A importância de receber dividendos… na hora certa!
Artigo de Fabio Sobreira, colunista do Denarius
(Boletim Econômico Financeiro da FIPECAFI)
Dentro de todos os indicadores que os
investidores gostam de ver quando escolhem suas ações para investirem na Bolsa,
o dividend yield, que são os dividendos distribuídos nos últimos 12 meses
divididos pelo preço atual da ação, é certamente um dos mais importantes,
principalmente para aqueles investidores que pretendem viver da renda de seus
investimentos.
O fascínio pelos dividendos, em especial
no Brasil, vem do fato dos mesmos serem isentos do Imposto de Renda, e serem
uma das formas mais simples de ver o quanto a empresa está retornando para o
bolso do acionista, de todo o valor que foi investido.
Tudo isto de fato são vantagens enormes
e não há como negar a importância dos dividendos na análise de boas empresas,
quando estas estão na fase de distribuir dividendos.
E aqui começamos uma confusão feita por
muitos investidores menos experientes, influenciados muitas vezes por matérias
do tipo “clickbait”, que convocam pessoas inclusive a comprar ações perto da
data ex-dividendos para que estes possam se aproveitar dos ganhos desta
distribuição.
Mas fato é que, quando estes são
distribuídos, eles são descontados do preço da ação, não gerando, portanto,
qualquer ganho para o acionista, além dos já mencionados acima, que são o
melhor controle e a isenção tributária, principalmente.
Peguemos o exemplo da Vale (VALE3), que
anunciou R$ 8,20 de dividendos para quem estivesse posicionado em seus papéis
até o dia 22/09/2021, fechando o dia com a cotação de R$ 87,11. Este valor,
porém, foi automaticamente ajustado ao final do pregão para algo em torno de R$
78,91, após o desconto dos dividendos pagos.
Isto significa que o investidor de VALE3
amanheceu no dia seguinte, teoricamente, com R$ 8,20 por ação a mais na conta
da corretora e R$ 8,20 a menos em seus investimentos na Vale. É o famoso “tirar
de um bolso para colocar no outro”.
E, ao contrário do que muitos pensam e
espalham por aí como se fosse verdade, uma empresa, à exemplo da Vale, não vale
somente o que valem seus papéis. O caixa é uma conta importante nesta
avaliação, já que ele pode tanto ser utilizado para reinvestimentos, quanto
para uma distribuição como esta.
Fato é que a Vale possuía, segundo
balanço do segundo trimestre de 2021, cerca de R$ 68 bilhões em caixa e
resolveu distribuir R$ 40 bilhões em dividendos aos seus acionistas. Não é
difícil imaginar, portanto, que uma empresa que possui R$ 40 bilhões a menos
vale menos do que valeria se mantivesse o caixa em seus cofres.
Se colocarmos este exemplo no cotidiano
de empresas menores, a padaria do Joaquim com um caixa de R$ 10 mil vale mais
do que valeria se o Joaquim tirasse todo o dinheiro do caixa antes de lhe
vender o negócio.
Dividendo não é bônus, assim como os
juros sobre capital próprio ou até mesmo os chamados bônus, ou bonificação de
ações. Todos eles acabam tendo o mesmo efeito de correção nas cotações das
empresas, o que não gera qualquer benefício aos acionistas.
“Mas então, por que grandes
investidores, como o Luiz Barsi, por exemplo, gostam tanto de empresas que
geram dividendos?” – alguns questionam. E a resposta é simples: Se uma empresa
é uma boa pagadora de dividendos e paga dividendos constantes, significa
provavelmente que ela gera Lucro e Caixa constantes, o que torna esta empresa
atraente em muitos sentidos.
Podemos então pensar que o Lucro, ou o
Caixa gerado pela empresa, que são os fatos geradores dos dividendos, são o que
importa no final das contas, para quem pensa em ser sócio, tanto da Vale, quanto
da padaria do Joaquim.
A distribuição deste caixa é apenas uma
mera realização dos lucros transformados em ganhos para os sócios, que o
gastarão como quiserem, até mesmo podendo reinvestir no mesmo negócio que
resolveu distribuir estes lucros.
Neste último caso, que fique claro, você
está recomprando ações de uma empresa que passou a valer menos após a
distribuição dos lucros.
Como exemplo, se você possuísse 100
ações de uma empresa cujo preço é R$ 11 e ela distribuísse R$ 1 de dividendos,
esta mesma empresa passaria a valer R$ 10 por ação. Agora, porém, você tem R$
100 de dividendos no bolso. Se você recompra 10 ações desta empresa com os
dividendos, você passa a ter 110 ações de uma empresa que agora vale R$ 10. Em
efeitos práticos, você continua tendo os mesmos R$ 1.100 investidos na empresa
e a recompra não teria gerado qualquer benefício.
É claro que podemos aqui discutir sobre
os efeitos psicológicos da distribuição de dividendos e como um preço menor
pode causar movimentações nas cotações futuras da ação, mas isso certamente é
tema para um outro artigo.
O mais importante a se entender é:
“Dividendos? Sim, obrigado, mas na hora certa!”. Se uma empresa tem coisa
melhor para fazer com meu dinheiro do que me devolver, que o faça e me
distribua mais dividendos depois com o dinheiro que reteve.
Boas empresas aumentam suas receitas, dão lucro e geram caixa. Distribuir dividendos é um mero detalhe.
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