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Comunidades de artesãos utilizam e-commerce para gerar renda e manter suas tradições culturais

Ofício passado de geração a geração ganha força por meio de parcerias com lojas virtuais que aumentam visibilidade e renda

Mariana de Oliveira, fundadora e curadora do e-commerce Etnias Mundi

Sem poder receber turistas por quase dois anos durante a pandemia, comunidades tradicionais de artesanato foram forçadas a repensar suas estratégias para a geração de renda, como por exemplo, a busca do e-commerce como forma de escoar as mercadorias. Por meio de parcerias com curadores e profissionais de e-commerce, algumas comunidades não apenas mantiveram a produção em alta, como ainda ganharam novos mercados, sobretudo além de seus limites geográficos.

Segundo dados da Neotrust, consultoria de análise de dados do mercado digital, o e-commerce brasileiro tem a projeção de crescer cerca de 9% em 2022, chegando a um faturamento de R$ 174 bilhões, e um dos setores que mais cresceu nos últimos dois anos foi o de Casa e Decoração que, segundo uma pesquisa da plataforma NuvemShop, teve uma alta de 300% no número de pedidos em 2020 e 2021.

Com olhar atento para a produção artesanal e para o crescimento do setor no Brasil durante o período, a empresária Mariana Oliveira, 38 anos, fundadora e curadora do e-commerce de artesanato Etnias Mundi, ampliou suas parcerias com artesãos de 35 grupos em cerca de 11 países. “Em um período em que essas comunidades tiveram um forte impacto econômico, as vendas online passaram a ser a principal fonte de renda de artesãos, mas como boa parte deles não estava habituada com o uso de lojas virtuais, os parceiros têm cumprido esse papel", revela.

Com crescimento da loja de 80% em 2021 e mais de 5 mil produtos vendidos, Mariana percebeu que a geração de renda incentiva os mais jovens a continuarem as tradições iniciadas pelos pais e avós. “Uma vez que eles veem os pais ganhando melhor, eles até saem para buscar por qualificação e cursos universitários, mas voltam e passam a usar esse conhecimento para gerenciar os negócios que normalmente são familiares”, afirma.

É o que tem acontecido em Santarém, no Pará. Convivendo diariamente em torno do artesanato, Niete Rego, 29 anos, atual diretora da Associação Trançados do Arapiuns (AARTA), tomou gosto pelo ofício por influência da mãe, a artesã Neida Pereira, 52 anos, que foi uma das fundadoras da associação. “Hoje, eu faço a gestão de 120 artesãos de oito comunidades em torno do Rio Arapiuns e, quem sabe, em algum momento pode ser que minha filha, que hoje tem 10 anos, assuma esse papel de levar nossa cultura adiante ”, revela.

Para ela, a participação dos mais jovens é fundamental. “Acabamos tendo mais facilidade com a tecnologia e, com isso, conseguimos estar mais atentos às possibilidades de parceria. Além dos e-commerces ajudarem com o escoamento da nossa produção, eles acabam trazendo novas ideias e nos divulgam, levando o nosso trabalho a locais que muitas vezes nem conhecemos", completa Niete.

Nascido e criado na Aldeia Kaüpana, no Alto Xingú, Mato Grosso, o artesão indígena Waxamani Mehinako, 27 anos, é filho e irmão de exímios artesãos. Trabalhando em parceria com a Etnias Mundi desde 2019, ele desenvolve telas e remos pintados à mão com grafismos que remetem às histórias das nove etnias que compõem o Parque Nacional do Xingu. Segundo ele, a parceria com a Mariana o ajuda a chegar a públicos que ele não consegue atingir. “É uma fonte importante de geração de renda para a nossa comunidade, o que nos permite ter mais recursos para investir no desenvolvimento da aldeia de acordo com as nossas tradições”, afirma.

Trabalhando com apenas três lojas, sendo duas físicas e uma virtual, o artesão ressalta que muitas outras o procuram para parcerias, mas que algumas propostas desvalorizam o seu trabalho. “O lojista precisa colocar o valor cultural acima do monetário e entender que este é um trabalho feito à mão, é um processo que leva dias para ficar pronto e, além disso, carrega a história do nosso povo, por isso eu recuso lojas que não entendem isso e que querem determinar os nossos preços”, completa.



Loja: www.etniasmundi.com

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