Metaverso: nova fronteira para a educação superior
*Joaldo Diniz
Quando o termo 'metaverso' foi usado pela primeira vez, em 1992,
pelo escritor americano Neal Stephenson, talvez poucos tenham imaginado suas
múltiplas aplicações fora do universo de ficção científica descrito no livro
“Snow Crash”. Três décadas depois, essa palavra virou obrigatória. E não só
para quem trabalha com tecnologia.
Metaverso, em linhas gerais, poderia ser simplificado como um
feliz casamento das funcionalidades da realidade virtual com as da realidade
aumentada, somando os recursos das redes sociais. É uma expressão que ganhou
alcance no ano passado, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome
corporativo da companhia Facebook para Meta Platforms, em uma alusão óbvia ao
metaverso.
As bigtechs, como um todo, estão nessa corrida - e a aquisição por
US$ 68,7 bilhões, pela Microsoft, da desenvolvedora de jogos eletrônicos
Activision Blizzard dá a dimensão desse apetite. A empresa criada por Bill
Gates está muito mais interessada em explorar as múltiplas possibilidades do
metaverso. E a gigante sediada em Seattle sabe que tem muito a aprender -
alguns games como o Fortnite são os grandes desbravadores desse macrocosmo.
Mas o que isso tem a ver com educação? Muita coisa - especialmente
para quem vê a tecnologia não como uma modinha, mas com um olhar estratégico de
longo prazo.
De acordo com o inventor americano Raymond Kurzweil, diretor de
engenharia da Google desde 2012, no final desta década, grande parte das
pessoas passarão mais tempo no metaverso que na chamada 'vida real’.
Essa previsão não parece um mero palpite futurista. Hoje, a
geração que está ingressando no ensino superior ou mesmo aquela que está
começando sua primeira pós-graduação, já cresceu 'chipada' para as plataformas
digitais. Ela não se conforma mais em um modelo de ensino baseado no formato
que vigorava até recentemente - um longo monólogo com algumas anotações
riscadas na lousa.
O sucesso da educação digital, forçada pela pandemia, é bem
verdade, mostrou que os estudantes, inclusive de gerações anteriores, estão
preparados para estudar de forma remota, desde que o aprendizado seja
interativo, modulado e flexível - permitindo que ele estude quando quiser, onde
quiser, quanto quiser. O formato híbrido, combinando as conveniências do
digital com as vantagens do presencial, é que permitem uma formação plena.
O desenvolvimento do metaverso oferece novas oportunidades. Com a
possibilidade de replicar a realidade em dispositivos digitais, não é difícil
imaginar a formatação de aulas imersivas com professores, alunos e convidados
interagindo em tempo real, em um ambiente virtual que garanta uma simulação
efetiva de situações concretas.
Alguns exemplos simples. Nos últimos anos, diversos museus
consagrados abriram seus acervos. Com o metaverso, talvez possamos imaginar uma
visita guiada a um museu de história natural ou de arqueologia que traga uma
experiência realmente imersiva, interativa e que permita essa interação entre
docentes e discentes. Ou uma aula de Engenharia em que os alunos tenham a
chance de simular projetos em tempo real - e suas consequências. Ou uma aula de
anatomia humana para alunos de Medicina. E daí em diante. O melhor: mesmo
a distância, esse ambiente deverá trazer interações rápidas e de qualidade
entre os avatares – não muito diferente do que já ocorre no universo dos games.
Há espaço para muita inovação nesse ambiente – e os grandes grupos
de ensino superior, alguns deles forçados pela pandemia, perceberam que o mundo
está mudando e as necessidades dos alunos (e clientes) rapidamente evoluem para
um novo patamar.
Com o tempo, poderemos ver o nascedouro de startups, incentivadas
por editais de aceleradoras, exclusivamente dedicadas a desenvolver essas
realidades, associando tecnologia, design e acompanhamento pedagógico, gerando
produtos e serviços não só para cursos em nível de graduação ou pós-graduação,
mas também para extensão, possibilitando o acesso a estudantes que queiram
complementar sua formação – em linha com o conceito de lifelong learning.
O metaverso, claro, não deverá ser excludente. Alunos gostam de
estar juntos e os ambientes presenciais ainda seguirão tendo seu espaço
privilegiado – a pandemia há de dar uma trégua para que esse convívio possa
seguir existindo em segurança.
Mas cometerá um grande erro quem não se preparar para essa nova
forma de enxergar o mundo – até mesmo porque diversos segmentos do mercado vêm
apostando bastante nessa vertente como uma nova fronteira para fazer negócios.
E o ensino superior tem o dever de formar pessoas com pensamento inovador
para aproveitar – e desenvolver – todas essas oportunidades.
*Joaldo Diniz é Head de Produtos Digitais do grupo Ser Educacional
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