Pesquisa da PwC e Locomotiva revela como desigualdade no acesso à internet, infraestrutura e educação pode comprometer o futuro do país
Segundo estudo, investimento na qualificação
digital dos trabalhadores pode adicionar pelo menos US$ 6,5 trilhões ao PIB
global até 2030 e criar 5,3 milhões de empregos; apenas 20% da população
brasileira têm acesso de qualidade à internet, recurso fundamental para
educação e desenvolvimento profissional
Marco Castro |
Belo Horizonte, 24 de março de 2022 – A desigualdade de acesso à internet, a
infraestrutura inadequada e a educação deficitária limitam dramaticamente as
opções de futuro para o Brasil no contexto da transformação do mercado de
trabalho. Embora investimentos em qualificação digital possam aumentar
significativamente o PIB global e criar milhões de empregos, o abismo digital
ameaça deixar o país para trás, sofrendo consequências como o aumento da
informalidade no mercado de trabalho, redução da produtividade, atraso no
desenvolvimento humano e profissional e redução no acesso a serviços públicos
oferecidos cada vez mais por meios digitais. Esta é a conclusão do estudo “O
abismo digital no Brasil”, realizado pela PwC Brasil em parceria com o
Instituto Locomotiva.
A pesquisa revela que, embora 81% da
população brasileira acima dos 10 anos tenham acesso à internet, somente 20%
contam com uma conexão de qualidade. Além disso, 58% dos brasileiros acessam a
internet exclusivamente via smartphone, o que limita ainda mais o uso de
recursos digitais para informação, aprendizado e utilização de serviços. De
acordo com o estudo, esse quadro limita drasticamente o acesso aos benefícios
que a rede oferece, dificultando processos educacionais e, consequentemente,
ameaçando fechar as portas do mercado de trabalho para grande parte da
população.
O estudo apresenta um Índice de Privação
On-Line, mostrando que a falta de qualidade no acesso à internet impacta
principalmente as classes C, D e E e a população negra —uma parcela dos
brasileiros que passa grande parte do mês sem conexão—, enquanto menos de um
terço da população pode ser considerada plenamente conectada (sobretudo brancos
das classes A e B).
Entre as principais razões para a
dificuldade de acesso à internet estão a baixa qualidade do sinal e o alto
custo dos planos e dos equipamentos. A pesquisa demonstra que a infraestrutura
é deficitária em todo o país, mas que o problema é mais grave em regiões
periféricas, já que, quanto menor a disponibilidade de infraestrutura
(antenas), menor a velocidade de conexão. Dados do movimento Antene-se
apresentados no estudo indicam esta defasagem de infraestrutura em todas as
capitais do país.
Além disso, o estudo aponta que 13,5
milhões de domicílios têm conexão de banda larga móvel via modem ou chip, sendo
que 9 em cada 10 destas residências pertencem às classes C, D ou E. Esse tipo
de conexão é mais lenta e de menor qualidade em comparação com a internet via
cabo.
O alto preço dos serviços também foi
apontado por 68% dos participantes da pesquisa como a principal causa para a ausência
de redes de internet em casa. Ilustrando esse quadro, os usuários com renda
acima de 25 salários-mínimos gastam mais de 30 vezes mais com telefone,
internet e TV do que os usuários com renda de até dois salários mínimos.
“O abismo digital nos impede de
aproveitar a enorme oportunidade representada pelas vagas de emprego que surgem
com a tecnologia e nos deixa para trás em relação ao mundo, afetando nossa
economia com a atração de menos investimentos por causa dessa falta de mão de
obra qualificada. É preciso mudar essa realidade urgentemente para
garantir tanto uma economia mais robusta como uma população mais bem preparada
para o mercado de trabalho dos próximos anos”, afirma Marco Castro,
sócio-presidente da PwC Brasil.
“No momento em que discutimos um futuro
dominado por dados, automação e algoritmos e pelo trabalho remoto, que
oportunidades estamos criando para milhões de cidadãos que não têm acesso às
condições básicas para adquirir as competências digitais? Com esse estudo,
procuramos tornar mais concretas e aprofundadas as informações sobre a
desigualdade digital de que todos falam. Esperamos que a pesquisa incentive o
debate sobre a inclusão digital no Brasil e ajude a fundamentar decisões de
políticas públicas e iniciativas privadas que ampliem as oportunidades para os
brasileiros em um ambiente cada vez mais digital”, destaca Castro.
