Ondas de calor e a perda de abelhas
Por Aldo
Machado dos Santos, presidente da Coapampa e apicultor, Heber Luiz Pereira,
doutor em Zootecnia e apicultor, e Lucilene de Mattos Almeida, zootecnista e
técnica no Senar-RS.
A colônia de
abelhas é considerada um superorganismo, isto porque estes insetos sociais mantêm
a temperatura interna do agrupamento (cluster) estável independente da
temperatura externa através de mecanismos termorregulatórios, assim como um
animal de “sangue quente”. Essa regulação de temperatura com o objetivo de
manter a estabilidade assim como ocorre com outros animais, demanda energia e
nem sempre os esforços são suficientes ante as adversidades climáticas.
Sabemos hoje
que quando a temperatura ultrapassa os 35ºC as abelhas necessitam de mais água
para a termorregulação interna das colônias, porém em um período de seca as
fontes de água se tornam escassas ou de difícil acesso para essa e outras
atividades, influenciando diretamente sob o desenvolvimento das colmeias.
Temperaturas
máximas superiores à média usual para a época, juntamente com a seca que
estamos vivenciando nesse verão, trazem uma debilitação das abelhas que
acabaram tendo suas crias mortas por desidratação já na primeira onda de calor
do ano.
Altas e baixas
temperaturas são consideradas um dos principais fatores de abandono de
colmeias, obrigando as abelhas a ir a procura de um lugar com temperaturas
dentro do padrão de estabilidade. Esse fator foi observado na segunda onda de
calor que ocorreu neste ano, em que grande parte das colônias que estavam no
sol acabaram abandonando seus ninhos, deixando grande quantidade de alimento
para trás.
É por esse
motivo que muitos apicultores ao visitar seus apiários se deparam com uma
grande quantidade de abelhas mortas em frente ao alvado, caixas sem abelhas com
apenas reserva alimentar e até mesmo alguns pequenos enxames com a rainha
sentados em galhos próximos aos apiários.
Abelhas mortas
em frente ao alvado são características que se assemelham com a mortalidade por
agroquímicos, contudo, a ausência de informações concretas sobre boas práticas
apícolas, são grandes limitantes para a saúde das colmeias, principalmente no
que diz respeito ao controle da temperatura e alimentação dos enxames, por
isso, obter conhecimento técnico científico na área influencia positivamente na
produtividade e desenvolvimento apícola.
Com o objetivo
de avaliar mecanismos que mantém as condições climáticas dentro de limites
específicos favoráveis às abelhas, um experimento está sendo conduzido nos
Apiários São Gabriel. Para isso, foram utilizadas mantas térmicas de dupla face
como uma subcobertura entre os favos e a tampa e até mesmo entre os favos e o
alimentador de superfície, contudo, esta última opções só é válida desde que o
alimentador esteja vazio fazendo com que a manta reflita melhor o calor.
O uso das
mantas térmicas indicou resultados satisfatórios, pois reduziu a saída de
umidade e auxiliou na manutenção da temperatura interna da colmeia, facilitando
o trabalho das abelhas com a sua termorregulação, assim as colônias testadas
mantiveram sua produção mesmo estando diretamente sob o sol.
A manta
térmica pode ser encontrada em qualquer loja de materiais de construção, sendo
disponível em rolos de até 50m e tendo um custo inferior a R$ 5,00 por colmeia.
Logo é uma estratégia viável para manter as colônias em períodos com condições
climáticas desfavoráveis, tanto sob temperaturas acima como abaixo do ideal,
pois a manta ajuda na redução da troca de calor com o ambiente externo além de
ser impermeável, mantendo a umidade adequada para a saúde da colônia.
Os efeitos das
ondas de calor advindas de variação climática também foram observados na região
noroeste do Paraná, impactando diretamente sobre as colônias de abelhas, onde
no início do verão, quando havia gotas de orvalho sobre folhas de gramíneas,
era possível observar abelhas buscando água diretamente do orvalho logo ao
nascer do sol, comportamento esse que leva a colônia a um gasto energético
excessivo e as tornam mais susceptíveis a acessar áreas mais distantes com
maior risco de exposição a defensivos agrícolas, maior desgaste das abelhas
campeiras, reduzindo sua longevidade e maior chance de abandono da
colmeia.
Apicultores do
Mato Grosso do Sul também relataram que tiveram problemas de produtividade e
abandono de colmeias devido as alterações climáticas.
Por isso, para
auxiliar o apicultor a reduzir os problemas com as colônias no que diz respeito
as condições climáticas, listamos alguns fatores que contribuem para a
manutenção da temperatura, como:
- O
local de instalação do apiário, esta escolha deve considerar a variação de
temperatura da região e tentar optar por locais parcialmente sombreados
que incida o sol da manhã;
- Disponibilidade
de água, deve estar o mais próxima possível do apiário, ser limpa e
protegida (evitando que caiam detritos nela);
- Cuidados
de manejo, como o uso e retirada de redutor de alvado, cobertura sobre a
colmeia, adequação do espaço interno da colmeia e uso de isolantes como a
manta térmica apresentada neste artigo.
Prezar pelo bem estar da colônia significa menor gasto energético, com consequente maior estoque da energia que sobra na forma de mel. Menor taxa de abandono e perda de colônias significam maior sucesso na atividade de criação de abelhas. Atente-se as condições de seus apiários.
Aldo Santos |
Heber Pereira |
Lucilene Almeida |
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