A cor faz a diferença
*Por Samanta Lopes
Alguma vez você se perguntou por que
associamos azul claro à limpeza ou verde mais escuro à sustentabilidade? As
cores fazem a diferença, e nosso cérebro vai construindo significados para cada
uma delas, conforme as percepções que retém em contato com elas.
Quando pequenos, somos esponjas abertas
ao mundo, nossos sentidos estão totalmente voltados a captar, explorar e
testar, por isso não selecionamos: tudo o que alcançamos levamos à boca, e
vamos aprendendo com o tempo que nem tudo nos fará bem, e então começamos a nos
frear para evitar dor ou situações desconfortáveis. Esse estranhamento é o
mecanismo de autodefesa que nos manteve vivos até os dias de hoje. Vamos
criando padrões mentais que nos ajudam a escolher entre o que é seguro e o que
pode nos machucar, fazendo escolhas a partir destas referências. A especialista
em neurociência Ines Cozzo, em uma live sobre vieses inconscientes1, fala sobre o quanto nosso cérebro decide sobre nossas
escolhas, nossas emoções e nossas ações, a partir de referências que nem sempre
são positivas, mesmo que nos pareçam corretas.
Agora que
entendemos esse princípio, o que fazemos com essa consciência?
O cérebro tem a função de nos manter
vivos, para isso ele está o tempo todo encontrando formas de poupar desgastes
nas peças que nos compõem. Ou seja: tudo o que fazemos ele tenta transformar em
padrões, porque economiza energia ao evitar criar novas sinapses, e isso pode
ser bem ruim, caso não estejamos conscientes do que escolhemos e do que ele
escolhe.
Quando pensamos em identidades, seja de
uma pessoa ou de uma marca, sempre associamos às cores. Vamos fazer um jogo
rápido: no setor bancário do Brasil, veja que logos vêm a sua mente: o
amarelinho, o vermelho, o laranja com azul, o roxo, e por aí vai.
A mesma coisa acontece com as pessoas:
nosso cérebro cataloga, define uma sequência de cores que reconhece, e só
consegue incluir uma nova cor a partir de novas referências. Uma pessoa nascida
em regiões latinas, muitas vezes, irá estranhar a pele e os traços de uma
pessoa oriental; assim como uma pessoa nórdica será notada por sua cor de pele,
cabelo e provavelmente pela cor dos olhos em regiões indígenas ou povoadas por
afrodescendentes, que tendem a ter olhos, peles e cabelos escuros.
Todas essas cores são parte da
pluralidade que somos e, quanto mais conhecemos e agregamos, melhor! Então, por
que a diferença da cor tem de ser um marcador social que nos separa?
Assim como entre as marcas, a cor de
pele das pessoas tem uma identidade social no inconsciente coletivo, construída
por anos. O termo interseccionalidade explica que são os marcadores sociais que
nos diferenciam, ou seja, enquanto raça – que está atrelada a características
fenotípicas como em sermos “hominídeos”2, todos somos iguais. No entanto, enquanto seres sociais, o
que nos difere são nossas etnias, que são um conjunto de marcadores, tais como
os fatores culturais, a nacionalidade, a afiliação tribal, a religião, a língua,
o CEP em que moramos, a idade, o gênero, a classe social, as tradições, entre
outros atributos dos grupos em que convivemos.
Dentro desses modelos que nossa mente
constrói a partir de referências, se não convivemos com pessoas diversas, todas
que não seguirem os padrões que temos nos parecerão estranhas, talvez
assustadoras, ou até mesmo “selvagens”, “exóticas” ou “passíveis de genocídio”
porque são diferentes. Um exemplo são algumas culturas que, ainda hoje, deixam
crianças que nascem com deficiência abandonadas para morrer, e outras em que
pessoas com a pele albina são usadas em sacrifícios por serem “mágicas”3.
Todos esses
modelos são construídos, e a melhor parte desta análise é: eles podem ser
desconstruídos e substituídos. Vários estudiosos apontam que podemos
mudar o que pensamos. Por exemplo: é possível modificar um hábito. Se você de
forma consciente mapear o que faz e que está te trazendo um resultado que
deseja mudar, pode escolher pelo que deseja trocá-lo e começar a praticar o
novo. Sem dúvida, não será confortável e vai gerar alguns momentos de cansaço e
talvez de ansiedade, mas persista, abra-se para tentar. No livro “O poder do
hábito”, o escritor Charles Duhigg faz uma observação sobre como parou de comer
rosquinhas e ficou mais magro apenas mapeando o que fazia4. Em etapas, ele avaliou os porquês, até descobrir tudo o
que fazia, e identificar o que realmente queria, que era conversar com os
amigos. O café e a rosquinha eram apenas parte da atividade e não o fim. Ao
criar um outro hábito sem os alimentos, atendia à sua necessidade de convivência e retirava o que não
precisava e que estava lhe fazendo mal. Então, tudo na vida é uma questão de
escolhas. Aí eu te pergunto:
Quando queremos conhecer pessoas que
estão empenhadas em melhorar o mundo e a sociedade, vamos a bares ou ONGs?
Quando queremos conhecer novas culturas,
aprender coisas novas para sermos mais conscientes de como podemos fazer a
nossa parte para melhorar a sociedade, continuamos fazendo sempre as mesmas
coisas? Isso irá mudar algo?
Quando tiramos um tempo e/ou parte do
que recebemos por nosso trabalho e ajudamos a pintar um local que abriga
pessoas vulneráveis, estamos investindo em qual tipo de capital? Investindo em
qual tipo de sociedade?
Essas perguntas não teriam fim, mas vou
fechar este artigo deixando outras perguntas para você: quando entendemos que,
sendo omissos quanto às situações dolorosas a nossa volta – muitas promovidas
pelo marcador social da cor de pele –, estamos todos de alguma forma permitindo
que os ciclos de opressão e violência continuem a existir? Por conta de
sermos pessoas diferentes, a cor da pele faz a diferença?
*Samanta Lopes
é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência de live marketing – uma@nbpress.com
Sobre a um.a
Com mais de 26 anos, a um.a
#diversidadeCriativa está entre as mais estruturadas agências de live marketing
do Brasil, especializada em eventos, incentivos e trade. Entre seus principais
clientes estão Pearson, IBGC, SBT, ABRH-SP, dentre outros. Ao longo de sua
história, ganhou mais de 40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes
da área de eventos.
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