Efeitos na educação
O estudo mostra um quadro preocupante no
sistema educacional, anterior ainda ao processo de digitização. Os estudantes
brasileiros têm um dos piores desempenhos do mundo em matemática, leitura e
interpretação de textos. Além disso, 87% dos brasileiros não falam um segundo
idioma e apenas 9% dizem falar inglês. A pesquisa alerta que deficiências de
interpretação de textos e raciocínio lógico dificultam a aquisição de
conhecimentos e habilidades para explorar as oportunidades do ambiente
on-line.
A falta de acesso à tecnologia na
maioria das escolas brasileiras é também um dos maiores problemas da educação,
que influenciará diretamente na geração de talentos nos próximos anos. O índice
de conexão é menor entre os estudantes de escolas públicas em comparação com a
rede privada –o que acentuou ainda mais o déficit de ensino na rede pública
durante a crise sanitária. Hoje, 21% dos alunos matriculados em escolas
públicas da educação básica não têm acesso à banda larga, essencial para o
ensino virtual. Isso significa que mais de 8 milhões de estudantes estão
desconectados.
Na pandemia, a situação dos alunos sem
acesso tecnológico para acompanhar as aulas piorou, aumentando a disparidade já
existente em relação aos jovens na rede privada. Entre os alunos sem computador
em casa em áreas urbanas, 39% estudam em escolas públicas, ante apenas 9% do
ensino privado.
“O gap de acesso à internet que vimos
neste estudo tende a perpetuar as desigualdades sociais que o Brasil sofre
hoje. Vimos que o internauta brasileiro está muito longe do estereótipo de um
perfil jovem de classe média plenamente conectado”, diz Renato Meirelles,
presidente do Instituto Locomotiva. “O abismo digital tem rosto. Ele é negro,
pobre e mais velho. Por isso, precisamos que políticas públicas sejam
promovidas para mudar essa realidade e reduzir a desigualdade”, completa.
Qualificação digital impulsionará o PIB
O estudo contextualiza que, com o avanço
da inteligência artificial e da automação, funções tradicionais no mercado de
trabalho estão sendo eliminadas ou substituídas em todo o mundo. Ocupações que
representavam 15,4% da força de trabalho global em 2020 encolherão para 9% até
2025. Já a participação das novas profissões (como analistas de dados e
especialistas em inteligência artificial) quase dobrará, passando de 7,8% para
13,5% da base total de empregados no mesmo período.
A diferença entre o número de vagas a
serem preenchidas e a dificuldade das empresas de encontrar profissionais
qualificados é outro ponto de destaque da pesquisa. Entre os entrevistados, 76%
afirmaram que, sem internet, é muito difícil se candidatar a uma vaga de
emprego. Para 73% quem não sabe usar a internet não consegue uma boa colocação
no mercado.
Segundo análise realizada pela PwC para
o Fórum Econômico Mundial, o investimento acelerado na qualificação digital dos
trabalhadores pode adicionar pelo menos US$ 6,5 trilhões ao PIB global até 2030
e criar 5,3 milhões de empregos (líquidos). Os países da América Latina estão
entre os que mais podem se beneficiar desse movimento, com um aumento médio de
7,7% no PIB da região.
Sobre a PwC
Na PwC, o nosso propósito é construir
confiança na sociedade e resolver problemas importantes. Somos um Network de
firmas presente em 156 países, atuando no Brasil há mais de 100 anos, dedicados
à prestação de serviços integrados em auditoria e asseguração, consultoria
tributária e societária, consultoria e assessoria em transações. Saiba mais
sobre a PwC e nos diga o que é importante para sua empresa ou carreira,
visitando nosso site: www.pwc.com.br
Sobre o Instituto Locomotiva
Fundado em 2016, o Instituto Locomotiva nasceu para transformar dados em estratégias e ações para que empresas, instituições públicas e organizações do terceiro setor dialoguem com uma população cada vez mais informada e exigente. O instituto desenvolve pesquisas e estudos com variadas metodologias, colocando-se ao lado dos cidadãos e consumidores como porta-voz de suas demandas.
Nenhum comentário