Guerra na Ucrânia: bem-vindos ao admirável mundo velho
Por Marcelo Marçal*
Notícias recentes fazem crer que o mundo
caminha para a tão esperada volta à normalidade. As medidas de isolamento com
relação à Covid-19, vem sendo abandonadas nação a nação. Talvez não seja sem
tempo, a história dirá.
A história também nos ensinou, que alguns
dos maiores passos dados pela humanidade, ocorreram após grandes tragédias. Foi
assim com todas as grandes guerras, grandes recessões ou grandes opressões, e
ainda há que se relevar, que a pandemia aproximou as pessoas por todo o
planeta, de uma forma inédita, nunca vista em nenhuma outra grande crise
humanitária.
O sofrimento em comum fez também surgir
o esforço em comum. O mundo se uniu para encontrar soluções, para cooperar,
para se solidarizar. Existiu algum outro momento em que a voz mundial foi quase
uníssona na busca pelos mesmos objetivos?
Essa união foi a maior responsável por
melhorias significativas em áreas estratégicas. Na área médica, os processos
para o desenvolvimento de vacinas evoluíram em um ano, o que demoraríamos dez
anos para alcançar. Isso terá impacto expressivo em outras pandemias ou
endemias. Os estudos para entender o vírus que assolava a humanidade,
proporcionaram avanços no combate a outros vírus como o HIV, além do acesso a
tecnologias que permitirão novas abordagens no combate ao câncer.
Na área de comunicação, tecnologias
foram desenvolvidas para possibilitar o trabalho remoto. Ocupações de grandes
espaços de escritórios foram revistas, podendo impactar positivamente na
produtividade e qualidade de vida das pessoas, especialmente após necessários
ajustes, como o correto controle do tempo trabalhado, para não penalizar
aqueles que optaram por trabalhar em suas residências.
Então, devemos sair fortalecidos e um
novo horizonte se abre frente aos nossos olhos. Será? Quando abro o jornal,
percebo que a pandemia não ocupa mais as primeiras páginas, substituídas por
notícias da Guerra na Ucrânia, como se todo esforço tivesse sido esquecido,
apagado. Como se tivéssemos, simplesmente, voltado a um velho e conhecido
normal.
A história não costuma errar. Resta
saber se ainda existe espaço para o tão falado “novo mundo” e se extrairemos
dessa tragédia algo que nos torne melhores, ainda que seja através de um
pequeno passo dado em direção a um futuro mais justo e solidário.
*Marcelo Marçal é escritor, médico nefrologista e gestor em saúde é autor da distopia ICTUS - O prisioneiro sem nome.
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