações e serviços que a promovem, bem como devem ser respeitadas as garantias
dos direitos humanos”, finaliza Susemihl.
Sobre Associação Brasileira de Epilepsia
A ABE é uma Associação sem fins lucrativos que se estabeleceu como organização para divulgar conhecimentos acerca dos tipos de epilepsia, disposta a promover a melhora da qualidade de vida das pessoas que convivem com a doença. Integra o International Bureau for Epilepsy e é composta por pessoas que têm epilepsia, familiares, neurologistas, nutricionistas, advogados, assistentes sociais, pesquisadores e outros profissionais. Atua formando grupos de autoajuda, facilitando a reabilitação profissional, lutando pelo fornecimento regular de medicamentos nos postos de saúde e hospitais públicos, além de batalhar, incansavelmente, pelo bem-estar das pessoas que convivem com a doença e pelo fim dos estigmas e preconceitos sociais
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