De olho na previsão do tempo para evitar perdas na piscicultura
Tarcila Silva
Éder Comunello
Luis Inoue
Laurindo Rodrigues
Carlos Ricardo Fietz
Pesquisadores Embrapa Agropecuária
Oeste
Dourados, MS
agropecuaria-oeste.imprensa@embrapa.br
Impactos
do clima na piscicultura
Tal como a
agricultura brasileira, a maior parte da pecuária nacional também é conduzida a
céu aberto. Essas atividades ficam sujeitas às condições climáticas e, embora
muitas vezes se assuma o clima tropical/subtropical como altamente favorável,
ele é o principal responsável por perdas no processo de produção, trazendo
grande risco a essas atividades.
Em algumas
explorações pecuárias nem sempre visualizamos de imediato como essa atividade
poderia ser vulnerável ao clima. É o caso da piscicultura. Afinal, poderíamos
pensar que a criação estaria protegida por uma massa de água. Ocorre que nas
condições de campo, em ambiente aberto, os diversos fatores e elementos irão
alterar as características desse corpo d’água e, portanto, as condições
ambientais a que os peixes estão submetidos.
As chuvas,
por exemplo, podem influenciar diretamente no nível de tanques e reservatórios,
de modo a alterar a concentração de partículas e nutrientes e afetar
significativamente os parâmetros de qualidade da água. Chuvas escassas podem prejudicar o abastecimento dos tanques, ao passo
que chuvas muito intensas podem causar danos pelo rompimento de diques ou
extravasamento do corpo hídrico.
A
temperatura também pode atuar sobre os parâmetros de qualidade da água,
principalmente no que se refere ao oxigênio dissolvido, que se reduz sob altas
temperaturas e pode levar à mortandade de peixes. Todavia, o maior efeito da
temperatura se dá sobre o metabolismo dos peixes, já que a temperatura corporal
desses organismos é diretamente dependente da temperatura do meio.
Temperaturas
fora da zona de conforto são extremamente
prejudiciais. A exposição prolongada dos peixes às temperaturas baixas os torna
mais susceptíveis aos parasitas e doenças e podem até causar morte súbita,
especialmente quando consideradas espécies de clima quente.
A
amplitude térmica é um ponto de especial preocupação, uma vez que os peixes são
pouco tolerantes às variações abruptas, podendo se estressar facilmente e ficar
mais vulneráveis e desenvolver problemas sanitários. Os animais em geral têm um nível
considerável de tolerância às mudanças ambientais. Entretanto, há complicações
quando essas mudanças tendem a ser abruptas e inesperadas.
Com a
chegada do outono ocorrem mudanças significativas nas condições ambientais.
Contudo, o agravante é o comportamento irregular do clima registrado nos últimos
anos.
Ações de manejo e mitigação
A
previsão para o ano em curso é de perpetuação do fenômeno La Niña até o início
da primavera (setembro/outubro). Embora as previsões possam mudar no
transcorrer dos meses, devemos mencionar que as previsões climáticas (longo
prazo) têm tido um elevado nível de acerto. O mesmo já não ocorre com as
previsões do tempo (curto prazo) que têm sido bastante afetadas pela condição
de La Niña.
Assim,
os cuidados com a produção, que já deveriam ser tomados com a chegada do outono
(20 de março), deverão ser redobrados, especialmente pela indicação de um
período com frio mais intenso. Ainda teremos períodos relativamente
amenos, mas intercalados com ondas de frio. As baixas temperaturas
chegarão mais cedo e serão mais intensas e duradouras. A expectativa é de que
esses eventos passem a ocorrer já no final de abril e início de maio e perdurem
pelos meses seguintes, abrindo possibilidade de geadas tardias, lá pelos meses
de agosto e setembro.
Embora
já existam iniciativas para o cultivo protegido de peixes, a realidade brasileira
ainda é a criação em ambiente externo (outdoor). Portanto, uma estratégia
para reduzir as perdas na piscicultura seria garantir a chegada dos peixes ao
período mais crítico de temperatura em boa condição sanitária e adotar
densidades populacionais menores. O monitoramento e controle da qualidade da
água é um ponto chave nessa estratégia.
Sabe-se
que por uma questão religiosa há um grande consumo de peixes na época de
Páscoa. Então, pode-se considerar a possibilidade de um abate intensificado
nesse período para reduzir a população dos tanques, mesmo que os peixes estejam
em tamanho inferior ao desejado. Reduzindo o número de animais, também se reduz
a demanda por água, que é mais escassa nesse período. A despeito da menor
oferta, é fundamental manter a renovação e controle dos parâmetros
físico-químicos da água. Contudo, deve-se atentar para essa operação não
reduzir ainda mais a temperatura da água nos períodos frios.
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Caso o pH estiver abaixo de 6,5, a alcalinidade e a dureza abaixo de 20 mg/L
fazer uma calagem (seguindo acompanhamento e recomendações de um técnico),
preferencialmente com calcário agrícola, para favorecer o efeito tampão, ou
seja, os peixes não suportam grandes oscilações diárias de pH. Assim, bons
níveis de alcalinidade e dureza ajudam nesse processo. Mas é preciso ter
cautela, pois o aumento de pH está relacionado com a toxicidade da amônia. Além
do efeito tampão, os bons níveis permitem tratamentos da água do viveiro, para
controlar patógenos, caso necessário.
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Cuidados com a alimentação: fornecimento de ração completa e balanceada, com
cuidados redobrados para não haver sobras. Se possível, fazer uso de rações com
aditivos que aumentem a imunidade, tais como probióticos, suplementação em
vitamina C, entre outros.
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Aumento do volume de água do tanque para evitar as variações bruscas na
qualidade de água, principalmente, a temperatura. Assim, em caso da construção
de novos viveiros e na reforma dos atuais, é recomendado considerar a
possibilidade de priorizar tanques mais profundos (2 a 2,5 m) para permitir um
volume de água que mantenha os peixes mais confortáveis;
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Uso de aeradores para manter os níveis de oxigênio dissolvido e auxiliar na
desestratificação da água. Em períodos muito quentes pode haver a separação em
camadas térmicas da água e a proliferação de fitoplâncton. Já no inverno, deve
ser verificada a pertinência do uso dos aeradores à noite, já que favorece a
diminuição da temperatura da água. Assim, a decisão deve ser tomada para não
ter efeitos indesejáveis.
Uma vez instaladas as doenças no lote como um todo, os tratamentos são complexos e sem garantia de eficiência total, além de algumas vezes serem caros e com dependência de medicamentos importados. Assim, dependendo do nível, os danos podem ser irreversíveis.
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